Quando se trata de jornalismo no cinema, Hollywood tem
alguns acertos em sua história. Podemos lembrar de "A Montanha dos Sete Abutres" e “A Primeira Página”, de Billy Wilder, ou de “Todos os Homens do Presidente”, de Alan J. Pakula, e “O Jornal”, de Ron Howard, este último em
menor escala. Agora, junta-se a esta lista “Spotlight - Segredos Revelados”, filme dirigido por Tom McCarthy
(“O Agente da Estação” e “O Visitante”). Usando como tema a história real de um
grupo de jornalistas do Boston Globe que desvendou o escândalo dos padres
pedófilos nos Estados Unidos, McCarthy e seu co-roteirista, Josh Singer, dão um
banho de narrativa.
Normalmente, o approach
hollywoodiano é o de encobrir o principal com ângulos espetaculares, movimentos
de câmera de tirar o fôlego e histrionismo. Em “Spotlight”, o diretor foge
desta espetacularização. Seu roteiro segue um caminho de “começo-meio-fim” sem
desvios, sem arroubos, sem foguetório. O que interessa a McCarthy é contar esta
história de maneira com que o espectador entenda o que aconteceu durante todo o
processo de apuração do caso. “Spotlight” fascina exatamente por esta razão:
narrar os acontecimentos reais da maneira mais correta.
John Slatery faz o importante papel de Ben Bradlee Jr. |
Além de seu roteiro e da fotografia simples e efetiva de
Masanobu Takayanagi, o filme tem um elenco que valoriza cada momento da trama.
É claro que Mark Ruffalo e Michael Keaton se destacam, mas é sempre bom lembrar
que Rachel McAdms é uma boa atriz e que o filme tem uma lista de coadjuvantes
de altíssima ordem, como Paul Giulfoyle, Liev Schreiber, Brian d'Arcy James,
Len Cariou, Billy Crudup e Jamey Sheridan. Também tem um papel emblemático: o
ator John Slattery (de “Mad Man”), que interpreta Ben Bardlee Jr., um
personagem por si só importante. Seu pai, Ben Bradlee, era o editor do
Washington Post durante a apuração do caso Watergate, que deu origem a “Todos
os Homens do Presidente”. Na época, Bradlee foi um dos poucos editores do Post
a dar guarida às investigações preliminares da dupla de jornalistas Bob
Woodward e Carl Bernstein, que resultaram na renúncia de Richard Nixon. Anos
depois, foi a vez de seu filho se tornar um dos principais incentivadores da
turma do Spotlight a prosseguir com a checagem de toda a história de pedofilia
dos religiosos de Boston.
Tom McCarthy usa o thriller
como maneira de prender a atenção do espectador. As ingerências, os desvios, as
falsas pistas, a interferência oficial, tudo está ali. Por isso, “Spotlight”
está sendo considerado um dos melhores filmes do ano e sério candidato ao
Oscar. Para nós jornalistas, um alento que histórias terríveis como estas
tenham sido desvendadas e esclarecidas. Para o público em geral, um banho de
interpretações e de segurança narrativa como há muito não se via no cinema americano.
Por tudo isso, recomendo efusivamente “Spotlight”.
trailer "Spotlight"
por Paulo Moreira
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