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segunda-feira, 22 de junho de 2015

"O Abutre", de Dan Gilroy (2014)



Desde que vi, no cinema, o trailer do filme "O Abutre" já fiquei impressionado pela breve mostra da atuação de Jake Gyllenhaal e, às vésperas do Oscar, como estávamos na época, chamou-me a atenção o fato de não estar entre os indicados para melhor ator, mas, enfim, a amostragem havia sido pequena e eu podia estar enganado.
Mas não estava.
Pois só agora, então, tive a oportunidade de assistir ao filme e ele me confirmou a boa expectativa e a impressão da performance do ator. Gyllenhaal está quase irreconhecível, esquálido, rosto chupado, cabelo escorrido, expressão tresloucada, olhar fixo, quase sem piscar. Ele encarna Louis Bloom um pequeno vigarista que ganha a vida com pequenos furtos e golpezinhos mas que descobre, por acaso, na violência da madrugada a possibilidade de ganhar uma boa grana vendendo vídeos de crimes, incêndios, acidentes e outras tragédias urbanas a redes de TV sensacionalistas. Alcançando êxito em sua nova empreitada de cinegrafista amador e videomaker, ele não mede esforços nem consequências, deixando para trás qualquer escrúpulo ou noção ética para obter as melhores matérias.
O abutre farejando a carniça
na noite de Los Angeles
O filme, uma variação do argentino "Abutres" (2010) que por sua vez, com a mesma ambição do protagonista abordava a área da saúde, não é espetacular, não é brilhante, mas é um bom filme, muito bem conduzido pela mão do bom Dan Gilroy, estreante na direção, e a atuação de Jake Gylenhaal, mais uma vez merece todo o destaque.
Embora não seja um daqueles filmes com "mensagem", "moral da história" e coisas do tipo, "O Abutre" nos leva a algumas reflexões sobre a qualidade e conteúdo da mídia televisiva, a sede de sangue da sociedade enquanto espectadores e consumidores, sobre a ética de uma maneira geral em nossas vidas e no mundo que vivemos, mas também, independente de julgamentos pelos meios, métodos e princípios por parte da personagem, a pensar de uma maneira mais interessante sobre determinação e planejamento pra fins de uma escalada ambiciosa na vida. Louis Bloom extrapola os limites, é verdade, mas não deixa de ser um personagem extremamente cativante, talvez pela inocêcia de seus atos. Sim, inocência, sim! Mesmo nos mais cabeludos,nos que compromete vidas, ele, efetivamente, não o faz por maldade. Seu egoísmo, seu foco, seu objetivo, o fazem ver simplesmente sua conta bancária, seu negócio, seu sucesso crescerem, sendo as perdas pelo caminho, ora, meros objetos para seus fins. No fim das contas vemos que ele não é mais vilão do que toda a sociedade em si. A violência já está lá, ele só faz levá-la ao consumidor. E o consumidor gosta. E pede mais. Sangue, sangue.


Cly Reis

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