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sábado, 20 de julho de 2019

"Carmem & Lola", de Arantxa Echevarría (2018)



Primeiramente, quero deixar claro que não estou tomando lugar de fala, pois o filme é sobre o olhar feminino sobre a sexualidade ou, para ser mais objetivo, a homossexualidade. Por mais que me esforce para entender o drama, a enorme dificuldade das mulheres que passam por essa situação, que é a de se “descobrir” gay, sendo mulher numa cultura machista como a que vivemos em nossa sociedade, na qual me incluo pois ainda tenho inúmeros desafios a superar e me desconstruir, é uma tarefa difícil, assim, o que farei será objetivamente avaliar o impacto da obra em mim, e o que posso dizer, desde já, é que o que vi foi incrível e de grande contribuição para ampliar minha mente. Obrigado, Arantxa Echevarría!
Carmen é uma adolescente cigana que vive na periferia de Madri. Como qualquer outra cigana, ela está destinada a viver uma vida que se repete geração após geração: casar e criar o maior número de filhos possível. Mas um dia ela conhece Lola, uma cigana incomum que sonha em ir para a faculdade, desenha grafites de pássaros e é diferente. Carmen rapidamente desenvolve uma cumplicidade com Lola e descobre um mundo que, inevitavelmente, as leva a serem rejeitadas por suas famílias.
O ritmo do longa pode ser a única coisa que eu faça ressalvas. O segundo ato é um tanto lento, arrastado e algumas cenas e tomadas são repetitivas, o que pode até fazer um sentido para diretora mas para o espectador fica apenas parecendo mais do mesmo.
Ai, ai... É possível dançar numa piscina?
A maneira como o longa trabalha a relação das duas personagens, se descobrindo sexualmente, o início da atração das duas, é muito bonito. Não comete o erro de cair para o lado mais erótico e vai  muito pelo olhar, pelos toque de mãos, numa conversa, como na cena dança no casamento de Carmen, por exemplo.
A narrativa do filme segue na construção do relacionamento das duas de uma manira muito poética e bela até chegarmos no terceiro ato, que é um soco na cara (REALMENTE BEM FORTE). O longa vem retratando toda a realidade dura das mulheres ciganas na sociedade espanhola, privadas de sonhos e objetivos e nesse universo Carmen tem um sonho, de casar e ter filhos mas logo descobre que esse não seu sonho, e sim da sua família. Já Lola, quer estudar, ser professora, porém sofre, pois seu pai é totalmente contra seus objetivos querendo apenas que ela o ajude na feira e encontre um bom homem para casar. No último ato filme a questão religiosa e o pecado fazem o fechamento com chave de ouro. O filme ganha em drama, é tudo muito pesado e a vontade de chorar vem com força.
Pode ser mais uma história de amor mas não é "só" uma história de amor. Mesmo nos dias de hoje, não e fácil explorar o tema da sexualidade no cinema, ainda mais a sexualidade gay. Arantxa Echevarría trabalha muito bem sua história, constrói sua narrativa de maneira simples, sutil, mostrando detalhes como as formas de pássaros espalhados pelo filme, mas quando tem que ser contundente, abordando temas  como da cura gay, ela dá um soco para nos nocautear.
Ótima chance de observarmos uma cultura à qual não temos muito acesso e informação, a do povo cigano, que, se por um lado sempre foi vítima de muito preconceito, dentro de seu segmento, o comete também.
Sorria, chore, apaixone-se, lute e assista “Carmen & Lola”.
A alegria de uma noiva...



por Vagner Rodrigues