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domingo, 20 de agosto de 2023

"Assalto ao Banco da Espanha", de Jaume Balgueró (2021)

 


Final de Copa do Mundo!

Espanha na final.

O país inteiro parando para assistir a Fúria.

Casas, bares, praças... Pessoas se reunindo e se aglomerado em todos os lugares na expectativa do primeiro título mundial da seleção espanhola.

Podia muito bem estar falando do jogo de hoje, na Copa do Mundo feminina da Austrália e Nova Zelândia, mas, no caso, me refiro à final do Mundial masculino de 2010.

Em "Assalto ao Banco da Espanha", aproveitando-se dessa mobilização popular e das consequentes modificações de sistemas de trânsito e segurança, um grupo de caçadores de tesouros, pretende invadir o banco mais seguro e protegido do país e roubar um artefato antigo que contém inscrições que indicam coordenadas para um tesouro de valor inestimável.

O problema é que para chegar ao objeto eles precisam acessar um cofre que é  considerado, nada mais nada menos que "O milagre da engenharia". Para isso, então, vão atrás de uma mente capaz de desvendar o segredo dessa maravilha mecânica: um jovem, recém saído da faculdade, mas que, por sua reputação, feitos e façanhas, ainda no período acadêmico, é disputado por poderosas multinacionais para liderar seus projetos.

Petrolíferas, mineradoras, conglomerados econômicos...? Que nada! O jovem Tom Laybrick (Freddie Highmore), instigado pelo desafio e cansado de ser sempre o "bom rapaz", topa a proposta dos aventureiros. Agora, o primeiro desafio é  descobrir o mecanismo do tal cofre, depois disso, como superá-lo, e, depois disso, aí sim, a principal tarefa, tão difícil quanto e ainda mais perigosa, que é  entrar nele, pegar o item e sair do banco com o objeto.

O diretor Jaume Balgueró, do clássico do terror "REC", conduz bem a trama e  consegue manter o espectador sempre interessado, inicialmente na questão do recurso secreto do cofre, depois nos preparativos do grupo, os contratempos, as soluções emergenciais e, por fim, a missão, tudo tendo como pano de fundo a campanha do time espanhol na Copa do Mundo da África do Sul. Com toques de "Missão Impossível", muita semelhança com "Onze Homens e Um Segredo", alguma coisa de "Truque de Mestre" e "Armadilha", "Assalto ao Banco da Espanha" funciona bem e deixa a gente na expectativa até o ultimo instante, até o apito final.

Hoje, dia da final da Copa do Mundo feminina da FIFA, na Austrália e Nova Zelândia, quando, novamente, milhares de pessoas estarão reunidas na Praça de Cibeles, em Madri, é bom ficar de olho, pois algo pode estar acontecendo, do outro lado da praça, no interior do Banco da Espanha.

Todo o povo na rua, na expectativa de ver o triunfo da seleção espanhola,
e o grupo só na espreita, de olho nas das facilidades que a situação lhes proporciona



Cly Reis 

quinta-feira, 19 de março de 2020

10 Filmes de Epidemias e Contaminações em Geral





As gotículas de saliva livres ao ar no bom sul-coreano "A Gripe".

Essa onda toda de vírus, quarentena, isolamentos, incerteza faz, inevitavelmente vir à cabeça de um cinéfilo diversas vezes em que o cinema retratou situações desse tipo, em alguns casos com muita semelhança. Como fazer listinha de filmes é o que a gente gosta, vamos aqui com 10 filmes em que transmissão de algum tipo de vírus, mal, infecção, doença ou algo inexplicável rendeu um filme e nele causou caos, pânico, alarde, correria, mortes ou tudo isso junto.
Já que não dá pra sair de casa, o negócio é ficar na frente da TV e ver alguns dos filmes que indicamos aqui.
Isso, é claro, se você não for entrar em pânico.
Calma! Calma!
Sem pânico.
Senta na poltrona, saca o controle remoto e simbora catar os filmes da nossa lista no streaming.


***********


1. "Contágio", de Steve Soderbergh (2011) - Não tem como não começar a nossa listinha com esse que, nesses tempos de alto risco de contágio, virou praticamente uma febre (ops!) no streaming. Um dos grandes méritos do filme do diretor Steve Soderbergh é o fato de  ao fato de ser, possivelmente, o mais verossímil e realista do ponto de vista científico e procedimental. O filme mostra, dia a dia, o avanço de uma doença com características muito semelhantes à atual que estamos vivenciando com as consequências sociais, as ações das autoridades e a corrida contra o tempo e contra os números crescentes de vítimas dos pesquisadores e órgãos de saúde. A primeira tosse, o contato com parentes, amigos, a propagação da doença, o aumento vertiginoso de mortes, a impotência das autoridades, o esforço dos cientistas, a quarentena, o consumo histérico, o sensacionalismo de parte da imprensa, o caos... tudo está muito bem retratado em "contágio" e de maneira muito convincente. 
Além de pertinente, na atual situação, um ótimo filme que mantém o interesse e a tensão o tempo todo. Detalhe para as cenas em que o diretor faz questão de mostrar mãos em maçanetas, corrimãos, botões de elevador, barras de ônibus, que só nos fazem lembrar o quento estamos em perigo.




2. "Epidemia", de Wolfgang Petersen (1995) - Outro que vai mais ou menos na mesma linha que o anterior, mas que peca por ser excessivamente hollywoodiano. Neste, um macaco levado para os EUA para pesquisas militares apanhado de uma aldeia na África, que havia praticamente sido dizimada por uma doença possivelmente provocada a partir dele, é "desviado" por um funcionário de triagem ao chegar ao seu destino, nos Estados Unidos, desencadeando a partir daí uma epidemia local rápida e letal, fazendo com que a pequena cidade de Cedar Creek seja mantida em quarentena. O filme até é bom, tem ritmo, tem envolvimento, mas as americanices tipo, soldado bom / soldado mau, perseguições frenéticas (até de helicóptero) e uma solução excessivamente rápida, comprometem um pouco o produto final.

"Epidemia" - trailer




3. "A Gripe", Sung-Soo Kim (2013) - Em meio a todo o exagero e heroísmo característico do cinema de ação sul-coreano, "A Gripe", mantém uma boa coerência e um bom grau de verossimilhança. O filme começa expondo uma situação de trabalho semi-escravo em que imigrantes miseráveis de Hong Kong se sujeitam a  serem transportados dentro de um contêiner para a Coréia para servir de mão de obra barata. O problema é que um deles, lá dentro, já demonstrava pequenos sinais de uma gripe e, um ambiente daqueles, fechado com aglomeração, era a pedida perfeita para o vírus se desenvolver. Ao chegar ao destino, praticamente todos já estão mortos pela doença, com exceção de um que sobreviveu e que foge para a área urbana de Bundang, uma cidade próxima a Seul e espalha a doença. O pânico chega, o caos cresce, o governo isola a cidade e em meio a isso tudo, uma médica, In-hye, especialista em doenças infecciosas vê sua filha ser contaminada pelo novo vírus, para não abandoná-la entre os doentes entra na área de quarentena e, mesmo de lá, com a ajuda do bombeiro Ji-Goo, com as poucas informações e recursos que tem, procura respostas e uma solução para o caso. Meio exagerado, cheio de clichês mas até bastante aceitável no que diz respeito à origem, ao avanço e todo o desenrolar social da coisa toda. 
Se nada convenceu você a não sair de casa, as cenas das gotículas se espalhando no ar quando os infectados tossem, o farão.





4. "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles (2008) - Aqui a epidemia não traz mortes. Pelo menos, não diretamente. Mas talvez seja o mais assustador se pensarmos a que ponto de degradação moral o ser humano pode chegar. Uma cegueira repentina começa a se alastrar entre a população e, diante do quadro, com um crescente e incontrolável número de casos, as pessoas são levadas pelas autoridades para isolamentos. Neles, com o passar do tempo e com o número de doentes crescendo e os problemas de higiene, comida, comunicação aumentando, revelando da pior maneira possível os mais desprezíveis e abjetos comportamentos humanas. Dentro de um destes locais de quarentena, uma mulher não infectada, em solidadriedade e amor ao marido, é mantida com ele no sanatório e, para não revelar-se a única sã lá dentro, sujeita-se, com toda uma decepção humana e resiliência, a todas as situações que aquele confinamento acarreta. 
O filme do brasileiro Fernando Meirelles baseado na obra de José Saramago, com a aprovação do escritor, traz uma série de outras questões importantes mas, principalmente, escancara como o ser humano se comporta em uma situação crítica dentro de um grupo em um espaço restrito, num estado limite, e como nessas situações, ao invés de prevalecer o espírito de solidariedade, ordem, princípios, o que revela-se é a vaidade, anarquia e sobretudo, o egoísmo. O fato de um cidadão estocar comida, álcool gel e outros gêneros de necessidade, privando vários outros ter terem a possibilidade de adquirir tais produtos, é uma pequena mostra de que muito do que está nessa ficção, não passa muito longe da realidade.




5. "Sentidos do Amor", de David MacKenzie (2011) - Outro filme que explora os sentidos. Mas aqui as pessoas não perdem apenas um, mas todos. Às voltas com a investigação sobre uma aparente epidemia que leva à perda de olfato, uma epidemiologista envolve-se emocionalmente com um chef de cozinha e juntos, cada vez mais apaixonados, eles vão presenciando, vivenciando e sofrendo, em meio a memórias e questionamentos, a gradual perda dos demais sentidos. 
Interessante é que cada perda de sentido é precedida por uma crise emocional individual com choro, raiva, excessos, e um caos coletivo posterior a ela que leva a reações parecidas com a de "Ensaio Sobre a Cegueira", como violência, desordem, ganância, com a diferença que em "Sentidos do Amor", as pessoas, passado o desespero inicial, ao perderem um, meio que conformam-se e acabam meio que se adaptando aos sentidos que restam. "Não consigo cheirar, mas posso sentir o gosto da comida...", "Não consigo sentir o gosto, mas posso ver a cor...", "Não posso ver, mas posso sentir sua textura...", e assim por diante. Mas pelo progresso da epidemia, em breve não restará nenhum sentido e nisso, o filme do escocês David MacKenzie é mais otimista que o de Fernando Meirelles, sugerindo que, ao final, mesmo que percamos todos os sentidos, o amor persistirá. O mais importante  "sentido" de todos.
Muito bom filme. Bela condução, ótima fotografia e boas atuações do casal Eva Green e Ewan McGregor. Daqueles filmes que fui assistir não apostando nada, achando que seria só mais uma historinha romântica boba e me surpreendeu muito positivamente.





6. "[REC]", de Jaume Balgueró e Paco Plaza (2007) - Não tem como falar de epidemias e contágio em massa sem falar em filmes de terror que talvez seja o segmento, que à sua maneira, com a sua linguagem, mais explora o assunto. "[REC]", especificamente, tem uma situação peculiar que torna pertinente sua citação neste momento: o isolamento compulsório, a quarentena imposta por autoridades. Um prédio em Madrid é isolado pelas autoridades após o cão de um dos moradores apresentar, em uma clínica veterinária próxima, sinais de uma perigosa infecção que veio a levá-lo à morte mas, estranhamente, voltar à vida e agir de forma violenta e descontrolada. Só que dentro do prédio, uma dupla de jornalistas que acompanha, despretensiosamente, uma equipe do corpo de bombeiros em uma chamada a respeito de uma senhora que parece estar se sentindo mal ou algo do tipo e o que eles não sabem é que, não só a pessoa que os bombeiros vão atender, como outros moradores já tiveram contato com o animal, ou entre si e o vírus já se espalhou. Aí, véi..., o bicho pega! Como o mal é transmitido pela saliva, cada vez que um é mordido por outro infectado descontrolado e violento, a legião de zumbis aumenta dentro daquele pequeno edifício. E não tem pra onde fugir!
Filme alucinante! Correria escada acima, escada abaixo num espaço restrito sem muito pra onde correr. Um dos melhores filmes de terro e de zumbis dos últimos tempos. A situação não deixa de lembrar, de certa forma, a do navio de cruzeiro atracado no Recife, em quarentena, onde dois passageiros foram diagnosticados com o Covid-19. A mente do cinéfilo já fica pensando: "Imagina se fosse um vírus zumbi do '[REC]'...".




O parasita de laboratório saindo de um dos hospedeiros.
7. "Calafrios", de David Cronenberg (1975) - Mais um exemplo de um filme em que a epidemia começa a se propagar, inicialmente, dentro de um prédio mas que, aqui, inevitavelmente, seguirá mundo afora. Nesse caso, temos um parasita produzido artificialmente, em princípio com a ideia de substituir órgãos humanos, implantado numa cobaia humana, que, por uma mutação, desvia-se, por assim dizer da sua finalidade, e passa a estimular uma atitude sexual desenfreada e violenta no paciente. Sabedor do fracasso de sua intenção inicial e das consequências da ação daquele "órgão" num humano, o médico inventor mata sua cobaia, sua amante, uma adolescente ex-aluna, na intenção de destruir o organismo que criara e, em seguida se mata arrependido da criação e do crime. Mas o que ele não sabia é que a bela Annabelle não era mais popular do que imaginava naquele condomínio e o parasita já estava espalhado por aí.
O filme aborda, à maneira Cronenberg, com muito sangue, gosma e nojeira, as doenças sexualmente  transmissíveis e está entre os grandes clássicos do terror trash da história. Se a epidemia atual não tem a ver, necessariamente, diretamente, com sexo especificamente falando, embora, é claro, o toque, a saliva, a relação em si, possa transmitir, "Calafrios", especialmente seu final, reforça a necessidade de restringir ao máximo alcance de uma epidemia. Porque depois que ela sair do seu lugar de origem...




8. "Os 12 Macacos", de Terry Gillan (1995) - A propósito de cruzar fronteiras, a cena do embarque no avião com a valise cheia de ampolas com o vírus, nos dá uma noção de como uma epidemia passa de um país para o outro. É lógico que no filme foi proposital mas a coisa toda do trânsito é que faz com que essa cena em especial me venha à mente. "Os 12 Macacos"  é mais uma das geniais ficções distópicas de Terry Gillan e nela, em 2027 (olha aí a proximidade!!!), o mundo é devastado por um vírus e os sobreviventes são obrigados a viver no subsolo da Terra. Um prisioneiro é selecionado para voltar a 1996, o ano de início da epidemia, para recolher evidências para que cientistas, no futuro, investiguem suas causas e tentem encontrar uma cura que evite aquele futuro sombrio. Filme que já se tornou um cult, lembra muito visualmente e, um pouco conceitualemente, outros dois do diretor, "Teorema Zero" e "Brazil - O Filme".

cena final - "Os 12 Macacos"




9. "Fim dos Tempos", de M. Night Shyamalan (2008) - Sem dúvida, o pior desta lista! Menciono porque a primeira parte, na cidade, quando a epidemia se manifesta fazendo com que as pessoas se suicidem, é alucinante! Mas fica por aí. O filme é uma droga. Clichês, más atuações, roteiro ruim e tudo mais. O mote é que uma espécie de toxina espelhada no ar faz com que as pessoas percam seu senso de auto-preservação e, assim que em contato com aquele elemento, tirem automaticamente suas vidas. Ok! A coisa toda poderia servir se, além dos defeitos já enumerados, as soluções não fossem tão estúpidas, pífias e pouco plausíveis. Assim que a situação na cidade fica praticamente insustentável, nosso protagonista, Elliot Moore (Mark Wahlberg) um professor de ciências em crise no casamento, resolve fugir para outro o interior de trem com um colega do trabalho, a filha e a esposa, com quem vive uma crise conjugal. Ora, por que diabos aquela coisa se concentraria apenas em um lugar se está no ar? O que leva a crer que aqui você não está a salvo e ali está? Ok... Depois de muito "Acho isso", "Acho aquilo", parece que percebe-se que a toxina está na vegetação, nas plantas e eles que liberam o elemento que causa a perturbação mental responsável pelos suicídios. Mas aí que fica pior porque nosso grupo de sobreviventes, numa área rural passam a evitar a vegetação e a adivinhar qual é nociva ou não. Nem o ritmo ou o interesse se mantém, porque o argumento é tão estapafúrdio que, chega um momento que a gente quer mais é que acabe de uma vez.
O filme é péssimo de um modo geral, mas os personagens fugindo do vento e se escondendo numa casa como se o ar não pudesse entrar por uma fresta, um vão, etc, é o fim dos tempos.




10. "Epidemic", de Lars Von Trier (1997) - Vai um filme de arte aí pra completar a lista? Um escritor e um diretor pressionados para cumprir um prazo para um filme, percebem que o roteiro em que trabalharam durante um ano inteiro está perdido e não poderá ser recuperado, assim o recomeçam e o ao novo projeto dão o nome de Epidemia. Nele, contam a história de um país infectado por uma epidemia, cujos governantes são médicos. Os homens do poder estão em segurança enquanto as pessoas, de um  modo geral sofrem com a doença, mas um deles, um dos médicos-governantes, resolve sair para para combater o mal. Eles terminam este novo roteiro em poucos dias e durante o jantar de apresentação do trabalho para o produtor, um hipnotizador, que aparece de surpresa no local, parece aproximar a ficção criada por eles da realidade, pois logo após a visita inusitada, o roteirista começa a mostrar sinais da doença que escrevera para o filme. 
Filme pouco conhecido do polêmico Lars Von Trier, é estrelado por ele e faz parte da trilogia Europa completada por "Elemento do Crime" e "Europa". Naquela época, um trabalho do ainda promissor Lars Von Trier.

O médico, do filme dentro do filme, saindo de seu gabinete e
indo tentar levar a cura à população.







por Cly Reis
colaboração: Daniel Rodrigues
e Vagner Rodrigues

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

"[REC]", de Jaume Balgueró e Paco Plaza (2007) vs. "Quarentena", de John Erick Dowdle (2009)



Que mania que os americanos tem de achar que podem pegar filmes de polos menos tradicionais no cinema e fazer melhor! Nem sempre é bem assim. É o caso de "Quarentena", tentativa hollywoodiana de refilmagem de "[REC]", terror espanhol de baixo orçamento, catapultado, desde seu lançamento, ao status de novo clássico do gênero. Num filme caracteristicamente falso-documentário, onde tudo tem que soar o mais natural possível, "Quarentena", pelo contrário  mostra-se frio e artificial, com cenas que claramente forçam um realismo e muitas excessivamente bem preparadas e tratadas. Já o original, mais cru, mais "amador", é muito mais convincente em sua proposta, e o formato câmera na mão, ligada o tempo inteiro, além de justificar-se plenamente em praticamente todas as situações, funciona muito bem na condução da trama.
Uma repórter e seu cinegrafista, desses da madrugada, que ficam em busca de algum acontecimento interessante, numa reportagem despretensiosa no corpo de bombeiros, decidem, para salvar a chata reportagem no quartel, acompanhar os bombeiros em uma chamada num edifício  residencial onde uma senhora, ao que parece estaria apresentando alguma dificuldade. Lá, depois da idosa apresentar um comportamento anormal e morder pessoas que tentavam auxiliá-la, todos se vêem às voltas com uma espécie de epidemia canibal e jornalistas e bombeiros são isolados pelas autoridades, junto com os moradores, dentro do prédio. Ah, é aí que o bicho pega! Sem ter como sair e vendo a legião de mortos-vivos-canibais aumentar à medida que cada novo morador é  mordido, é tensão e correria escada acima e escada abaixo, atravessando corredores estreitos e entrando e saindo de apartamentos. 


"[REC]" - trailer




"Quarentena" - trailer


A diferença é que no original a gente fica quase saltando da poltrona para cada nova situação que o filme apresenta,  enquanto que, no remake..., se está, simplesmente, assistindo a mais um filme de terror de Hollywood.
No tête-à-tête, embora a espanhola Manuela Velasco esteja perfeita no papel da repórter Ángela Vidal e tire o primeiro zero do placar, nossa eterna Emily Rose, Jenniffer Carpenter, com seu carisma e, até boa atuação, deixa tudo igual: 1x1. Mas daí pra frente o jogo ficá meio desigual. O clima sufocante, tenso e claustrofóbico, aliado à naturalidade e o realismo dentro da proposta de foud footage garantem o desempate para os espanhóis. O filme de Jaume Balgueró e Paco Plaza, ao contrário de sua cópia frustrada, tem cenas marcantes e que permanecem vivas na mente do fã de terror . A cena, por exemplo, em que, já  quase no final do filme, saindo do apartamento no último andar, a câmera do cinegrafista, ou seja, o olho do espectador, enquadra o vão da escadaria, repleto de zumbis, por todos os andares inferiores é de fazer o cara lembrar da cena sempre que olhar pra baixo num vão de escadas. Golaço! 3x1.

Pavor na escadaria.
Zumbis por todos os lados.

Ainda que "Quarentena" também faça menção às experiências científico-religiosas realizadas no prédio e igualmente nos revele, na cena do laboratório clandestino, a horrenda criatura que ainda vive ali, a Menina Medeiros de "[REC]", fruto original dos experimentos, já crescida e toda magricela, molenga, desengonçada e asquerosa, balançando aquele martelo descoordenadamente no escuro, sob a lente do infra-vermelho da câmera, é algo não só para não se esquecer como, certamente para ter pesadelos. Gol da Menina Medeiros! Virou goleada. 4x1.



A horripilante mulher, vítima original
de uma experiência que veio a causar toda a contaminação zumbi.

E quando parecia que não poderia acontecer mais nada no jogo, aos 48 do segundo tempo, já nos acréscimos,  ou melhor, já  nos créditos eis que num ataque fulminante "[REC]" guarda mais um. A trilha sonora final, "Vudú", um punk-surf do espanhol Carlos Ann, é outro golaço de "[REC]" e fecha o caixão do adversário.



Nossa repórter, Ángela Vidal, em três momentos.
Mesmo que Jannifer Capenter, em "Quarentena", tenha se saído bem
 a carismática Manuela Velasco foi um verdadeiro show de bola!



Mesmo com menos recursos, o time da dupla de diretores espanhóis, Plaza e Balgueró, mostrou uma proposta tática mais adequada ao tipo de jogo.
Foi um time com mais fome, um time que mordeu mais e, por consequência, acabou jantando o adversário.


 


por Cly Reis


terça-feira, 23 de março de 2010

"[REC]" de Jaume Balagueró e Paco Plaza (2007)







" 'Continua gravando TUDO!
'Por tu puta madre' ".





Puta que pariu! Alucinante, frenético, assutador, claustrofóbico. Tudo isso é pouco pra descrever o ótimo terror "[REC]” dos espanhóis Jaume Balagueró e Paco Plaza.
Estava há tempo pra pegar esse filme na locadora mas deixava pra depois, pegava algum lançamento, priorizava algum que minha mulher pudesse ver também (ela não gosta de terror) e ia deixando este pra trás. Por que demorei tanto?
É um daqueles poucos filmes de terror que verdadeiramente me deram “cagaço”. Me deixou com o coração saindo pela boca de ansiedade e expectativa, principalmente nos dez minutos finais quando o cerco se fecha. Talvez, ao lado do “Atividade Paranormal” tenha sido destes filmes de “cinema-verdade” com câmera na mão o tempo todo, o que mais me impressionou.
O lance todo é o seguinte: uma repórter e o câmera-man, vão fazer uma matéria sobre a rotina da noite de um corpo de bombeiros para um desses programas da madrugada. Ela está completamente entediada e sem expectativa, mas entende que algum chamado importante para os bombeiros, estando ela ali, pode ser a chance profissional da sua vida. Acontece uma ocorrência e ela e o câmera vão acompanhar dois bombeiros a um edifício onde uma senhora, ao que parece se trancara no apartamento sem querer sair. Aparentemente uma chamada pequena, insignificante.
Que nada!
Aí é que o bicho pega!
No socorro a velha ataca e morde um policial, joga um bombeiro mordido pelo vão da escada e como, de fora, as autoridades trancam, lacram o prédio e não permitem que o grupo de policiais, bombeiros, moradores, a equipe de reportagem e o ferido saiam do prédio, já em pânico todos começam a se perguntar o que está acontecendo ali.
Se revela uma espécie de infecção transmitida pela saliva, o que faz com que todos os atacados passem a agir da mesma forma agressiva transformando o prédio numa espécie de casa dos horrores pois aos poucos os infectados vão atacando a outros e a legião de zumbis vai aumentando num espaço, pequeno, restrito do qual não se tem pra onde fugir. É só escadaria pra cima e pra baixo com a câmera na mão.
O barato é que o recurso “documentário” nessa correria desenfreada, em “[REC]” faz com que o espectador sinta-se dentro do filme, praticamente percorrendo os corredores estreitos, sentindo a expectativa de entrar em um apartamento, ou esquivando-se na poltrona pra não ser agarrado por um morto-vivo.
O legal também, que eu soube depois é que para manter o medo, a surpresa, a sensação dos próprios atores, os diretores não liberavam todo o script para o elenco antes, passando a eles as cenas apenas na última hora. O artifício deu certo, mesmo. Tem cenas que a gente vê que os próprios atores levam susto. Ficou muito real e natural.
Pra piorar (ou melhorar) tem a surpresa da tal Menina-Medeiros que está presa num apartamento isolado. Nossa! Não vou contar muito pra não estragar pra quem não viu, mas aquilo ali é repugnante, terrível e assutador; e esta parte do filme; é LITERALMENTE de tirar o fôlego.
Dos melhores e mais assustadores filmes de terror que já vi na vida. Daqueles de ficar desconfiado ao andar no corredor da própria casa no escuro.
Muito Foda!



Cly Reis