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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

"Amy", de Asif Kapadia (2015)



Tem categorias do Oscar que fica difícil saber quem é favorito, pois não é possível ter uma noção geral da mesma em terras brasileiras. É o caso da de Documentário, que dificilmente se terá acesso a todos os concorrentes daquela edição do prêmio. Porém, a um dos candidatos nessa categoria tive o prazer de assistir: “Amy”, de Asif Kapadia, uma biografia cinematográfica da cantora e compositora britânica Amy Winehouse. Morta em 2011, Amy, conhecida por seu poderoso e profundo contralto vocal e sua mistura eclética de gêneros musicais como soul, jazz e R&B, foi o grande talento da música pop dos últimos tempos, uma cantora comparável a nomes como Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Porém, como o filme retrata em detalhe, os problemas de relacionamento, as drogas, o álcool e a dificuldade de lidar com a mídia, a impediram de alçar uma carreira muito mais promissora daquela que teve.

Por retratar uma estrela pop do século XXI, o filme possui, além de vários depoimentos de amigos, familiares e profissionais do meio artístico, bastante material audiovisual, desde filmes caseiros a vídeos de webcam – afora, claro, de reportagens de televisão e rádio. Isso torna o documentário – que não é um musical, embora retrate a vida de uma musicista – bastante rico em conteúdo. Assim, o diretor consegue ter subsídio suficiente para traçar a história da artista em detalhes, o que, por consequência, dá ao espectador bastantes elementos para entendê-la mais profundamente. Ficam evidentes, por detrás do enorme talento dessa judia descendente da Rússia, os problemas psicológicos – como a bulimia –, as dificuldades das relações familiares e os casos amorosos tumultuados, como o com o ex-marido Blake Fielder-Civil. Mostra-se uma Amy apaixonada por sua arte, cercada por milhões de pessoas mas extremamente solitária e frágil.

Tony Bennet e Amy, duas gerações em plena sintonia.
Tem o lado mais agradável também. É possível acompanhar o crescimento artístico de Amy, desde as apresentações em pubs de Londres e região, os primeiros parceiros musicais e os que a acompanharam desde sempre, como o produtor e amigo Salaam Remi. Bonita também é a passagem da gravação que ela fizera com Tony Bennett, em que a admiração recíproca é evidente. Vê-se ainda a relação com o mundo do mainstream e, mais delicioso ainda, a criação de algumas de suas canções. Após um bem recebido CD “Frank” (2003), o filme mostra Amy em período sabático nos Estados Unidos, onde passa o dia compondo e gravando algumas das músicas que se tornariam sucessos mundiais no aclamado "Back to Black", de 2006, como “Rahib” e "You Know I'm No Good", a faixa-título e outros singles.

Entretanto, a meteórica ascensão ao estrelato, a mesma que motivara astros igualmente jovens no passado Janis JoplinJim Morrison e Kurt Cobain, sufocara também a menina mal saída da adolescência. Por total falta de controle emocional, haja vista que as conturbadas e irresolutas relações familiares – principalmente com o pai –, inviabilizava qualquer amadurecimento, Amy sucumbe às drogas e, cada vez mais doente, interrompe cedo a carreira numa trágica morte. Entretanto, é visível sua dedicação àquilo que fazia, bem como consciência nada vaidosa de sua própria figura pública, fator que ao mesmo tempo a diferenciou dessa leva quase unânime de celebridades narcisistas e a fragilizou perante o opressor universo do entretenimento.

Um bonito filme com a trilha sonora assinada pelo brasileiro e "pequeno cidadão" Antonio Pinto, já responsável por outras trilhas de respeito no cinema do Brasil (“Central do Brasil”, “Cidade de Deus”) e estrangeiro (“Colateral”, “Trash – A Esperança vem do Lixo”). Enfim, um filme que vale ser visto tanto por retratar a vida de uma das maiores cantoras que a música popular já viu, quanto, por evidenciar problemas típicos da sociedade moderna como a “fogueira das vaidades”, o poder destrutivo mídia e a solidão da era digital. Não vi os que concorrem com “Amy” ao Oscar, mas não será nada absurdo se vencer a estatueta.

ASSISTA AO FILME:




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