Porra, Fernandão,
como pode? O que se faz com um sentimento desses? Tu, colorado que é,
deveria saber o que isso significa perder um ídolo do time. Pois
quando isso acontece justamente contigo, o que se faz, hein? Seria
natural que fosse o Sr. Larry, ou até mais normal o pessoal da
geração dos anos 60 e 70, mas tu?
O que se faz com as
lembranças, o sentimento de glória, eterno e inesgotável, das
vitórias que tu comandaste? O que se faz com a braçadeira de
capitão? Com a camisa 9? Com o grito de “uh, Fernandão”? O que
se faz com o gol mil em Gre-Nais? E a bucha de fora da área contra a
Inter de Milão na final da Copa Dubai? E o gol de bicicleta contra o
Curitiba? E os vários de cabeça, naquelas testadas rasantes com a
placa de platina sob a pele? E com as emoções a conta-gotas a cada
rodada dos Brasileiros de 2006, 2007, 2008? E o que dizer dos gols de
2005, quando levaste o Inter a “campeão moral”?
Ou, mais ainda, com
os gols da campanha da Libertadores de 2006, aquele conta o Nacional,
contra o Pumas, ou o da semifinal, chutaço de fora da área contra o
Libertad? Mais: os passes para gols, como as escoradas de cabeça
para o Michel contra o Maracaibo e para o Gabiru contra o Pumas? Ou,
claro, o teu cruzamento para o Tinga contra o São Paulo, no gol que
sacramentou o título? E o teu próprio gol dessa histórica final?
Da tua agilidade e oportunismo de atacante ao aproveitar aquele
rebote? (Dizem os mais místicos que aquela inexplicável bola
respingada foi obra de um passe do além de Mahicon Librelato, morto
em 2002 também num acidente...)
E tua participação
no primeiro gol contra o Al-Ahli, concluído daquele jeito meio torto
pelo Pato? E o discurso de arrepiar no vestiário antes do jogo
contra o Barcelona? E a predestinação daquela divinamente
providencial câimbra, que pôs em campo justo o Gabiru? E com a
imagem de tu levantando a taça do Mundial (a mais pesada que temos
em nossa galeria de troféus, com certeza)? E depois, na volta de
Yokohama, te ver comandando 50 mil colorados em êxtase, e tu, em
êxtase junto? O microfone não estava com o presidente, nem com o
Abel, nem com mais ninguém: estava contigo! Nunca vi algo como
aquilo, e certamente nunca mais verei.
Várias palavras
foram ditas para te classificar desde este fatídico 7 de junho de
2014. “Eterno”, “gol”, “líder”, “mito”, “ídolo”.
“tristeza”. “9”. “Capitão”. Pois bem: o que fazer com
elas agora, Fernandão?
Enfim, deixa pra lá.
Não me entenda mal, não estou indignado contigo. É que a vida às
vezes nos surpreende de um jeito que a única forma de manifestar é
perguntando: “como isso é possível?”. Sei que não cabe a ti
responder. Nem a ninguém. Mas quero que saibas que não deves te
surpreender como toda essa comoção pela tua morte. Isso, além de
sincero, é natural para alguém como tu que fizeste essa idolatria
existir. Quero, sim, que fique em paz, a mesma paz que sempre fizeste
por onde de tê-la dentro do campo e fora dele. E saibas que
sentiremos, sim, falta dos gols, pois bolas de futebol como as que
temos aqui só podem ser chutadas ou cabeceadas neste plano.
Paciência. Mas fique tranquilo que todos esses lances que mencionei
continuam presentes em nós colorados, pois, eternamente, como
idiotas apaixonados, vibraremos com a mesma emoção ao revê-los.
Está nos nossos ouvidos o som da bola roçando na rede, emitindo
aquele “chhhhhuuummmm”. Gol de Fernando
Lúcio da Costa!, o cara que só na base do aumentativo para se
exprimir a importância que tem.
Esteja
onde estiveres, receba essa mensagem como um elogio emocionado. Estás
ouvindo, Fernandão? Sei que estás.
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