Lassar surpreendeu-se com o homem em seu quarto àquela hora da madrugada.
- Quem é você? Como entrou aqui? - perguntou agitado.
- Surpreende-me que um homem que sabe tanto de tudo não saiba quem sou...
Com um olhar enigmático, encarou o homem ainda de pijama, em sua cama, e depois de uma breve pausa, prosseguiu:
- Teu livro, meu caro Lassar... Revela uma sabedoria superior, maior do que poderíamos aceitar. Tu demonstras saber tudo de todas as coisas e... bem, não sei como deixamos isso passar. O fato é que, entenda, não posso permitir que permaneças aqui. Terei de levá-lo comigo.
O outro, já menos aturdido e parecendo, de certa forma, compreender a situação, quis saber:
- Você é... Deus?
- Deus, Diabo, ora essa, que diferença faz? Devias saber que, na verdade, é tudo um mais do mesmo. Decepciona-me um pouco por questionar-me isto! Nem pareces o dono do que escreves. Mas vamos lá, - disse apressando-se subitamente - junta tuas coisas e vamos. De mais a mais, isso aqui não é lugar para ti.
- Devo levar alguma coisa? - quis saber, agora já totalmente resignado.
- Juntar as coisas foi modo de dizer. Não precisas de nada além do que levas em tua cabeça... e em teu espírito.
O escritor levantou-se de sua cama e dirigiu-se e foi na direção de uma porta lateral.
- Não me demoro. Em todo caso, vestirei algo mais adequado. É sempre bom estar apresentável, seja no céu ou no inferno.
- Bravo! Mais uma vez, muito sábio. - exclamou, com evidente admiração, o misterioso homem.
Lassar entrou no quarto de banho. A porta fechou-se às suas costas.
Cly Reis
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