O
cinema argentino vive um grande momento, mesmo com a economia em
ruínas e a situação caótica do país. Mais uma prova do vigor
desta cinematografia que a cada dia conquista mais cinéfilos por
todo o mundo é “Relatos Selvagens” do diretor Damián
Szifron. Usando seu próprio roteiro, Szifron conta seis histórias
bem distintas onde a interferência intrusiva da sociedade, de seus
preceitos e suas limitações na vida dos indivíduos acaba por levar
a mais completa e insana barbárie.
O astro Ricardo Darín no papel do homem
que enfrenta a burocracia argentina
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Os
episódios se sucedem: o primeiro mostra um voo comercial aonde os
passageiros vão descobrindo aos poucos que têm algo em comum. No
segundo, uma jovem garçonete de um boteco de beira de estrada se vê
às voltas com o homem que causou problemas em sua família. O embate
entre classes é o tema do terceiro onde um burguês em seu
supercarrão tem sua ultrapassagem impedida numa estrada por uma
fubica toda enferrujada. No quarto episódio, o darling do
cinema argentino, o ótimo Ricardo Darín, é um engenheiro de
explosões que se vê envolvido com o guinchamento de seu carro e o
consequente mergulho no mar da burocracia estatal. Já o episódio
número 5 trata de um atropelamento e fuga que resulta em morte e em
uma negociata das mais sórdidas para impedir a prisão do jovem
condutor. Por fim, em plena festa de casamento, noiva descobre que
uma das amantes do noivo está no salão e surta.
Erica Rivas, em primeiro plano,
se destaca como a noiva em surto
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Em
todos estes aparentemente distintos episódios, a reação às
injustiças sociais, urbanas, pessoais e estradeiras acaba por
decretar uma catarse nos personagens. O absurdo de algumas situações
cotidianas enfrentadas por cada um de nós nem sempre tem o desfecho
que gostaríamos. Acabamos nos acomodando e seguindo em frente, mesmo
que estejamos com razão. Os personagens de Szifron não pensam assim
e partem para o confronto, sempre com consequências trágicas, em
uns momentos, e tragicômicas, em outros. Os espectadores mais
ligados em cinema poderão lembrar-se de “Um Dia de Fúria”, de
Joel Schumacher, com Michael Douglas, ou ainda de “Fora de
Controle”, com Ben Affleck e Samuel L. Jackson. Mas o tratamento
que Damián Szifron dá às histórias e aos personagens é
infinitamente mais realista do que a visão simplista dada por
Hollywood a estes casos. A violência é explícita e crua, mas
também é real. Ricardo Darín é, indiscutivelmente, o astro do
filme, mas cada história conta com um elenco de atores da melhor
qualidade, destacando Erica Rivas como a noiva enlouquecida, Rita
Cortese como a cozinheira e Mauricio Nunez, como o pai do jovem
atropelador, entre outros.
Curiosamente,
o filme tem produção da El Deseo, a empresa de Pedro Almodóvar e
de seu irmão Agustín. A julgar pelo sucesso crítico e estilístico
de “Relatos Selvagens”, poderia se esperar que Almodóvar se espelhasse em seu produzido e voltasse a fazer filmes interessantes,
trilha da qual se afastou no horroroso “Os Amantes Passageiros”,
um dos piores jamais vistos nos últimos tempos. “Relatos
Selvagens” já é um dos melhores filmes do ano.
por Paulo Moreira
"mesmo com a economia em ruínas e a situação caótica do país"
ResponderExcluirEso no es verdad
De parte de un argentino
Desculpe, argentino, mas as informações que se tem dão conta que a situação não é muito boa.
Excluir'Caótica' pode ser um pouco demasiado, é verdade, mas pra boa não está.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/01/entenda-crise-economica-e-politica-na-argentina.html