O Crystal Method para mim é uma espécie de experiência musical temporal. Algo que foi sendo construído em camadas formadas ao longo do tempo.
Conheci o Crystal Method na trilha do game FIFA 98. Sem saber do que se tratava, curtia muito a música que tocava enquanto se editava as características, atributos e habilidades dos jogadores. Mais tarde, no saudoso programa AMP da MTV, é que soube que se chamava "Busy Child", que viria a ser o maior sucesso da dupla norte-americana de música eletrônica. Ainda alguns anos depois, topei com um CD dos caras num sebo da vida e, embora só conhecesse seu grande hit, tive a intuição de comprá-lo. Valeu a pena. "Vegas", o disco de estreia do duo formado por Ken Jordan e Scott Kirkland é um grande álbum! Mas só tempos depois de adquiri-lo, ouvi -logo muito, usá-lo de trilha sonora para minhas corridas de fim de tarde, foi que vim a saber que se trata de uma referência da electronic music. E só, ainda mais recentemente, foi que soube que a dupla representava uma espécie de 'resposta' norte-americana aos britânicos Chemical Brothers. E de certa forma, deixando de lado pseudo-rivalidades criadas sabe-se lá por quem é com qual interesse, musicalmente faz sentido. As propostas, os sons, a criatividade, a qualidade do que buscam, do que fazem, se assemelha bastante.
Embora reconheçamos obviamente diversas relações e musicalidades, como o funk, o rap, ambient, krautrock, house o que me parece muito marcante no Crystal Method é o pezinho no jazz. Noto essa influência em diversas canções, vários momentos e em muitas estruturas das músicas, e vejo isso como um diferencial. Em meio a samples, loops, drops, beats fankeados, os dois caras em muitas oportunidades apresentavam tempos improváveis, um minimalismo inteligente, uma certa economia de notas, lacunas propositais de algum elemento, é até mesmo, dentro de um universo tão compartimentado, a sensação de improvisos sobre a base.
Depois da poderosa abertura com "Trip Like I Do", sem dúvida um grande início de álbum, já vem o clássico "Busy Child", pura energia mas também tem classe, elegância e uma construção primorosa. Uma base 'baixo' inquieta e envolvente, sobreposições empolgantes, um sample daqueles de assinatura, reconhecíveis em qualquer pista de dança, loops alucinantes, funk, soul, jazz, groove, aquela era definitivamente uma das melhores músicas eletrônicas de todos os tempos.
"Cherry Twist", que segue, é muito jazz! Extrapola os limites da construção e da variação em torno de elementos mínimos. "High Roller" alivia na pulsação e vai pra uma batida mais marcada e ritmada, numa vibe meio blaxploitation dos anos 70.
"Coming' Back" com participação da vocalista Trixxie é possivelmente o momento mais pop e menos surpreendente do álbum, o que não a torna menos especial. Pelo contrário. Na minha opinião é uma das grandes faixas do disco. Um pop com cara de hit radiofônico.
"Jadded" tem uma pegada selvagem e sensual; e a ótima Vapour Trail", outra das mais celebradas da dupla, é construída pacientemente agregando elementos, crescendo, ganhando ritmo, até se tornar uma coisa incrível alucinante repleta de camadas, facetas e influências. O disco se encerra com "Bad Stone", atmosférica, num clima mais ambiental, pra mexer mais com as sensações do que com o corpo.
Vim a saber também há pouco tempo que os caras se mantém na ativa e por sinal continuam produzindo coisas bastante boas. Mas, sem dúvida, "Vegas" se destaca não somente entre seus trabalhos, como também entre os grandes clássicos do gênero. Talvez o tempo nos ajude a entender a verdadeira dimensão do Crystal Method e de sua obra dentro da música eletrônica. O tempo, o tempo...
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FAIXAS:
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