Ele é realmente interessante assim.
Esses prédios começando de cima, o céu embaixo, as pessoas no alto...
Afinal, não dizem que o mundo está mesmo de cabeça pra baixo?
Pena que eu só tenha parado pra pensar em outra visão de mundo agora, assim, aqui, dependurado pelos tornozelos por esse cara que insiste em me perguntar sobre algum dinheiro.
Já disse milhares de vezes que não sei. Não sei de dinheiro algum, não sei onde está o tal dinheiro. Nem conheço as pessoas que ele se refere.
Na verdade, já levei um bocado de socos, pontapés e choques elétricos antes de estar aqui, na borda desse terraço, vendo a cidade invertida, até por isso acredito que seja a última oportunidade de dizer alguma coisa.
Mas dizer o que? Não sei de dinheiro nenhum. E de mais a mais, mesmo que soubesse não diria. Tenho certeza que ele vai me largar mesmo que eu entregue o jogo.
Conheço o cara. É dos piores! Sei que não tem nenhum dó, nenhuma piedade.
Nunca atenderia um pedido final de uma de um torturado.
Grito, me desespero!
Peço que me largue.
Tenho certeza que esta deve ter sido a única vez que atendeu o pedido de uma de suas vítimas.
Nunca pensei que a palavra chão tivesse uma ligação tão próxima com a palavra...
FIM.
Cly Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário