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quinta-feira, 6 de junho de 2013

cotidianas #228 - O Piadista


Niltinho sempre se dava bem com as mulheres.
Era impressionante.
Não que fosse um absurdo, Niltinho não era uma cara que pudesse se dizer, assim, monstruoso, horrível ou algo do tipo. Não. Mas era impressionante tamanho sucesso e eficácia.
E não tinha mulher difícil. Não tinha conquista impossível. O Niltinho mirava, atacava e era certeiro. Invariavelmente ganhava.
Mesmo quando estava com um de nós, os rapazes da turma por perto, fazia questão de ir sozinho até a mulher. Se dirigia à vítima, falava alguma coisa, despertava o interesse e logo o que se se via a pantera jogar o pescoço para trás e desandar numa risada gostosa. Sempre acontecia. Sempre riam. O que ele falava? Alguma piada, por acaso? Vá lá se saber. Nunca deixou que nenhum de nós o acompanhasse quando ia abordar uma presa. Mas independente do que falava, de como falava, de como abordava, era infalível. Voltava ele, no mínimo, com um número de telefone anotado num guardanapo.
Chegamos a perguntar para uma conhecida nossa, garota do bairro, que crescera junto com a gente, se tornara um mulherão e que, claro, já havia ficado com o Niltinho, o que viam naquele cara. A resposta dela foi simplesmente:
- Ah, sei lá. Acho que ele me faz rir.
Certa vez, na balada, eu que não tinha o mesmo sucesso do meu amigo pegador mas também tinha meus momentos, saí da festa com uma bela mulher morena, bastante apreciável, mas nada comparável à amiga dela, que ficou com o Niltinho, e que era simplesmente de fechar o comércio. Acabamos no apartamento que as duas dividiam e tendo as coisas ficado quentes para ambos os casais, fiquei na sala com a bela morena e o Niltinho foi com a de cabelo castanho para o quarto.
A morena foi simplesmente espetacular... Mas isso apenas durante o pequeno período que conseguimos nos concentrar no que fazíamos, pois uns 10 minutos depois do Niltinho ter entrado no quarto com a outra garota, risadas ensandecidas e incontidas irromperam do quarto.
Incessantes.
Incontroláveis.
Só parava para tomar fôlego, para respirar, mas logo voltava mais aguda e mais forte ainda.
Eu e a morena paramos o que estávamos fazendo, nos olhamos interrogativamente e voltamos nossos olhos para a porta do quarto como se pretendêssemos ter uma visão de raio-X e entender o que estava acontecendo lá dentro. Não conseguimos mais fazer nada aquela noite. As risadas eram o que se poderia chamar de selvagens.
Pela manhã, me recompondo no sofá, enquanto a garota dormia, vi sair do quarto a bela parceira do meu amigo, só de calcinha e cobrindo os seios com o antebraço.
- Ai, desculpa. Não sabia que você tava aí ainda - disse levemente encabulada.
- Desculpa você - disse calçando os sapatos - eu ainda aqui na sua sala.
- Que nada - fez ela já despreocupada com minha presença e com seus trajes menores.
Ia se dirigir ao banheiro quando me ocorreu um comentário que poderia ser muito esclarecedor no caso do Niltinho:
- O meu amigo deve ser muito bom de contar piada, não? Dava pra ouvir daqui sua risada.
- Piada? - fez ela arregalando os olhos - Aquilo foi muito SÉÉÉRIO! - completou com um ar grave entrando finalmente no banheiro.
Ainda pude ouvir lá de dentro um:
- Nossa...
Aí sim, fiquei embasbacado e mais intrigado que nunca.
O que me restava era acordar o meu amigo e ir embora dali.
No caminho, no carro ainda perguntei para ele, o que havia acontecido. Ele se limitou a responder que ela havia gostado dele.
Ótimo. Muito esclarecedor.
No chopp do dia seguinte contei para o resto da turma do episódio. Ficaram loucos! Qual era o segredo? Como podia? Chegou o Niltinho na roda e o colocamos contra a parede, pressionamos. Nada. Só aquela tranquilidade: "Eu falo o que elas querem ouvir". Não bastava. Cercamos por todos os lados mas era como se não houvesse mistério no que fazia. Simplesmente chegava e fazia.
Nisso, entre um choppinho e outro, avistamos uma loira fenomenal numa mesa próxima à nossa, no bar. O que eu posso dizer é que às vezes Deus nos sai com alguma coisa realmente absurda e aquela era uma delas. Resolvemos desafiar o Niltinho. Àquelas alturas já nem era mais pelo segredo, pelo mistério, não era um teste, uma vez que tínhamos praticamente convicção de que ele conseguiria facilmente, era mais pela confirmação, pelo evento, pelo acontecimento em si:
- Niltinho, quero ver tu conquistar aquela lá. Não, aquilo já nem é mais mulher. eu nem sei dizer o que é tudo aquilo mas aquilo não pode ser um ser humano.
- Deixa a moça lá. Vamos continuar nosso papo aqui. - dizia ele fingindo contrariado.
- Tu tá arregando? Será quer tu não pode com essa?
- Deixa pra lá.
- Ah, tá com medo! - zombaram os outros para encorajá-lo.
- Não, não é... Tá bom, tá bom, eu vou lá. O que que 'cês querem, que eu dê um beijo, que eu traga um telefone, que eu traga ela pra sentar aqui?
- Ah, qualquer coisa. Vai lá, vai lá - insistimos já nem nos preocupando alguma prova da conquista, pois sabíamos que o Niltinho não era de se vangloriar à toa. Se ele dissesse que tinha marcado um motel, a gente acreditaria.
Levantou-se, dirigiu-se à mesa onde a deusa estava com outra amiga e falou dirigindo o olhar para a loira:
- Oi, meu nome é Nilton, tudo bem?
A loira apenas assentiu.
- Posso sentar?
A loira fez cara de indiferente.
- Posso te perguntar uma coisa? - lançou ele - Tu conheces aquela do papagaio?




Cly Reis

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