O diretor norte-americano Gavin
O'Connor tem uma predileção especial por dramas familiares onde a relação
entre irmãos seja o foco. Assim aconteceu com o filme policial "Força
Policial", onde o tira feito por Edward Norton tem de investigar um
assassinato em que seu irmão e cunhado, também policiais, estão envolvidos.
Depois foi a vez de "Guerreiro", onde irmãos se enfrentam no ringue.
Agora, chega às telas o novo filme do diretor, "O Contador", uma história interessante sobre um contador
autista Christian Wolff (interpretado pelo pétreo Ben Affleck, um dos pontos
fracos do filme) que sempre teve problemas familiares em função de sua doença.
Tanto que a mãe abandona o lar, não conseguindo lidar com os problemas de dois
dos três filhos (a irmã também tem problemas neurológicos). Sozinho, o pai
militar prepara os dois filhos homens para enfrentar os perigos da vida,
levando-os ao treinamento de artes marciais. Ao crescer, o rapaz se torna um
exímio contador com extrema facilidade para a matemática. Logo, esta habilidade
estará a serviço de organizações criminosas, o que atrai a atenção do
Departamento do Tesouro Americano, que passa a investigar o caso.
Como acontece em filmes que lidam com questões financeiras, "O Contador"
carrega o espectador para zonas nebulosas das transações de grandes empresas,
quase tornando a história impenetrável. É aí que reside o interessante no
roteiro de Bill Dubuque. A cada passo em que a história se mostra muito
técnica, entra um flashback que esclarece. Durante todo o roteiro, o espectador
é levado por situações aparentemente sem explicação, que são esclarecidas no
momento seguinte. E apesar de se imaginar que tal artifício vá truncar o ritmo
do filme, acontece exatamente o contrário. Tanto as questões familiares do
passado quanto a dualidade de Wolff, um contador que tem um alto treinamento
físico e de manipulação de armas, ficam bem claras.
Affleck no bom filme de Gavin O"Connor. |
Claro que, num determinado momento, surge uma mocinha, Dana Cummings
(Anna Kendrick, correta mas nada além disso) e dois vilões, o industrial Lamar
Blackburn (o sempre bem-vindo John Lithgow) e Brax (Jon Bernthal), um assassino
de aluguel. A partir daí, "O Contador" deixa de lado as questões
filosóficas e parte para a ação pura. O que poderia ser uma distração ou
concessão ao gosto médio do espectador, se torna um duelo entre Wolff e os
homens contratados por Brax para defender o industrial. Neste confronto, os
irmãos se encontram e os conflitos familiares afloram, dando ao filme um sabor
especial no meio do tiroteio.
Além da direção firme de O'Connor, é de se destacar a música sempre
presente do trompetista Mark Isham e a fotografia de Seamus McGarvey (de
"As Horas" e "Os Vingadores") favorecendo a luz natural.
Mesmo com os dois protagonistas, Affleck e Kendrick, deixando um pouco a
desejar, o elenco de coadjuvantes com Bernthal, Litgow e o oscarizado J.K. Simmons
segura as pontas. Pode-se dizer que "O Contador" é uma boa diversão,
inferior a "Força Policial", mas ainda assim vale o ingresso.
trailer "O Contador"
por Paulo Moreira