Tinha comprado há algum tempo mas só agora li a adaptação para HQ de dois clássicos da rainha do mistério, Agatha Christie, "Morte na Mesopotâmia" e "O Caso dos Dez Negrinhos", ambos roteirizados por François Rivère e desenhadas, respectivamente, pelos artistas Chandre e Frank Leclerq. Quadrinhos são sempre legais, a proposta é interessante e essas adaptações literárias sempre muito válidas, mas pela natureza da obra, um mistério, portanto muito dependente dos detalhes, ou a publicação teria que ser extremamente longa, talvez até mais que o livro original, para apanhar todas as minúcias necessárias para que o leitor tenha todas as possibilidades acerca do crime, ou teria que ser extremamente bem desenhado, com cada expressão de rosto, detalhes de objetos, sugestão de movimentos, etc. Em "O Caso dos Dez Negrinhos", um dos meus preferidos da autora, onde 10 pessoas são convidadas por um anfitrião anônimo a passarem uma temporada numa ilha de lazer e uma a uma vão sendo assassinadas, pela própria dinâmica da história e pelo fato dos desenhos de Frank Leclerq serem claros e nítidos o bastante, não se sente tanta falta desse grau de detalhamento e a linguagem HQ funciona. Mas em "Morte na Mesopotâmia", com uma trama mais intrincada, mais suspeitos e mais elementos a serem considerados, o modelo fica bem prejudicado. Nesta trama o lendário personagem de Agatha Chirstie, o detetive belga Hercule Poirot, num campo de escavações no Iraque, tenta desvendar o assassinato da esposa de um arqueólogo que recebia cartas anônimas ameaçadoras e dizia se sentir perseguida, dentro de seu próprio quarto, sem a possibilidade de que alguém tivesse entrado. O problema é que o desenho do ilustrador Chandre, de traço um tanto pesado para o fim que se propõe, não consegue passar as expressões dos personagens, a não ser aquelas clássicas, de espanto com olhos arregalados, de satisfação com um sorriso, mas não capta o detalhe de um olhar cínico, uma raiva contida, etc. Posso estar exigindo muito do desenhista mas acho que quando se propõe a fazer uma HQ de mistério, coisas como essas devem ser levadas em consideração e sobretudo, inevitavelmente exploradas. Isso sem falar em algumas omissões, como um copo sujo de cêra encontrado pela vítima que é crucial para parte da solução do mistério, mas que não é visto na história sendo apenas mencionado pelo detetive quando da releitura dos fatos.
Quando comprei a publicação, eu, fã de Agatha Christie e leitor de diversas obras da autora,devo admitir que temia isso, mas insisti. Apenas confirmei. Mas, como disse, acho válido. Continuo achando essas adaptações para quadrinhos extremamente interessantes para os fãs do gênero e admiradores das obras literárias, e importante para, através de uma linguagem mais simples e visual, estimular o interesse pela leitura em quem não tem o hábito, principalmente os jovens em formação escolar.
Cly Reis
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