"O cara fuma, bebe, cheira
Fuma, bebe, cheira
Fuma e quer pegar no meu pau.
Cheira a noite inteira, Fala sem parar
E quando chega o dia
não quer mais me contratar."
trecho de
"Ro-Que-Se-Da-Ne (Junte as Sílabas e Forme Novas Palavrinhas)"
Vamos combinar que Lulu Santos é
possivelmente o maior hit-maker do Brasil, talvez só superado
pelo Rei Roberto.
Estamos de acordo?
Acho que não tem muito o que
contestar.
“De Repente Califórnia”, “O
Último Romântico”, “Certas Coisas”, “Cara Normal”,
“Adivinha o Que”, “A Cura”, “Assim Caminha a
Humanidade”...Ufa! Sucessos são o que não faltam. Até por isso,
muitos de seus disco poderiam ser destacados como básicos na
discografia nacional, seu primeiro com a ótima “Tempos Modernos”
que dá nome ao álbum, o segundo da marcante “Como uma Onda”, o
3º, “Tudo Azul” com a melosa “Lua-de-Mel” regravada por Gal Costa, etc. Mas “Lulu”, de 1986, além de confirmar a vocação
para a produção de grandes sucessos radiofônicos, era um álbum
mais coeso, completo e de musicalidade variadas.
“Lulu”, de capa muito legal, estilo Keith Haring, é um daqueles discos que a
gente tem que pensar como um LP, pois seus lados são distintos e de
características diferentes.
O lado A empilha hits e seu início é
de tirar o fôlego. Abre com a gostosa e cativante “Casa” normalmente associada a uma espécie de volta de um "filho pródigo" ou algo do tipo, mas esclarecido pelo próprio autor que trata do prazer de encontrar a própria casa todos os dias; emenda
com a excelente “Condição”, um pop cheio de variações e
possibilidades, com guitarras distorcidas, bateria eletrônica,
vocoder, entre outros recursos, passeando por diversos estilos mas mantendo a unidade com competência e qualidade; e
traz na sequência a melancólica balada “Minha Vida”, bela e tristonha.
Depois da interessante e simpática “Pé
Atrás”, a única do lado A que não tocou à exaustão por aí, a
sequência de hits é retomada com “Um Pro Outro”, outro pop
daqueles pegajosos, que teve sua popularidade aumentada ainda pela
inclusão na trilha de uma novela. E o lado A, o lado hiper-pop, o
lado dos sucessos se encerra.
O lado B é mais ousado, diversificado, até experimental, por assim dizer, abrindo com a excelente “Twist, o Disco” uma brilhante crônica
de costumes sobre a volubilidade da moda e das tendências, que
mistura rock, com mambo, com disco, com tango, numa das melhores
músicas do disco e do próprio Lulu.
Segue com o ska animado “Duplo
Sentido”; com o pop-rock básico “Telegrama”, possivelmente a
menos interessante do disco; o reggae muito bacana cantado em inglês,
“Demon”; e fecha com a espetacular “Ro-Que-Se-Da-Ne (junte as
sílabas e forme novas palavrinhas)“ um punk rock escrachado
cantado à la Roger do Ultraje, no qual Lulu chuta o balde,
escangalhando a superficialidade das relações pessoais, mas
sobretudo, escancarando a promiscuidade da indústria fonográfica.
Um final matador para um baita disco.
Lulu Santos é o tipo do cara que a
gente pode até não adorar mas, a rigor, não tem muito como dizer
que é ruim, e seu interessantíssimo “Lulu”, lançado no auge da
efervescência do rock BR dos anos 80, é um disco, em especial, que
merece uma menção mais significativa no âmbito do pop-rock
nacional daquele momento.
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FAIXAS:
Lado A
- Casa (O Eterno Retorno) - 5:06
- Condição - 4:22
- Minha Vida - 5:08
- Pé Atrás - 3:35
- Um Pro Outro - 3:54
Lado B
- Twist , o Disco - 4:16
- Duplo Sentido - 2:29
- Telegrama (Lulu Santos e Scarlet Moon) - 3:50
- Demon - 5:17
- Ro-Que-Se-Da-Ne (Junte as Sílabas e Forme Novas Palavrinhas) - 2:24
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