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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

"Spencer", de Pablo Larraín (2021)

 


Tem muita coisa boa nesse filme mas, sem sombra de dúvidas, Kristen Stewart é a maior delas. Sua atuação é um assombro! Palmas!!!

1991. Durante os feriados de fim de ano, a Princesa Diana (Kristen Stewart) percebe que seu casamento com o Príncipe Charles não está dando mais certo e resolve renegar um caminho que a colocava na linha de sucessão da coroa.

"Spencer" é um longa muito certinho, no qual dificilmente você vai ver algum erro. Particularmente, não vi nada que atrapalhe a narrativa ou a experiência com o filme, ou ainda a aproximação e o vinculo com a personagem. Meu único aviso é que é interessante que o espectador já tenha um certo conhecimento prévio do que é família real britânica e de como estavam suas relações internamente no final dos anos 80 e inicio dos 90. Não é fundamental, mas conhecendo todo o contexto, você acaba imergindo ainda mais no filme. 

O longa tem seus muitos méritos, mas o maior de todos , além da bela fotografia e enquadramentos (mais um longa que usa muito bem a câmera, ao seu  favor) é, como já antecipei, a atuação de Kristen Stewart que domina tudo e consegue nos entregar uma das melhores atuações de sua carreira.

Tudo muito bem feito, nada no longa sai dos trilhos, câmera sempre muito bem posicionada e uma parte técnica impecável. A fotografia é espetacular, criando uma nevoa que confere todo um clima de sonho ou pesadelo, com uns enquadramentos e sequências que lembram filmes de terror psicológico, aumentando a tensão de algumas cenas, mesmo estando longe de ser um terror, o que é bom deixar claro. Esse clima de sonho ou realidade nos coloca na mente da personagem e nos faz acompanhar as mesmas coisas que ela e, às vezes, tanto quanto ela, não entender bem o que se passa. Por isso, a dor de Diana dói em quem assiste e tem noção da real história. Uma direção, a cargo do chileno Pablo Larraín, que sabe o que quer, uma trilha competente e bem pontual do Radiohead Jonny Greenwood , aliada à atuação fora do comum da estrela principal, fazem de "Spencer" um dos grandes destaques para a temporada de premiações desse ano.

Esse olhar... Estou apaixonado por uma atuação.



por Vagner Rodrigues

 

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"Tony Manero", de Pablo Larrain (2008)





O elogiado e bem recomendado filme chileno Tony Manero merece em parte as deferências da qual é objeto. Bom filme, sim, mas não é tudo isso.
O filme centra sua ação no personagem Raúl Peralta que é obcecado pelo filme "Os embalos de sábado à noite" e sobretudo no personagem vivido por John Travolta, que inspira o nome do filme e também as ações, trejeitos e coreografias do protagonista. Às voltas com sua fixação em realizar, em um bar de última categoria, a coreografia do filme, juntamente com seu "corpo de dança" (igualmente miserável), Raúl vai se mostrando uma pessoa vazia, seca e eventualmente violenta, revelando-se uma espécie de serial-killer inconsequente, matando por qualquer motivo que lhe contrarie ou que vá contra seus interesses, que, a rigor, baseiam-se quase que exclusivamente na encenação da dança do filme. Tudo isso em meio à ditadura Pinochet e todo aquele clima de medo e terror que pairava no ar em todas as ditaduras sulamericanas.
No fundo, no fundo a realidade de Raúl é mais ou menos a do seu país naquele momento: um vazio, uma falta de esperança, um horizonte de fascínio e de beleza muito distante para ser alcançado e que naquelas condições não poderia de forma alguma tornar-se realidade. Na trama, elementos representados por Travolta, pelas luzes, pelas roupas, pelo american way of life, que de uma forma ou de outra acabam também não se afastando muito simbolicamente das aspirações das ditaduras daquela época.
Nisso também pode-se comparar a violência do dançarino com a do Chile de Pinochet, como uma espécie de indiferença ao restante, uma falta de respeito, uma busca de "superioridade" pela força, disposto a passar por cima do que estiver no caminho para se firmar, se estabelecer.
No caso do aspirante a Travolta, esta questão fica evidenciada com a idéia de montar um palco imitando o chão luminoso do filme para seu grupo de dança e principalemente com sua intenção em disputar um concurso de Tonys Maneros em um programa de TV que é o ponto no qual culmina o filme, lembrando um pouco, neste momento, o "Ginger e Fred" de Fellini, com os bastidores do programa, os candidatos, a expectativa a apresentação e tudo mais.
Não é um filme fácil mas se for assistir, vá sem preconceitos nem conceitos, porque certamente o diretor não o fez pensando em obedecer padrões, sobretudo de caracterizações.


Cly Reis