Curta no Facebook

sábado, 1 de fevereiro de 2020

cotidianas #665 - Lá pelas tantas da madrugada num bar qualquer



O cara entrou no bar quase 5 da manhã. Por mais que ficássemos abertos a noite toda, ainda estranhava um pouco quando algum perdido entrava àquela hora. Só o velho Lino, que estava ali desde as 3 da tarde e ocupava uma das mesas num canto escuro, debruçado sobre os braços, derrotado pela bebida, resistia até aquela hora. O cliente titubeou um pouco entre o bar e as mesas, mas optou por ficar longe do balcão. Ainda hesitou entre uma mesa ou outra, embora tivesse todas as opções do mundo, e finalmente escolheu uma perto da jukebox. Sentou mas não demorou muito a voltar a levantar. Foi até a máquina, colocou uma moeda e uma música calma e tristonha começou a tocar.
Saí de trás do balcão, limpei as mãos no avental, peguei caneta e bloco no bolso e me encaminhei para a mesa do cara. Até que o sujeito era jeitoso. Diferente da maioria dos bebuns que passam por ali pelas madrugadas.
Olhei em volta, só o velho Lino lá  nocauteado no canto. Me aproximei da mesa e estanquei ali com bloco e caneta em punho.
- O que vai ser? - perguntei.
- Um uísque... Pouco gelo. - respondeu objetivamente com uma certa perturbação na voz.
- E pra comer?
- O que tem? - quis saber.
- Pernil, lombo, coxinhas,... eu...
Seus olhos procuraram os meus imediatamente buscando confirmação daquela possível proposta. Qualquer dúvida foi eliminada pelo meu olhar malicioso e convidativo.
Dessa vez não hesitou. Com uma súbita e improvável determinação, levantou-se da cadeira, ergueu-me e sentou-me sobre a mesa, abriu seu zíper e sem tirar minha calcinha, apenas afastando-a para o lado, começou... A coisa não durou muito. Assim que acabou, deu dois passos para trás, meio que cambaleando, e eu desci da mesa e me recompus como deu.
- Foi a melhor trepada que já tive! - disse ainda um tanto ofegante.
Apenas sorri para ele em resposta e sinalizei com a caneta para porta de saída.
Ele entendeu.
Apressou-se em se aprumar, passou a mão no cabelo como se fizesse alguma diferença, e saiu do bar como se estivesse fugindo.
Voltei para o balcão, larguei o bloco e a caneta. Olhei para o relógio: 5 horas. Lá no canto estava ainda o velho Lino. Imóvel. Não tinha visto nada (ou fizera de conta que não vira). Tanto fazia...
Gritei dali mesmo:
- Lino, seu velho bêbado, tá na hora de ir pra casa. Já vou fechar!
Ele começou a se mexer quase que em câmera lenta ainda assimilando o que estava acontecendo. Ergueu-se com dificuldade, balbuciou alguma coisa ininteligível e abriu a porta do bar. A luz do dia penetrou pelo vão que se abriu.
Uma boa trepada... Não fora das melhores, mas também não fora das piores.



Cly Reis


Nenhum comentário:

Postar um comentário