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sexta-feira, 16 de março de 2018

cotidianas #557 - Sumir em meio à bagunça




"Você ainda vai sumir no meio dessa bagunça", era o que sempre dizia a mãe do Aristides ao entrar no escritório do filho para levar um lanchinho ou algo do tipo e, não vou fazer suspense aqui, a previsão da dona Laura um dia se confirmou.
Sempre que entrava no escritório, dona Laura tinha que desviar das pilhas de livros, revistas, polígrafos, encadernações, pastas, arquivos, alfarrábios que, tendo excedido há muito tempo os espaços das estantes, se acumulavam altas desde o chão criando uma sinuosa e imprecisa trilha até a mesa de trabalho do filho.
Aristides, por sua vez, leitor incontrolável, um estudioso, um interessado, um curioso, praticamente não saía daquela saleta afundado em suas publicações absorvido em estudos, histórias ou anotações.
Certa tarde, dona Laura bateu de leve na porta, como sempre fazia e foi entrando, tomando cuidado para não esbarrar nas pilhas tão altas que sequer lhe permitiam ver a mesa do filho no outro lado da sala. "Você ainda vai sumir no meio dessa bagunça", voltou a exclamar, como o fazia praticamente todos os dias. Se esgueirando por aquele labirinto de papel, com uma bandeja de lanche nas mãos ela finalmente chegou à escrivaninha de Aristides. Curiosamente o rapaz não estava lá. Achou estranho e curiosa aproximou-se da escrivaninha onde o filho sempre trabalhava. Deixou a bandeja em cima de mesa com cuidado para que não amassasse ou sujasse os livros e escritos ali espalhados e movida por uma incontrolável curiosidade e por uma sensação que ali estaria uma explicação para o sumiço do filho, resolveu dar um espiada no livro que jazia aberto diante da cadeira. Na página aberta dizia: "Entrou no escritório tomado com uma bandeja na mão. Não encontrando o amo no meio daquela confusão de livros, revistas, apostilas, pepeis velhos, antigas publicações e pergaminhos, dirigiu-se até a mesa onde o professor costumava trabalhar. Acomodou a bandeja sobre a mesa com cuidado para não danificar nenhum dos documentos e publicações ali dispostos e deparando-se com um livro aberto exatamente diante da cadeira do leitor, movida por uma incontrolável curiosidade e tendo a sensação inexplicável de que aquele livro poderia conter a resposta sobre o paradeiro do seu senhor, pôs-se a ler a página aberta.".


Cly Reis

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