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segunda-feira, 9 de maio de 2022

"Drive My Car", de Ryusuke Hamaguchi (2021)

 



Não é um filme para qualquer um. Não no sentido seletivo, que estabeleça alguém como melhor que outro ou com maior capacidade. Me refiro à aceitação, à disposição, ao estímulo. Tirando isso, se você entrar em “Drive My Car” e deixar com ele o conduza, vai perceber que se trata de uma obra muito bem trabalhada e que consegue abordar temas extremanete profundos de uma maneira única.

Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) é um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto (Reika Kirishima), uma linda roteirista com muitos segredos, e com quem divide sua vida, seu passado e colaboração artística. Quando Oto morre repentinamente, Kafuku é deixado com muitas perguntas sem respostas de seu relacionamento com ela e arrependimento de nunca conseguir compreendê-la. Dois anos depois, ainda sem conseguir sair do luto, ele aceita dirigir uma peça no teatro de Hiroshima e vai com seu precioso carro Saab 900. Lá, ele encontra e tem que lidar com Misaki Watari (Toko Miura), uma mulher e chauffeur com quem tem que deixar o carro.

A forma com que o filme vai desenvolvendo seu roteiro e sua velocidade, de maneira bastante lenta, podem ser fatores que afastem o público por assim dizer geral, mais acostumado com roteiros mais dinâmicos e ágeis. Contudo, particularmente, devo afirmar que, pelo contrário, para mim foi um dos pontos altos, bem como seus momentos de silencio, e que não são poucos, tão necessários, mesmo em um filme de 3 horas de duração.

"Drive My Car" consegue abordar tantos temas polêmicos de forma singular! É verdade que alguns de maneira mais superficial que outros, mas estão todos lá; morte, solidão, relacionamento, perda... Nem todos são aprofundados, contudo são apresentados brilhantemente. Uma das maiores qualidade do longa de Ryusuke Hamaguchi é a capacidade de mostrar a importância do diálogo. A peça  encenada dentro do filme é cheia de atores de diferentes partes da Asia, cada um falando um idioma diferente, mas, claro, temos uma japonesa, mas que, no entanto, ironicamente, só fala na língua dos sinais. Até mesmo nas cenas onde não temos diálogos, como o início da relação de Yusuke e  Misaki, muito é dito mesmo em meio ao silencio.

O longa além de artisticamente muito bom, trabalha bem com as simbologias e serve também como objeto de reflexão sobre como lidamos com nossos problemas, se os enfrentamos, se fugimos deles, se fingimos que não existem, ou se simplesmente os aceitamos e deixamos que nos consumam.

Gosto muito também da forma que o filme aborda o luto, a perda, a sensação de não ter mais aquela pessoa na sua rotina. Tudo funciona e é muito interessante como a peça encenada no longa dialoga com a história do filme. E aqui, dialogar é a palavra certa.

Às vezes um bom diálogo não precisa de muitas palavras ditas.


por Vagner Rodrigues


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