sábado, 31 de maio de 2014
cotidianas #298 - O Amor é Um Cão dos Diabos
pé de queijo
alma de cafeteira
mãos que odeiam tacos de bilhar
olhos como clipes de papel
eu prefiro vinho tinto
entedio-me em aviões
sou dócil durante terremotos
sonolento em funerais
vomito nos desfiles
e vou para o sacrifício no xadrez
e nas bocetas e nos afetos
cheiro urina nas igrejas
já não consigo mais ler
já não consigo mais dormir
olhos como clipes de papel
meus olhos são verdes
prefiro vinho branco
minha caixa de camisinhas está passando da
validade
eu as tiro pra fora
Trojan-Enz
lubrificadas
para maior sensibilidade
tiro todas pra fora
e ponho três ao mesmo tempo
as paredes do meu quarto são azuis
para onde você foi, Linda?
para onde você foi, Katherine?
(e Nina partiu Inglaterra)
tenho cortadores de unha
e limpa-vidros Windex
olhos verdes
quarto azul
brilhante metralhadora solar
essa coisa toda é como uma foca
presa em oleosas rochas
e cercada pela Banda Marcial de Long Beach
às 3h36 da tarde
há um tiquetaquear atrás de mim
mas nenhum relógio
sinto algo rastejar
ao longo de minha narina esquerda:
memórias de aviões
minha mãe tinha dentes postiços
meu pai tinha dentes postiços
e durante todos os sábados de suas vidas
eles recolhiam todos os tapetes de sua casa
enceravam o chão e de tabuões
e o cobriam novamente com os tapetes
e Nina está na Inglaterra
e Irene está no abrigo municipal
e eu pego meus olhos verdes
e me deito me meu quarto azul
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"O Amor é Um Cão dos Diabos"
Charles Bukowski
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