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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Oscar 2016 - Os Vencedores




E "Mad Max: Estrada da Fúria" foi o grande vencedor da noite! Bom, isso quantitativamente, porque qualitativamente o vencedor da noite pode ser considerado "O Regresso", com prêmios em algumas das principais categorias. Mas isso se, mesmo ganhando prêmios tão significativos, "Spotlight: Segredos Revelados" não tivesse levado o principal prêmio da noite. Foi isso, uma noite de premiações bastante divididas. Enquanto o road-movie apocalítico "Mad Max" arrebatava praticamente todos os prêmios técnicos, o incensado filme do mexicano Iñárritu conquistava aqueles que dão o grande indicativo de qualidade de um grande filme, exceto o de melhor filme que foi parar nas mãos do investigativo "Spotlight".
Numa cerimônia marcada pela polêmica das indicações para atores negros em Hollywood, tivemos um Chris Rock bastante desenvolto na condução dos trabalhos apesar de uma desconfortável insistência na questão racial, uma bela performance de Lady Gaga apresentando a canção do filme "The Hunting Ground", uma interpretação pífia de Dave Grohl tocando "Blackbird" dos Beatles durante a homenagem aos falecidos; o tricampeonato de Emmanuel Lubezki na fotografia e o bi de Iñárritu como diretor, fato que só acontecera duas vezes anteriormente na história da premiação.
As surpresas ficaram por conta de "Ex Machina" cujo principal mérito na minha opinião é o roteiro  de trama labiríntica e inteligente, ter levado o prêmio de efeitos visuais em detrimento a "Star Wars ep.VII: O Despertar da Força" ou até mesmo a "Mad Max" que vinha faturando todos os técnicos até então; a canção original ter ficado com a chatíssima trilha de "007 contra Spectre", a pior da história de James Bond; e, não exatamente surpresa, mas uma ponta de desapontamento que tenho certeza muitos compartilham  comigo, com o fato do carismático Silvester Stallone não ter levado sua estatueta por sua atuação em "Creed" nesta que provavelmente terá sido sua última chance.
No mais, "Amy", confirmou o favoritismo nos documentários; o mestre Ennio Morricone, com a trilha para "Os Oito Odiados", finalmente ganhou seu Oscar por um filme (havia ganho pelo conjunto da obra); e Leo, de grande crescimento artístico nos últimos anos, é verdade, mas favorecido esse ano por todo um contexto de ausência de medalhões como Nicholson, Redford, De Niro, de concorrentes em papeis de deficientes que sempre sensibilizam a academia, ou que revivessem personalidades históricas, finalmente levou sua tão desejada estatueta dourada pra casa. Nunca vi uma campanha tão grande para que um ator levasse esse prêmio mas, enfim... Que seja. Aleluia!
Ah, e antes que eu esqueça, não foi dessa vez que o Brasil trouxe o seu Oscar.

Confira abaixo a lista completa dos ganhadores:

Di Caprio e Iñárritu, os dois grandes
vencedores da noite.

Melhor filme
"Spotlight: Segredos revelados"


Melhor ator
Leonardo DiCaprio ("O regresso")

Melhor atriz
Brie Larson ("O quarto de Jack")

Melhor diretor
Alejandro G. Iñárritu ("O regresso")

Melhor canção original
"Writing's on the wall", Sam Smith ("007 contra Spectre")

Melhor trilha sonora
"Os 8 odiados", de Ennio Morricone

Melhor filme estrangeiro
"O filho de Saul" (Hungria)

Melhor curta de live action
"Stutterer"

Melhor documentário
"Amy"

Melhor documentário de curta-metragem
"A Girl in the River: The Price of forgiveness"

Melhor ator coadjuvante
Mark Rylance ("Ponte dos espiões")

Melhor animação
"Divertida mente"

Melhor curta de animação
"Bear Story"

Melhores efeitos visuais
"Ex Machina"

Melhor mixagem de som
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor edição de som
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor montagem
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor fotografia
"O regresso"

Melhor cabelo e maquiagem
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor design de produção
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor figurino
"Mad Max: Estrada da fúria"

Melhor atriz coadjuvante
Alicia Vikander ("A garota dinamarquesa")

Melhor roteiro adaptado
"A grande aposta"

Melhor roteiro original
"Spotlight - Segredos revelados"





Cly Reis

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

“Spotlight - Segredos Revelados”, de Tom McCarthy (2015)


Quando se trata de jornalismo no cinema, Hollywood tem alguns acertos em sua história. Podemos lembrar de "A Montanha dos Sete Abutres" e “A Primeira Página”, de Billy Wilder, ou de “Todos os Homens do Presidente”, de Alan J. Pakula, e “O Jornal”, de Ron Howard, este último em menor escala. Agora, junta-se a esta lista “Spotlight - Segredos Revelados”, filme dirigido por Tom McCarthy (“O Agente da Estação” e “O Visitante”). Usando como tema a história real de um grupo de jornalistas do Boston Globe que desvendou o escândalo dos padres pedófilos nos Estados Unidos, McCarthy e seu co-roteirista, Josh Singer, dão um banho de narrativa.
Normalmente, o approach hollywoodiano é o de encobrir o principal com ângulos espetaculares, movimentos de câmera de tirar o fôlego e histrionismo. Em “Spotlight”, o diretor foge desta espetacularização. Seu roteiro segue um caminho de “começo-meio-fim” sem desvios, sem arroubos, sem foguetório. O que interessa a McCarthy é contar esta história de maneira com que o espectador entenda o que aconteceu durante todo o processo de apuração do caso. “Spotlight” fascina exatamente por esta razão: narrar os acontecimentos reais da maneira mais correta.
John Slatery faz o importante papel de Ben Bradlee Jr.
Além de seu roteiro e da fotografia simples e efetiva de Masanobu Takayanagi, o filme tem um elenco que valoriza cada momento da trama. É claro que Mark Ruffalo e Michael Keaton se destacam, mas é sempre bom lembrar que Rachel McAdms é uma boa atriz e que o filme tem uma lista de coadjuvantes de altíssima ordem, como Paul Giulfoyle, Liev Schreiber, Brian d'Arcy James, Len Cariou, Billy Crudup e Jamey Sheridan. Também tem um papel emblemático: o ator John Slattery (de “Mad Man”), que interpreta Ben Bardlee Jr., um personagem por si só importante. Seu pai, Ben Bradlee, era o editor do Washington Post durante a apuração do caso Watergate, que deu origem a “Todos os Homens do Presidente”. Na época, Bradlee foi um dos poucos editores do Post a dar guarida às investigações preliminares da dupla de jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, que resultaram na renúncia de Richard Nixon. Anos depois, foi a vez de seu filho se tornar um dos principais incentivadores da turma do Spotlight a prosseguir com a checagem de toda a história de pedofilia dos religiosos de Boston.
Tom McCarthy usa o thriller como maneira de prender a atenção do espectador. As ingerências, os desvios, as falsas pistas, a interferência oficial, tudo está ali. Por isso, “Spotlight” está sendo considerado um dos melhores filmes do ano e sério candidato ao Oscar. Para nós jornalistas, um alento que histórias terríveis como estas tenham sido desvendadas e esclarecidas. Para o público em geral, um banho de interpretações e de segurança narrativa como há muito não se via no cinema americano. Por tudo isso, recomendo efusivamente “Spotlight”.

trailer "Spotlight"