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quarta-feira, 18 de abril de 2018

Música da Cabeça- Programa #54


Dona Yvone Lara foi sentar-se no trono que a esperava no céu dos sambistas, mas aqui a gente não deixa a batucada parar. Além de homenagear a Rainha do Samba, vamos ter também vários outros gêneros: o rock dos Ramones, o eletro-pop de Towa Tei, a bossa nova de João Gilberto e a soul de Gil Scott-Heron. Mas tem mais também! Para saber, só escutando o programa hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

terça-feira, 17 de abril de 2018

A Dona do Samba

Lembro que nas primeiras aulas de redação da faculdade de Jornalismo, meu professor Vitor Necchi nos ressaltou que a regra para se chamar pessoas num texto jornalístico era ou o nome completo ou, nas repetições do mesmo, o sobrenome para homens e o primeiro nome para mulheres. A exceção à regra eram personalidades especiais, cujo nome diferenciava-se dos outros por si. Casos em que o nome representava mais do que simplesmente uma certidão, mas, sim, um status, uma classificação, uma imposição daquilo que a pessoa se transformara e representara em vida.

Alguns exemplos, rememoro, eram Mãe Menininha do Gantois, Dona Canô e Mestre Marçal. E Dona Yvone Lara. Aos 97 anos, recém completos no último 13, praticamente a mesma idade do gênero musical que ela ajudou a forjar e desenvolver harmônica e melodicamente, o samba, Dona Yvone parte. Corpo debilitado de quem, como todo preto do subúrbio da primeira metade do século XX (e ainda, mulher), precisou trabalhar duro a vida toda – no caso dela, a enfermagem e o serviço social, que exercera durante décadas até se aposentar, sem, contudo, nunca deixar a batucada de lado. Mas a mente lúcida, criativa, incansável. Diz que levou para o céu 40 composições novas.

Mesmo a idade avançada e a saúde fraca há anos não são suficientes para amenizar o vazio que se faz presente. Vazio que toma a quadra do Império Serrano, como uma cuíca chorosa que, de repente, para de chorar, substituída pelo silêncio. Ao menos hoje, é o que se sente. Ficam vagando, no lugar, as melodias elegantes de quem estudara com Heitor Villa-Lobos ,mas que, ao natural, instintivamente, já de antes das aulas com o maestro adicionava elementos bachianos ao samba. Quem haveria de contrariar ao ouvir “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço”, “Confesso”, “A Sereia Guiomar”, “Aprendi a Sofrer”? Como ela, neste sentido, só Cartola.

Acordo sempre com alguma música na cabeça. Sei que havia uma das milhares que me ocorrem ao acordar hoje, mas não lembro mais qual.  Ao saber da notícia da morte de D. Yvonne, imediatamente a esqueci, e minha mente (ou meu coração) escolheu para rodar “Força da Imaginação”, a luxuosa parceria dela com Caetano Veloso. Estão aqui seus acordes e seus versos, ainda agora, enquanto escrevo essas linhas de lamentação. Quero acreditar e acredito nos seus versos:

"Quando um poeta compõe mais um samba
Ele funda outra cidade
Lamentando a sua dor ele faz felicidade
Força da imaginação
Na forma da melodia
Não escurece a razão
E ilumina o dia-a-dia”

Parte, Dona Yvone, com a força da tua música, dos repiques do samba, das melodias bachianas, da potência de fundar uma cidade. Parte com a alcunha que poucos, pouquíssimos, tiveram e terão o merecimento de serem redigidos fora do padrão. É pra quem pode.


Recebam-na com um pagode festivo aí, amigas Jovelina e Clementina.

"Tristeza rolou dos meus olhos de um jeito que eu não queria". 

Paciência. 

Parte, Dona do Samba, com um sorriso e um abraço negro.

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"Mas quem disse que eu te esqueço" - Dona Yvone Lara

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DONA IVONE LARA
(1921-2018)

Daniel Rodrigues