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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Luto Vermelho

Porra, Fernandão, como pode? O que se faz com um sentimento desses? Tu, colorado que é, deveria saber o que isso significa perder um ídolo do time. Pois quando isso acontece justamente contigo, o que se faz, hein? Seria natural que fosse o Sr. Larry, ou até mais normal o pessoal da geração dos anos 60 e 70, mas tu?
O que se faz com as lembranças, o sentimento de glória, eterno e inesgotável, das vitórias que tu comandaste? O que se faz com a braçadeira de capitão? Com a camisa 9? Com o grito de “uh, Fernandão”? O que se faz com o gol mil em Gre-Nais? E a bucha de fora da área contra a Inter de Milão na final da Copa Dubai? E o gol de bicicleta contra o Curitiba? E os vários de cabeça, naquelas testadas rasantes com a placa de platina sob a pele? E com as emoções a conta-gotas a cada rodada dos Brasileiros de 2006, 2007, 2008? E o que dizer dos gols de 2005, quando levaste o Inter a “campeão moral”?
Ou, mais ainda, com os gols da campanha da Libertadores de 2006, aquele conta o Nacional, contra o Pumas, ou o da semifinal, chutaço de fora da área contra o Libertad? Mais: os passes para gols, como as escoradas de cabeça para o Michel contra o Maracaibo e para o Gabiru contra o Pumas? Ou, claro, o teu cruzamento para o Tinga contra o São Paulo, no gol que sacramentou o título? E o teu próprio gol dessa histórica final? Da tua agilidade e oportunismo de atacante ao aproveitar aquele rebote? (Dizem os mais místicos que aquela inexplicável bola respingada foi obra de um passe do além de Mahicon Librelato, morto em 2002 também num acidente...)
E tua participação no primeiro gol contra o Al-Ahli, concluído daquele jeito meio torto pelo Pato? E o discurso de arrepiar no vestiário antes do jogo contra o Barcelona? E a predestinação daquela divinamente providencial câimbra, que pôs em campo justo o Gabiru? E com a imagem de tu levantando a taça do Mundial (a mais pesada que temos em nossa galeria de troféus, com certeza)? E depois, na volta de Yokohama, te ver comandando 50 mil colorados em êxtase, e tu, em êxtase junto? O microfone não estava com o presidente, nem com o Abel, nem com mais ninguém: estava contigo! Nunca vi algo como aquilo, e certamente nunca mais verei.
Várias palavras foram ditas para te classificar desde este fatídico 7 de junho de 2014. “Eterno”, “gol”, “líder”, “mito”, “ídolo”. “tristeza”. “9”. “Capitão”. Pois bem: o que fazer com elas agora, Fernandão?
Enfim, deixa pra lá. Não me entenda mal, não estou indignado contigo. É que a vida às vezes nos surpreende de um jeito que a única forma de manifestar é perguntando: “como isso é possível?”. Sei que não cabe a ti responder. Nem a ninguém. Mas quero que saibas que não deves te surpreender como toda essa comoção pela tua morte. Isso, além de sincero, é natural para alguém como tu que fizeste essa idolatria existir. Quero, sim, que fique em paz, a mesma paz que sempre fizeste por onde de tê-la dentro do campo e fora dele. E saibas que sentiremos, sim, falta dos gols, pois bolas de futebol como as que temos aqui só podem ser chutadas ou cabeceadas neste plano. Paciência. Mas fique tranquilo que todos esses lances que mencionei continuam presentes em nós colorados, pois, eternamente, como idiotas apaixonados, vibraremos com a mesma emoção ao revê-los. Está nos nossos ouvidos o som da bola roçando na rede, emitindo aquele “chhhhhuuummmm”. Gol de Fernando Lúcio da Costa!, o cara que só na base do aumentativo para se exprimir a importância que tem.

Esteja onde estiveres, receba essa mensagem como um elogio emocionado. Estás ouvindo, Fernandão? Sei que estás.


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