"Acautelai-vos, senhor, do ciúme.
É um monstro de olhos verdes
É um monstro de olhos verdes
que zomba do alimento de que vive."
"Otelo", William Shakespeare
- Carlos Eduardo, aquela piranha tá te
olhando.
- Ãhnn? Quem? - perguntou saindo do
seu estado de distração.
- Aquelazinha ali – apontou a mulher
sem nenhuma preocupação em ser discreta.
- Qual?
- Não te faz de bobo, Carlos Eduardo!
A loira. A loira, não tá vendo? - disse já nervosa.
- Qual? - procurou esticando o pescoço mas ainda não identificando.
- A de vestidinho curto, de olho verde - indicou cada vez mais irritada
- Ah, não tinha notado.
- Ah, sei. “Não tinha notado” -
fez imitando jocosamente o marido – Ela tá te olhado há horas,
Carlos Eduardo – insistiu.
- Pode dizer pra tua “amiguinha”
que a tua mulher está contigo e que ela não gosta que as tuas
vagabundas fiquem te encarando...
- Amiguinha? - impressionou-se o
maridão – Eu nem conheço essa fulana!
- Arram... Não conhece. Sei –
ironizou.
- Eu tenho culpa que a mulher tá me
olhando?
- Ah, então agora tu admite que ela
tava te olhando?
- Tu que disse que ela tava me olhando.
Eu sei lá... Meu Deus!!! – disse o marido, agora perdendo um pouco
da calma.
- Mas bem que tu tá gostando, né? Vai
lá, vai. Vai lá cumprimentar a tua vagabunda.
- Ai meu Deus... - soltou ele
respirando fundo.
- Ah, agora é “meu Deus, meu Deus”
- repetiu ela numa semi-histeria contida.
- Para, Mari, para, por favor.
- Parar por que? Acertei? É uma das
tuas vadias, Carlos Eduardo Souza Alencar? É? - insistiu ela, mas
repentinamente mudando de tom continuou – Tu não gosta mais de
mim, Caduzinho? Que que eu fiz? Que que tem de errado comigo? Eu tô
velha? Eu tô feia? Eu tô muito gorda? Eu tô gorda, né? É isso?
- Não é nada, Mari. Não tem nada. Eu
nem conheço aquela mulher – disse tentando recuperar a paciência.
- Então por que tu quer me abandonar?
Por que tu quer me trocar por ela? Eu tô gorda, não tô? É isso? - insistia em tom suplicante.
- Tu tá ótima, Mari, não tem nada de
errado contigo e eu não quero te trocar por ninguém – explicou
exercitando toda a paciência que lhe restava.
- Jura?
- Juro, Mari.
- Promete que não vai me deixar,
promete – insistiu a esposa agora toda melosinha.
- Só se tu me prometer uma coisa:
- O que, amor?
- Que tu vais parar com esse teu ciúme
louco?
- Ah, é isso? Alterando-se novamente
e voltando à discussão - Tu quer que eu te deixe soltinho pra tu
ficar paquerando com essas vagabunda, né, Carlos Eduardo? É isso?
- Ai, meu Deus...
Cly Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário