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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

cotidianas #609 - O Morador



Batem à porta.
Um senhor de idade já bastante avançada, meio encurvado e de óculos na ponta do nariz, atende.
- Sr. Aldo? - pergunta um homem parado à porta do lado de fora.
- Não. Sr. Oscar.
- ... É que o Sr. Aldo, o corretor, tinha marcado comigo aqui pra conhecer a casa....
- Ah, os corretores! - exclamou o velhote com ar de enfado - Eu sempre tenho que ficar os espantando daqui.
- Quer dizer que a casa não está a venda?
- Não está, nem estará.
- O senhor é o dono?
- Eu mesmo.
- Me disseram que a casa estava vazia... - deixou escapar o interessado com uma indisfarçável ponta de decepção na informação.
A resposta foi inequívoca:
- Eu vivo aqui há anos e não pretendo sair tão cedo. - reafirmou em tom amistoso.
Conformado com o possível mal-entendido com a imobiliária, o potencial comprador desculpou-se com o velho dono do imóvel, despediu-se e virando-se para tomar o caminho do portão, ouviu a porta bater com estrondo às suas costas. Atravessou o pequeno jardim frontal que separava a casa da calçada e quando ia quase deixando o terreno percebeu um carro que estacionava junto ao meio-feio, em frente à propriedade. Um homem bem vestido, elegante, de terno, saiu do veículo e caminhou em sua direção.
- Perdoe-me o atraso. O senhor deve ser o Sr. Moretti. Eu sou Aldo, da imobiliária. - informou estendendo a mão para um cumprimento, gesto que foi correspondido pelo outro lentamente como que despertando de um aturdimento
- Vamos entrar para ver a casa? - completou o corretor.
- Mas e o morador?
- Morador? Ninguém mora aqui há uns dez anos. O último morador, acho que se chamava... Oscar, morou aqui até o fim da vida. Mas não é nada que possa lhe "assombrar". - pronunciando a última palavra com um estremecimento jocoso na voz - Morreu na velhice. Mas o imóvel está em ótimo estado. Gostaria de entrar para ver?



Cly Reis

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