“Este
é um dos melhores álbuns de Elton John.
Ele não tentou repetir
os
principais sucessos do passado,
apenas dar continuidade ao bom
trabalho
que vem fazendo.
E ele conseguiu.”
Jon Landau,
para a
Rolling Stone, em 1975
Em
1975, todas as grandes bandas de rock estavam na ativa e bombando. Rolling Stones, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, entre outras. O rock progressivo nunca viveu um
melhor momento. E o punk ainda não tinha chegado. Mas o mundo da
música pop tinha um único rei: Reginald Dwight Kenneth, mais
conhecido no circo pop como Elton John.
Desde
1970, quando lançou seu disco chamado “Elton John”, ele vinha
colecionando um sucesso atrás do outro. E não eram só LPs! Na
época, o cara gravava muitos compactos, que nem sempre entravam nos
discos de carreira. Elton já tinha em seu
currículo “Your Song”, “Skyline Pigeon” (em duas versões),
“Rocket Man”, “Daniel”, “Crocodile Rock”, “Goodbye
Yellow Brick Road”, “The Bitch is Back”, “Saturday Night’s
Alright for Fighting”, “Pinball Wizard”, “Don’t Let The Sun
Go Down on Me”, “Bennie and The Jets”, “Candle in the Wind”,
"Philadelphia Freedom", sua versão pra “Lucy in the Sky
with Diamonds”, ufa!, não termina nunca. Isso sem falar em
grandes canções como “Levon”, “Burn Down the Mission” e
“Tiny Dancer” (que só fez sucesso 29 anos depois ao ser incluída
no filme “Quase Famosos”).
O que
mais poderia querer um garoto a não ser tocar numa banda de rock,
perguntaram Mick Jagger e Keith Richards. Chegar ao primeiro lugar da
parada da Billboard no dia do lançamento. E Elton conseguiu este
feito com um dos meus 5 discos favoritos: “Captain Fantastic and
The Brown Dirt Cowboy", lançado em maio de 1975.
Uma
das chaves é a seguinte: Elton e Bernie Taupin, seu letrista,
resolveram contar a história de sua própria escalada ao sucesso. A
outra é o amor pela música americana de Elton (um inglês) e de
Bernie, nascido nos Estados Unidos. Especialmente a country music.
Isto fica explícito na faixa-título do disco, que abre o lado 1.
Nela, o violão e o mandolin de Davey Johnstone abrem o caminho para
Elton e o resto da banda começarem a contar esta história. A letra
fala, inclusive, dos fracassos que eles enfrentaram: "Jogamos
a toalha muitas vezes/ Cansados quando estamos baixo astral/ Capitão
Fantástico e o Cowboy sujo/ Do fim do mundo pra sua cidade".
Na
faixa seguinte, "Tower of Babel", a situação começa a
pesar. Os clubes obscuros e a dificuldade de tocar em lugares legais
faz Elton dizer que: "É hora da festa na Torre de Babel/
Sodoma encontra Gomorra, Caim encontra Abel/ e todos se divertem".
Tudo com o apoio da incrível banda que o acompanhava na época: Além
de Johnstone nas guitarras, violões e todos instrumentos de cordas,
Dee Cooper, no baixo, Nigel Olsson, na bateria, e Ray Cooper, na
percussão. E todos cantavam! Backing vocais dignos dos Beach Boys.
Em
"Bitter Fingers", a banda dá um show de vocais e de
dinâmica. A canção começa dominada pelo piano de Elton e, de
repente, explode um rockão daqueles irresistíveis com um refrão
chiclete que gruda no seu ouvido e faz você ficar cantando a música
o dia inteiro. Elton conta sua dificuldade em ter de compor músicas
de encomenda no formato que todo mundo quer: "É difícil
compor com dedos amargos/ Muito a provar e poucos a te dizer
porque... Parece que uma mudança é necessária/ estou cansado de de
tra-la-las e la-di-das". Nesta música, a guitarra de Davey
Johnstone brilha como nunca, fazendo um solo que percorre todo o
final da canção.
Na
sequência, Elton – sempre uma esponja dos sons que estavam no
mundo pop – faz sua incursão no "Som da Filadélfia", de
muito sucesso na ocasião, com "Tell me When the Whistle Blows".
Pra tanto, chama o arranjador de The Three Degrees, The O'Jays e da
orquestra MFSB, Gene Page, para fazer as cordas. E os músicos de
Elton dão conta desta soul music com desenvoltura. Novamente,
Johsntone se destaca com sua guitarra. Por incrível que pareça, ele
é o único músico da banda que continuou todos estes anos com EJ e
se apresentou aqui em Porto Alegre em 2013.
Depois
vem o momento mais dramático do disco, "Someone Saved my Life
Tonight", no qual Elton conta sem rodeios sua tentativa de
casamento e a subsequente tentativa de suicídio. "Alguém
salvou minha vida esta noite/Quase teve suas garras em mim, não é
querida?/Você quase me teve amarrado e preso/ Direto pro altar,
hipnotizado/ A doce liberdade soprou no meu ouvido/ Você é uma
borboleta/ E borboletas são livres pra voar/ Voar pra longe, bem
alto, adeus". Este refrão dá à medida o drama que Elton
viveu neste momento. Tudo apresentado numa moldura pop onde todo o
grupo chega ao ápice de uma balada. E os backing vocais...
nossa!
O lado
2 começa com rock'n’roll de "Meal Ticket". Só mesmo
Elton pra falar de ticket refeição e da falta de comida num
rockão. "Enquanto os outros sobem, atingindo alturas O
mundo está na minha frente em preto e branco/ Estou no fundo do
poço, estou no fundo do poço... E eu tenho que conseguir um ticket
de alimentação/ pra sobreviver eu preciso de um ticket de
alimentação". As coisas não estavam exatamente boas pra
Elton e Bernie neste momento.
Já
"Writing" fala das dificuldades que eles enfrentavam, mas a
salvação estava em compor. No entanto, a incerteza sempre rondando:
"As coisas que escrevemos hoje/ Vão soar tão boas amanhã?".
Como o disco inteiro não teve uma música de trabalho, como diziam
os executivos das gravadoras, "Writing" é a canção que
mais se aproxima deste conceito. Uma melodia marcante bem pop com o
piano elétrico e o violão carregando o som.
"Better
Off Dead" tem um tom dramático usando o piano e a bateria em
uníssono e a letra dizendo que: "Se a chaleira está
fervendo e o carvão está no fogo/ Se você pergunta como estou eu
digo inspirado/ Se o espinho da rosa é o espinho cravado em você/
então é melhor você estar morto se ainda não morreu".
Uma constante neste disco é a intervenção da banda de Elton nos
backing vocais. Poucas vezes se ouviu num disco pop um grupo
tão coeso e inspirado como este. Eles dão um show nesta canção.
A
música mais dolente do disco vem a seguir: "We All Fall In Love
Sometimes". Como o título diz, todos nós nos apaixonamos às
vezes. Uma canção de amor com o piano de Elton segurando a melodia,
enquanto um sintetizador faz a cortina. A banda entra mas é Elton
quem brilha. "A lua está cheia/ E a luz das estrelas encheu
a noite/ Compusemos e eu toquei/ Alguma coisa aconteceu, é estranha
esta sensação/ Noções tímidas que são infantis/ Canções
simples que tentaram esconder/ Mas quando chega/ Todos nós nos
apaixonamos às vezes". A doçura de EJ se descortinando
inteira nesta canção.
E como
todo disco pop da época, o final é bombástico. "Curtains"
traz Elton e sua banda com todo o gás pra fechar esta história de
luta, sofrimento e superação. É a cortina que fecha o palco onde
este drama se desenvolveu. Tem até sinos e um "Lum-de-lum-de-lay"
nos vocais. E a letra diz: "Mas tá certo/ Tem tesouros que
as crianças sempre procuram/ E como nós/ Você deve ter/ O seu
era-uma-vez". Esta crônica destes tempos difíceis iria ser
retomada 31 anos depois com um disco bom chamado "The Captain
and The Kid", no qual o resto da história é contado. Mas posso
fazer um resumo pra vocês. Até 1970, Elton lutou muito e sofreu
todo este calvário que um músico enfrenta, aqui ou em qualquer
lugar, E, então, o sucesso chegou. Durante cinco anos, Elton John
Silva foi o rei do mundo pop. E, em 76, lançou "Rock of the
Westies", que não fez tanto sucesso assim. Logo, outro rei foi
colocado no trono: Peter Frampton, com seu "Frampton Comes
Alive". Mas essa é outra história.
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FAIXAS:
1. Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy - 5:46
2. Tower of Babel - 4:28
3. Bitter Fingers - 4:33
4. Tell Me When the Whistle Blows - 4:20
5. Someone Saved My Life Tonight - 6:45
6. (Gotta Get A) Meal Ticket - 4:00
7. Better Off Dead - 2:37
8. Writing - 3:40
9. We All Fall in Love Sometimes - 4:15
10. Curtains - 6:15
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OUÇA:
por Paulo Moreira
Sou grande fã e admirador da obra de Sir Elton John e gosto muito de vários álbuns e hits seus, mas, tirando o clássico "Someone Saved My Life Tonight", este Captain Fantastic é na minha opinião um dos discos mais fracos lançados por ele, apenas pelo fato de não ter tantas faixas conhecidas como, por exemplo, Goodbye Yellow Brick Road, de 1973 (o melhor disco dele pra mim). Apenas isso.
ResponderExcluirRespeitamos muito sua opinião, Igor. Obrigado por colocá-la aqui.
ExcluirDe nada, chefe! Sempre que precisar, estou por aqui, beleza?
ExcluirSimplesmente o melhor Álbum do sir Elton John. Fantástico e parabéns pela resenha muito bem feita.
ResponderExcluirPra você ver como são as coisas... Na primeira ouvida deste álbum eu achei-o fraco e vim aqui no blog comentar a respeito, mas só depois de muitas audições posteriores mais atentas é que eu pude enfim perceber o quanto Captain Fantastic é realmente muito bom, talvez no mesmo nível do clássico absoluto Goodbye Yellow Brick Road (1973). Aliás, quem assistiu ao filme Rocketman (2019) que conta a história de Elton John, se lembra muito bem das histórias que as letras das canções deste LP de 1975 nos contam faixa-a-faixa. Grande álbum do astro pop inglês, sem dúvida!
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