foto; Wilson Dias/ Agência Brasil |
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais cheios de mocidade?
Que diferença haverá entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos inventarão entre si os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula que o homem,
cheio de ardor, atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura?
E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará então a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas,
homens especiais que,
de repente, possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar para o ano três mil
ao ano dois mil?
Millôr Fernandes
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