A coleção “O Livro do Disco” sempre acaba nos reservando uma
certa surpresa a cada exemplar. Depois da análise pormenorizada com detalhes
técnicos do "Unknown Pleasures" do Joy Division; da avaliação também faixa a
faixa, mas muito mais emocional de "Daydream Nation" do Sonic Youth; e de uma
abordagem mais ampla e temática da obra "A Tábua de Emeralda" de Jorge Ben;
agora este “Led Zeppelin IV” traz outro tipo de apreciação. O trabalho examina o disco clássico do Led Zeppelin predominantemente sob o prisma do misticismo que envolve não somente a
obra mas também, é claro, por origem, a banda. O jornalista Erik Davis
debruça-se com afinco e seriedade sobre todos os aspectos que compõe a mística
em torno das lendas que envolvem a banda e seus integrantes e amplia esta
investigação para a obra por eles produzida procurando, sem muita dificuldade dada toda o material que a banda proporciona,
mistérios e significados contidos nela. No que diz respeito especificamente ao
quarto disco do Led Zeppelin, o autor entende que o próprio conjunto de
símbolos que sugere um nome intraduzível para a obra por si só já determina que
ele contenha elementos místicos e informações ocultas, o que já o torna digno
de uma análise aprofundada. Assim, o livro vai desde os quatro ícones gráficos;
passa pela capa com seu velhote misterioso; pelo monge com o candeeiro no
encarte; pelas referências literárias; pelas supostas relações demoníacas do guitarrista Jimmy Page; pela
ordem das faixas e por possíveis significados ocultos em seus títulos; pela
lenda da satânica rotação ao contrário de “Stairway to Heaven”; e,
inevitavelmente, dentro de tudo isso, uma análise musical faixa a faixa, não
sem deixar de considerar também os aspectos místicos que possam ter
influenciado em suas letras ou composições.
De modo a manter coerente uma linha de pensamento, estabelecendo
uma ligação de uma canção com a seguinte, atravessando o disco da primeira à
última faixa, o autor cria uma espécie de trajetória hipotética de um
personagem ficcional, Percy, que enquanto imagem, devo dizer que não me agradou
muito e em alguns momentos pareceu-me forçado e em outros uma liberdade autoral
pretensiosa. Mas de um modo geral o produto final vale e é muito rico e
instrutivo trazendo diversas informações e curiosidades para fãs e aficionados por
música e pelo lado obscuro dos artistas, especialmente uma banda tão envolta em
lendas como é o caso do Led Zeppelin.
Cly Reis