Não sei o que mais
chama a atenção nesta foto: a superbarba do Lee Marvin, o tapa-olho
do John Wayne ou a elegância do Clint. Mas uma coisa eu sei: o que
tem as mais escabrosas histórias a contar é o Robert Evans. O homem
já era um milionário da Costa Leste, ligado à indústria da moda,
quando foi descoberto por Norma Shearer nadando numa piscina de hotel
em LA. Virou ator famoso, ainda que medíocre. Não se contentou:
queria ser o novo Darryl Zanuck, o bambambam dos estúdios de “OIiú”.
E conseguiu. Como produtor, tirou a Paramount da ingrata nona posição
entre os maiores estúdios para o primeiro lugar – em apenas quatro
anos, entre o fim dos 60 e o começo dos 70. Produziu “Love Story”, "O Poderoso Chefão", “Ensina-me a Viver”, “Chinatown” e
“Maratona da Morte”.
Quando ninguém
queria dirigir o filme inspirado no livro de Mario Puzo, foi ele quem
teve a ideia de chamar Coppola, um jovem de 30 anos que tinha feito
três fracassos até então, mas que reunia uma virtude: era o único
diretor ítalo-americano da época. E um filme sobre a máfia só
funcionaria se fosse comandado por alguém "de dentro" –
até então, a maioria dos filmes de gângster eram dirigidos por
judeus. E não emplacavam.
À época de ‘Love
Story” (filme que causou uma explosão de nascimentos de crianças
nove meses depois do lançamento), Evans casou com a Ali McGraw. Era
rico, bonito, bem-sucedido, tinha a mulher mais linda da época e
linha direta com Henry Kissinger. Enfim, a vida mais invejável do
mundo, aparentemente. Mas ele se preocupava demais em trabalhar. Em
novos sucessos. Depois de dois meses na Europa comercializando os
direitos de “O Poderoso Chefão”, Evans lembrou de ligar para a
esposa, que filmava “Os implacáveis”, com Steve McQueen. Pobre
Evans. Logo para quem acabou perdendo a mulher. "Você
poderia ser o homem mais poderoso do mundo, mas perder a esposa para
McQueen fazia me sentir insignificante", reconheceu.
Dali em diante,
Evans ainda emplacou algumas coisas nos anos 70, como o próprio
“Chinatown”, baseado num roteiro que ninguém entendia. "Eu
não compreendia aqueles diálogos, mas se o Robert Towne garantia
que era bom, então eu insisti", relembra. Valeu e pena,
tanto que ganhou tudo quanto é prêmio, como todos sabem. Fato é
que a traição pesou. Nos 80, Evans apostou todas as suas fichas em
“Cottom Club”, também de Coppola e com o Richard Gere, que
acabou sendo um fracasso. Ali, na verdade, o próprio produtor já
estava fracassando. Pirou na cocaína, foi parar num hospital
psiquiátrico – de onde conseguiu fugir a muito custo. Perdeu sua
mansão em LA. Como não conseguia se desvencilhar da velha vida,
acabou alugando a ex-casa para morar. Pagava 25 mil dólares mensais
– isso estando quebrado. A casa acabou recomprada por Jack
Nicholson, que presenteou o amigo com o pequeno regalo.
Quando recomeçava,
foi acusado de assassinato, em um processo inconclusivo que levou
quase uma década. Nos 90, recomeçou como produtor, tentando
emplacar porcarias como “O Santo”, “O Fantasma” e “Jade”.
Ganhou dinheiro (e provavelmente mais alguma coisa da Sharon Stone)
com “Invasão de Privacidade”. Na prática, a melhor coisa que
fez desde então foi escrever o livro "The Kid Stays in the
Picture", que deu origem ao documentário "O Show Não Pode
Parar", de 2002 – onde conta tudo isso. Na carreira, no
entanto, fico em dúvida entre as coisas pelas quais mais o admiro:
1) Ter batido pé para Coppola estender “O Poderoso Chefão”,
quando o diretor entregou o filme com 2h7min; 2) Ter metido a mão na
trilha de “Ensina-me a Viver”, colocando Cat Stevens no filme
mais sui generis que já vi; ou, claro, 3) Ter casado com a
Ali McGraw. Cara legal esse Evans.
por Ricardo Lacerda
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