Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Débora Blando. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Débora Blando. Mostrar todas as postagens

sábado, 29 de agosto de 2020

Festival M2000 Summer Concerts - Helmet, Fito Páez, Robin S., Anithing Box, Dr. Sin, Débora Blando e Cidadão Quem - Capão da Canoa / RS - (Jan.1994)



A galera no M2000 Summer Festival, festival que rodou diversos lugares do Brasil,
 com diferentes atrações, naquele ano de 1994.
(foto: site da DC Set)
O M2000 Sumer Concert, pra mim, mais que um festival, foi uma aventura! O litoral gaúcho já costumava ter, todo verão, o badalado Planeta Atlêntida, evento que, de um modo geral, sempre baseou seu line-up em atrações, na sua maioria, nacionais de grande apelo popular, mas naquele verão de 1994, uma marca de tênis promovia por, ali mesmo, por aquelas bandas, um festival que se não chegava a ser "alternativo", contava com nomes não tão "batidos" na mídia e de um peso até um pouco maior do que o tradicional evento gaúcho. Se por um lado tinha a "Madonna brasileira", Débora Blando que bombava nas rádios naquele momento com "Innocence" e uma versão de "Decadence Avec Elegance", de Lobão, a acid-house do Anythin Box e a dançante Robin S, por outro tinha nomes como o argentino Fito Páez que embora bastante conhecido está longe de ser um astro pop, o metal progressivo do Dr. Sin que, embora respeitado e reconhecido não era o tipo de coisa que fazia acabeça do grande público, e um tal de Helmet, uns carinhas norte-americanos que eu conhecera havia pouco tempo mas que me encantara com um metal pouco usual de estruturas complexas e um estilo bem despojado e atípico para bandas do seu estilo. Não lembro o que atraiu meus amigos Giuliano e Renê, ou se toparam ir só pelo programa, mas a mim, o que chamava atenção e me fazia querer ir a Capão da Canoa dar uma conferida naqueles shows, sem dúvida, era o Helmet de quem eu, inclusive, já tinha o primeiro álbum, o intenso e arrrebatador "Meantime".
Ok, iríamos os três mas tínhamos alguns problemas: em primeiro lugar tínhamos pouco dinheiro. Tá bom... demos um jeito. Junta um trocado daqui outro dali, segura mais uma semana aquela conta pra pagar, tira daquilo que tava reservado, ede uma ajuda pra mãe e no fim das contas dava pra ir. Tá mas... ir e ficar onde? Não conhecímaos ninguém em Capão da Canoa que pudesse nos dar abrigo e tampouco tínhamos recursos pra alugar uma casa, ficar numa pousada ou algo assim. A solução? Um camping! Ótima solução. Bom, nem tanto... Não tínhamos uma barraca. quer dizer, até tínhamos mas... era só pra duas pessoas. Ok, dois de nós dormiríamos no abrigo de lona e outro ao ar livre num saco de dormir. "Dá pra ser?". Então tá! "Vamos assim mesmo". E fomos.
O festival começava às seis da tarde, então, no dia, pegamos um ônibus na rodoviária de Porto Alegre, ali pelo início da tarde. Tranquilo! Capão fica a mais ou menos uma hora, uma hora e meia da capital, chegaríamos cedo e dava pra procurar um camping e ir numa boa pro show. No busão já fomos "calibrando" com um vinho que o René havia levado. As pessoas só nos olhavam de canto reprovando, por certo, aqueles garotos que passavam aquela garrafa de um lado para o outro pois, além de tudo, não tínhamos conseguido nossos três assentos juntos.
Chegando a Capão da Canoa fomos então providenciar o camping. Se o litoral gaúcho já é repleto de argentinos, com um bom festival e com Fito Páez escalado entre as atrações o que mais tinha na cidade era hermanos e, no camping onde ficamos, não era diferente: só se falava castelhano. Nos entendemos bem, trocamos umas ideias sobre futebol, música e os nossos vizinhos de barraca até nos apresentaram alguns bons sons de metal argentino. Mas era hora de ir para o festival. Tratamos de encher o cantil (e não foi de água) e fomos caminhando até o palco pela beira da praia.
Chegamos!
No início não estava muito cheio pois ainda tocava a banda gaúcha, bem meia-boca, Cidadão Quem, mas, logicamente, conforme ia acabando o horário de praia, ia anoitecendo e as atrações iam melhorando, o lugar ia ficando mais cheio. Acho que nem demos bola pro tal do Cidadão Quem; pelo que lembro só demos uma olhada mais ou menos, meio por cima, no Dr. Sin; ficamos azarando uma garotas durante o show do Anything Box que até ficaram impressionadíssimas com o fato de eu ter ido ao show da Madonna mas, logicamente, incomepotentes como éramos, não tiramos proveito da sensação que causáramos; azucrinamos a vida da Débora Blando plantados na frente do palco, bêbados, chamando a loira de "gostosa", durante praticamente todo o show dela; praticamente apenas ouvimos o bom show da Robin S. de um bar ali perto onde jogamos sinuca e tomamos mais algumas cervejas. Nossa passagem pelo bar merece registro pois lá furei o pano da mesa de bilhar com a minha falta de habilidade para o jogo e o Giuliano levou um tombo, para trás, tentando se encostar numa mureta que não estava onde ele imaginava. Deposi dessa pausa, voltamos para perto do palco para ver o Fito Páez mas, sinceramente teria sido melhor ter assistido ao show da Robin S. que, à distância impressionava pelo vozerio, do que ter voltado para ver o fraquíssimo show do cantor argentino. Depois disso, por fim, de minha parte fui curtir o que me interessava. Não lembro de todos os detalhes do show mas posso garantir que o Helmet não decepcionou. Entraram no palco bem ao estilo deles, de bermudas camisetas, cabelos curtinhos, tão comuns que poderiam ser confundidos com alguns veranistas quaisquer e, olhando para aqueles caras talvez nem desse para imaginar que fossem capazes e produzir todo aquele terremoto sonoro. Foi aquela pegada agressiva e intensa o tempo todo sem deixar a bola cair. Lembro especialmente de ter me surpreendido positivamente pelo fato de terem tocado "Just Another Victim", música que fazia parte da trilha sonora do filme "Judgement Night", e que, originalmente, combinava o metal deles com o rap do House of Pain e, exatamente me surpreendeu a tocarem pelo fato de, ali, não contarem com a parceria dos rappers. Ficou um pouco mais curta, é bem verdade, sem toda a segunda parte, mas ficou uma pedrada.

Helmet - "Just Another Victim" - ao vivo  no sonoria Festival - Itália (1994)
Não há registro da apresentação deles em Capão da Canoa, naquela noite
 mas segue aqui um vídeo da banda tocando "Just Another Victim" ao vivo, naquele mesmo ano,
num festival com mais ou menos a mesma vibe do M2000 Summer Concerts.

E claro, não teria como não lembrar de "Unsung", o "hit" da banda que fez até as menininhas de praia caírem no metal. De minha parte, eu só queria saber de "poguear" e "benguear", tanto que numa dessas balançadas de pescoço, dei uma cabeçada tão forte em outro headbanger que estava ali por perto que me deixou tontofiquei verdadeiramente tonto a ponto de tudo à minha volta começar a girar. A pancada foi tão forte que até hoje tenho uma certa sensibilidade na área do choque e, desde então acho que fiquei com um certo problema de assimilação e fixação. Mas a pancada valeu a pena. Grande show, embora a maioria do público ali, típicos praieiros  esperando por um monte rockzinhos bem palatáveis, não tivesse curtido tanto assim.
Shows terminados, grande festival, agora tudo o que queríamos era voltar para o camping e dormir. A caminhada era longa mas chegamos. O plano era que dormíssemos o René e eu na barraca e o Giuliano, fora, no saco de dormir que ele havia comprado, mas não contávamos com um elemento surpresa: a chuva. Aí não teve jeito. Tivemos que dormir, aqueles três marmanjos, numa minúscula barraca de camping para dois. A tarefa não foi das mais fáceis mas entre cutucões, roncos, pés, apertos, tudo deu certo. Superada a noite desconfortável, agora, pela manhã seguinte, era só juntar as coisas e tratar de voltar pra casa. Mas o que parecia simples não foi tão natural assim. Havíamos torrado praticamente toda a grana em bebidas na noite anterior e pouco havia sobrado em dinheiro vivo, e o problema é que, na época (e lá se vão 26 anos!), embora tivéssemos cartão de banco para saque, não era tão comum ter caixas eletrônicos a cada esquina como acontece hoje, ainda mais em uma localidade litorânea. Aí que não conseguíamos sacar dinheiro para comprar as passagens de volta e tampouco a rodoviária, naquela época, diferentemente de hoje, aceitava pagamentos com cartão. O que fazer? O Giuliano lembrou que tinha uns poucos dólares na carteira mas, com a cotação alta, como nos dias de hoje, aquilo ali renderia uns bons Cruzeiros Reais e, na ausência de uma casa de câmbio aberta em pleno domingo, a solução foi trocar com uns taxistas. Deu certo. Conseguimos dinheiro o suficiente para comprarmos as passagens. Foi ali, ali. Sobrou só uma meia dúzia de trocados e, como não tínhamos almoçado ainda, tudo o que deu para comprar com o que sobrou foi... uma melancia. Foi nosso almoço.
Mas tudo deu certo! Tudo meio improvisado, bem farofada mas deu. Programa de índio? Visto assim com tantos percalços e imprevistos, pode até ter sido, mas são aventuras como essa que fortalecem amizades e garantem boas histórias para se contar depois. E e essa é uma delas. Uma daquelas que sempre vão render risadas e vão ficar para sempre nas nossas memórias.



por Cly Reis
para os amigos Giuliano e René