Na semana em que o The Cure retorna ao Brasil para shows aqui no Rio e
Dirigido por Tim Pope, amigo dos integrantes e diretor de
diversos clipes da banda, o filme registra um concerto na íntegra transcorrendo
desde o entardecer até o cair da noite, o que associado ao cenário das ruínas
do bem conservado anfiteatro, reforça toda uma atmosfera cenográfica e
apropriada ao visual e proposta do grupo. Com uma forma muito particular de
conduzir o filme, o diretor se vale da identidade visual dos próprios
videoclipes para compor a filmagem do concerto, balançando a câmera, levando-a
quase no rosto dos músicos e trabalhando cores vivas em “Inbetween Days”,
utilizando um discreto slow-motion em “A Night Light This”; imitando raios de
sol entrando entre árvores em “A Forest”; ou perseguindo o cantor em “Close to
Me”.
Robert Smith, de cabelo 'normal'
revelado pelo amigo Gallup
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O show tem uma particularidade interessante registrada pelo
diretor logo no início do filme: na entrada da banda para o palco, ao som de
“Relax” do The
Glove como música de entrada, Robert Smith, de cabelo cortado,
provavelmente para não desapontar o público que sempre espera vê-lo com a tradicional
juba desgrenhada e arrepiada, entra no palco com uma peruca imitando a ele
próprio, mas logo é ‘desmascarado’ pelo baixista Simon Gallup que tira o
adereço jogando-o longe. Aí, de cabelo curto mesmo, abrem o showzaço com a
matadora “Shake Dog Shake” que mesmo não sendo lá tão enérgica já abre a roda
de pogo na galera; mas “Play for Today”, sim, de apelo pós-punk mais evidente
incendeia o pessoal da frente do palco e a roda punk come solta. O show,
impecável do início ao fim, traz diversos grandes momentos musicais e visuais,
como as já citadas “Inbetween Days”, “Close to Me” e “A Forest”; "One
Hundred Years" intensa e com uma iluminação sinistra e misteriosa; “Sinking” mais sombria do que nunca; "Faith" em uma execução belíssima e emocionante; e uma
“Give Me It” enlouquecida com uma filmagem totalmente agitada, movimentada e
tremida.
A proximidade do final do show vai revelando um êxtase
crescente por uma apresentação até então enlouquecedora e que a cada música
parecoia reservar um encerramento não menos que grandioso. E é o que acontece
com a sequência que costumava fechar muitos shows da banda naquela época;
depois de “10:15 Saturday Night” que sempre empolga o público, a banda fechava
com a tradicional “Killing na Arab” vibrante, elétrica, agressiva botando
abaixo o resto das ruínas do anfiteatro de Orange.
Um final apoteótico. Extático. Catártico.
Um dos melhores registros em filme de uma banda ao vivo, com
uma performance competente e inspirada, muitíssimo bem filmada e dirigida, num
cenário altamente sugestivo e apropriado.
Como não é todo dia que o Cure passa por aqui, é
recomendável aos fãs terem em casa e assistirem sempre que baterem as saudades. Satisfação garantida.
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2. "Shake Dog Shake"
3. "Piggy in the Mirror"
4. "Play for Today"
5. "A Strange Day"
6. "Primary"
7. "Kyoto Song"
8. "Charlotte Sometimes"
9. "Inbetween Days"
10. "The Walk"
11. "A Night Like This"
12. "Push"
13. "One Hundred Years"
14. "A Forest"
15. "Sinking"
16. "Close to Me"
17. "Let's Go to Bed"
18. "Six Different Ways"
19. "Three Imaginary Boys"
20. "Boys Don't Cry"
21. "Faith"
22. "Give Me It"
23. "10.15 Saturday Night"
24. "Killing an Arab"
25. "Sweet Talking Guy", dos The Chiffons (música de encerramento)
Cly Reis