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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

"[REC]", de Jaume Balgueró e Paco Plaza (2007) vs. "Quarentena", de John Erick Dowdle (2009)



Que mania que os americanos tem de achar que podem pegar filmes de polos menos tradicionais no cinema e fazer melhor! Nem sempre é bem assim. É o caso de "Quarentena", tentativa hollywoodiana de refilmagem de "[REC]", terror espanhol de baixo orçamento, catapultado, desde seu lançamento, ao status de novo clássico do gênero. Num filme caracteristicamente falso-documentário, onde tudo tem que soar o mais natural possível, "Quarentena", pelo contrário  mostra-se frio e artificial, com cenas que claramente forçam um realismo e muitas excessivamente bem preparadas e tratadas. Já o original, mais cru, mais "amador", é muito mais convincente em sua proposta, e o formato câmera na mão, ligada o tempo inteiro, além de justificar-se plenamente em praticamente todas as situações, funciona muito bem na condução da trama.
Uma repórter e seu cinegrafista, desses da madrugada, que ficam em busca de algum acontecimento interessante, numa reportagem despretensiosa no corpo de bombeiros, decidem, para salvar a chata reportagem no quartel, acompanhar os bombeiros em uma chamada num edifício  residencial onde uma senhora, ao que parece estaria apresentando alguma dificuldade. Lá, depois da idosa apresentar um comportamento anormal e morder pessoas que tentavam auxiliá-la, todos se vêem às voltas com uma espécie de epidemia canibal e jornalistas e bombeiros são isolados pelas autoridades, junto com os moradores, dentro do prédio. Ah, é aí que o bicho pega! Sem ter como sair e vendo a legião de mortos-vivos-canibais aumentar à medida que cada novo morador é  mordido, é tensão e correria escada acima e escada abaixo, atravessando corredores estreitos e entrando e saindo de apartamentos. 


"[REC]" - trailer




"Quarentena" - trailer


A diferença é que no original a gente fica quase saltando da poltrona para cada nova situação que o filme apresenta,  enquanto que, no remake..., se está, simplesmente, assistindo a mais um filme de terror de Hollywood.
No tête-à-tête, embora a espanhola Manuela Velasco esteja perfeita no papel da repórter Ángela Vidal e tire o primeiro zero do placar, nossa eterna Emily Rose, Jenniffer Carpenter, com seu carisma e, até boa atuação, deixa tudo igual: 1x1. Mas daí pra frente o jogo ficá meio desigual. O clima sufocante, tenso e claustrofóbico, aliado à naturalidade e o realismo dentro da proposta de foud footage garantem o desempate para os espanhóis. O filme de Jaume Balgueró e Paco Plaza, ao contrário de sua cópia frustrada, tem cenas marcantes e que permanecem vivas na mente do fã de terror . A cena, por exemplo, em que, já  quase no final do filme, saindo do apartamento no último andar, a câmera do cinegrafista, ou seja, o olho do espectador, enquadra o vão da escadaria, repleto de zumbis, por todos os andares inferiores é de fazer o cara lembrar da cena sempre que olhar pra baixo num vão de escadas. Golaço! 3x1.

Pavor na escadaria.
Zumbis por todos os lados.

Ainda que "Quarentena" também faça menção às experiências científico-religiosas realizadas no prédio e igualmente nos revele, na cena do laboratório clandestino, a horrenda criatura que ainda vive ali, a Menina Medeiros de "[REC]", fruto original dos experimentos, já crescida e toda magricela, molenga, desengonçada e asquerosa, balançando aquele martelo descoordenadamente no escuro, sob a lente do infra-vermelho da câmera, é algo não só para não se esquecer como, certamente para ter pesadelos. Gol da Menina Medeiros! Virou goleada. 4x1.



A horripilante mulher, vítima original
de uma experiência que veio a causar toda a contaminação zumbi.

E quando parecia que não poderia acontecer mais nada no jogo, aos 48 do segundo tempo, já nos acréscimos,  ou melhor, já  nos créditos eis que num ataque fulminante "[REC]" guarda mais um. A trilha sonora final, "Vudú", um punk-surf do espanhol Carlos Ann, é outro golaço de "[REC]" e fecha o caixão do adversário.



Nossa repórter, Ángela Vidal, em três momentos.
Mesmo que Jannifer Capenter, em "Quarentena", tenha se saído bem
 a carismática Manuela Velasco foi um verdadeiro show de bola!



Mesmo com menos recursos, o time da dupla de diretores espanhóis, Plaza e Balgueró, mostrou uma proposta tática mais adequada ao tipo de jogo.
Foi um time com mais fome, um time que mordeu mais e, por consequência, acabou jantando o adversário.


 


por Cly Reis


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