foto: Lucio Agacê |
Nunca tinha assistido ao Ratos de Porão ao vivo. Devia isso
pra mim mesmo. Do rock nacional já tinha visto shows de quase todos que
considero importantes: Titãs (Arnaldo Antunes e Nando Reis, além do Marcelo
Frommer ainda vivo), Camisa de Vênus, Paralamas do Sucesso, Fausto Fawcett, De
Falla, Replicantes.Até Humberto Gassinger (sem Engenheiros do Hawaii, mas
tocando músicas da banda) eu vi. Legião Urbana que fazia pouco show, ainda
mais aqui no Sul, não deu pra ver (quando ia fazê-lo, Renato Russo morreu). Por
isso, dos grandes do rock brasileiro faltava-me, de fato, o Ratos. Os caras que
inventaram (isso mesmo: sem aspas!) o que pode ser chamado de metal-core antes
de qualquer outra banda gringa; o grupo criador de discos essenciais como
“Crucificados pelo Sistema”, “Descanse em Paz” e “Brasil”; os desbravadores, no
Brasil, de uma malvista e desvalorizada, porém riquíssima, cena juvenil chamada
punk junto com Olho Seco, Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Lobotomia e
outros; os verdadeiros cronistas suburbanos de um Brasil que insiste em ser
desigual e decadente desde que eles surgiram, há mais de 30 anos, e bem antes
disso; a primeira banda a levar, junto com o Sepultura, o rock nacional pro
exterior a custas de muito esbravejo e porrada. Faltava o Ratos a mim.
Faltava.
Depois de mais de um ano me penalizando por não estar na
cidade para assisti-los em 2012, quando estiveram em Porto Alegre depois de um
bom tempo sem virem, pude, enfim, presenciar João Gordo & cia. “destruírem”
o Opinião no projeto 2ª Maluca, da Rei Magro Produções. Showzasso! Gordo, muito
a fim de tocar e à vontade com um público verdadeiramente amante da banda,
subiu no palco com a gana de realmente fazer um grande show. Com Jão, esmerilhando
na guitarra, Juninho, super bem no baixo, e Boka, sempre destruidor na bateria,
não foi diferente. O show teve aproximadamente 1 hora e 10 minutos, o que, para
uma banda como o RDP, que tem faixas até de 17 segundos, (como “Caos”, que tive
o prazer de ouvi-los tocar: “Esse mundo é
um caos/ Essa vida é um caos/ Caaaaaos!"), esse tempo todo dá pra executar
um monte de coisa. E foi assim, repleto de “crássicos” que incendiaram a roda
de pogo.
foto: Lucio Agacê |
Eles mandaram ver com “Agressão/Repressão”, “Crianças sem Futuro”,
“Aids, Pop, Repressão”, “Sentir Ódio e Nada Mais”, “Realidades da Guerra”,
entre outras. Só as foda! “Mad Society”, de uma fase já “madura” dos caras e
das minhas preferidas, veio num arranjo super legal junto com “Morrer”, das
antigonas. “Sofrer”, das mais conhecidas, claro, enlouqueceu a galera, assim
como a versão deles de “Buracos Suburbanos”, da Psykóze,
outra memorável do punk rock brazuca. Teve ainda as imortais “Crucificados pelo
Sistema” e “Beber até Morrer” - música que, há 25 anos, nos faz pensar se não
é, de fato, esta a solução num país, à época da composição, de Plano Cruzado e
inflação galopante e, hoje, de Bolsa Família e Mensalão...
Mas pra pirar mesmo o público de fé que foi lá naquela noite
do dia mais chuvoso na cidade em um século (!), o Ratos presenteou-nos com uma
execução do clássico do rock gaúcho (quando este ainda era bom pra caralho): “O
Dotadão Deve Morrer", d’Os Cascavelletes. Ao seu estilo, tal como gravaram
em 1995 no álbum “Feijoada Acidente - Brasil”, ou seja, menos rockabilly e mais
hardcore, a banda fez o Opinião vir abaixo, ainda mais no refrão, entoado por
toda a plateia - inclusive este que vos fala. Gordo cantava: “Hey, rapazes/ Esse cara deve morrer”, e
nós respondíamos em coro: “Deve morrer,
deve morrer, deve morrer!”. De arrepiar!
Pra fechar, outro clássico cantado por todos: “FMI” (“O FM’ê’ não está nem a’ê’...”). Como se
não bastasse a felicidade de minha realização de, finalmente, assistir ao RDP
ao vivo, ainda pude fazê-lo ao lado de meu primo-brother e colaborador deste
blog, Lucio Agacê, justamente quem, em meados dos anos 80, mostrou pra mim esta
que é, certamente, a maior banda brasileira em atividade hoje. E será que não
foi sempre?
por Daniel Rodrigues
fotos: Lucio Agacê
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