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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

"Os 300 de Esparta", de Rudolph Maté (1962) vs. "300", de Zack Snyder (2006)



Jogo de estratégia. Dois times que sabem ficar ali encolhidinhos defendendo até esperar a hora certa para atacar. A história em que, aproximadamente, apenas trezentos homens espartanos defendem a Grécia do ataque do tirano Xérxes com seu numerosíssimo exército, é basicamente igual nos dois filmes, o original de 1962, "Os 300 de Esparta", e seu remake, de 2006, chamado apenas "300". Em ambos os casos, o time, digo..., o exército comandado pelo capitão, quero dizer, general Leônidas, ciente de sua inferioridade numérica dentro de campo, posiciona-se num local limitado, estreito, por onde obrigatoriamente o exército do Rei Xérxes teria que passar, e fica ali, fechadinho, sem deixar o adversário penetrar na sua defesa e dando suas estocadas ofensivas, sempre que possível.
O time antigo não é ruim! Típico filme épico de Hollywood. Mais modesto, é verdade, com menos aparato, orçamento, menor suntuosidade, mas mesmo assim caracterizando bem aquele tipo de produções históricas, bíblicas, mitológicas que os estúdios americanos gostavam de fazer. O novo, por sua vez, é extremamente impressionante visualmente com uma fotografia digital espetacular que imita fielmente a concepção de Frank Miller, criador da graphic novel da qual o filme se baseou, e do qual é, por sinal, é uma espécie de "auxiliar técnico de luxo" do treinador Zack Snyder, homem que é especialista em dirigir times que procuram jogar no estilo HQ.

"Os 300 de Esparta" - trailer

"300" - trailer

O time de Snyder adota a mesma estratégia do time de '62 mas é mais abusado. Fica bem agrupado, compacta as linhas, mas avança com os pontas de lança levando perigo à retaguarda adversária. Atrai o time Persa para seu próprio campo mas aí então avança em bloco e espreme o adversário contra seu próprio campo fazendo-o, literalmente, cair na armadilha. Neste ponto, há um ABISMO de diferença na parte tática entre o time do Rei Leônidas e o do Rei Xerxes. E lá atrás então, não tem jeito de furar o bloqueio! Parece time do Mourinho quando "estaciona o ônibus" na frente do gol, só que no caso dos 300 de Snyder, é uma pilha de corpos que bloqueia a entrada. "Aqui não, queridinho!", É o recado de Leônidas para Xerxes que, apesar de toda sua altura, um gigante de mais de três metros, não consegue ganhar nem na jogada aérea, com o chuveirinho de flechas lançadas sobre a área adversária.
Uma mostra do quanto o remake é fiel à HQ.
Na cena, o time espartano sai em bloco e
empurra o adversário contra seu próprio campo.
Na refilmagem, Leônidas tenta ganhar o jogo com uma bela jogada ensaiada, na qual um companheiro o ajuda a abrir o ângulo para a finalização, mas, um pouco mais distante do que gostaria, acaba desperdiçando a chance que, literalmente, passa raspando. Mas se os espartanos não conseguiram ganhar o jogo contra os persas na História e em nenhuma das duas versões cinematográficas, contra os espartanos de Rudolph Maté, o time de Zack Snyder se impõe e com muita garra e jogadas ensaiadas, triunfa sem maiores dificuldades. A fotografia, com cenários digitalizados fiéis à HQ de Frank Miiller, é o primeiro gol dos comandados de Zack Snyder. O time combativo e pegador que não desiste de nenhuma bola, marca o segundo por conta das cenas de luta. Uma jogada combinada entre as cenas do precipício, a da parede de corpos e a da chuva de flechas, garante o 3 x 0 para o "300", de 2006. E com uma jogada espetacular de seu ponta de lança, o Leônidas mais vibrante e protagonista que o da primeira versão, recebe na cara do gol, só empurra pro fundo: 4x0. O craque, conhecido como Diamante Grego, vai na frente da torcida adversária e grita, "Isso é Esparta, porra!!!". Leva um amarelinho pela provocação, mas tá valendo pela festa.

Cutucou e guardou!
Vai buscar no fundoooo.
Rodrigo Santoro como um Xerxes andrógino, agigantado digitalmente e com uma voz dublada, é tão ruim que praticamente entrega um gol para o adversário, mas o time antigo não se aproveita do vacilo e com um Xerxes tão ruim quanto, hesitante e inexpressivo, o contra-ataque não resulta em nada e nesse quesito, ficam (H)ellas por (H)ellas. No entanto, a introdução da resistência naval pelo exército grego, comandado por Temístocles, e a intervenção de Artemísia junto à Xerxes para a batalha naval, elementos históricos que só virão a aparecer com mais consistência no filme sequencia de "300", o fraco "A Ascensão do Império", garante um gol de honra para o bom time de 1964 que dá mais ênfase a esse meandro da história.
Placar final: 4 x 1 para o remake. Vitória de um time muito bem trienado, um time que não aceita a derrota, um time que não se entrega nunca, um time que, se precisar, luta até a morte.

Um líder mais vibrante e sanguíneo, um time mais compacto e organizado,
muita luta e entrega até o fim. Isso é Esparta!!!
O time de 2006 mostra mais armas que o adversário e vence  a
Batalha das Termópilas.


Fazer um filme épico, histórico, mitológico, até dá pra fazer,
 mas ganhar de um que, praticamente, revolucionou o estilo,
 são outros quinhentos,
 ou melhor, outros trezentos.






por Cly Reis

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