Abençoados!
Recordo que minha mãe benzia a mim e a minha irmã para tirar quebranto, não sei o que ela entoava porque falava baixinho. Então passava seus lábios e dedos em minha testa por três vezes seguidas. Quando eu perguntava o que ela estava dizendo fazia um gesto para ficar em silêncio, mas após a benção eu sempre me sentia muito melhor. A avó paterna do Daniel, Dona Edith, era conhecida da vizinhança porque benzia quem lhe procurava. Às vezes, batia-lhe a irritação em atender, mas mesmo contrariada fazia o atendimento em sua casa. Noutras vezes, as pessoas que tinham melhora ou até se curavam, voltavam com presentes em agradecimento, daí ela ficava muito brava, contam os netos que viam suas benzeduras. Ela não esperava nada em troca, benzia só com o coração. Quando conheci a benzedeira e escritora Jacqueline Naylah, autora da BesouroBox, ela me trouxe essas memórias e lembranças que tem muito a ver com a ancestralidade e o feminino.O benzimento é uma ciência ancestral de cura. Existem no mundo quatro grandes nações benzedeiras: a indígena, a africana, a cigana e a católica. No Brasil, temos todas elas graças a diversidade de povos que aqui chegaram. Entretanto, está presente em quase todas as culturas da humanidade onde pessoas reforçaram essa tradição ancestral. O benzimento se utiliza basicamente do instinto, da fé e de elementos da natureza. No benzimento compreende-se que não há separação do corpo com o pensamento ou com qualquer coisa no universo. Jacque, numa das entrevistas concedidas à Revista Bons Fluídos, comenta que o benzimento é “a tradição de abençoar". Ela diz que "a benzedeira conecta as pessoas à força da Criação. Auxilia e acolhe aqueles com males físicos e dores da alma, do coração e da mente”. Ainda acrescenta que o benzimento “é feito em rituais com elementos típicos (tecidos, brasa, velas, ervas, faca, tesoura) sempre entoando rezos, mantras ou orações particulares de cada benzedeira”.
A missão que Jacque tem é a de perpetuar esse legado. “Quero garantir que, no futuro, as pessoas tenham casas de benzedeiras para bater quando estiverem em situação de dor e reafirmar a sua fé”, diz. Nos últimos dois anos percebi uma abertura maior para relatos de benzedeiras de todas as partes do país, hoje totalmente conectadas com as tecnologias, fazendo atendimentos à distância, ministrando cursos e seminários para orientar benzedeiros. Dentre tantas formas de abençoar, ressaltadas por Jacqueline uma é bem inusitada. Ela conheceu uma benzedeira que em todos os atendimentos contava a história do nascimento de Jesus, “tão lindo, tão único, tão dela”, comenta Jacqueline.
Com formação em Biologia e especialidade em biopatologia, Jacqueline aliou conhecimentos científicos aos conhecimentos das medicinas milenares e promove encontros, cursos e palestras, observando o ser humano em sua totalidade. Essa prática resultou em dois livros publicados pelo selo BesouroLux: “Eu te Benzo - o legado de minhas ancestrais”, em 2019, e “Diário de uma Benzedeira – Rezos, Alquimias, Receitas, Benzimentos e Simpatias”, lançado em março de 2020. Idealizou e ministra o Curso de Benzimento transmitindo o legado das suas ancestrais peregrinando praticamente por todo o território brasileiro. Mora em Porto Alegre/RS, é casada com Gilberto e mãe de dois meninos, Nicolas e Pietro. Amanhã, a 2ª LIVE da editora BesouroBox será com ela, que dará dicas bem legais. Esperamos vocês, “abençoados” (dessa forma que Jacque se refere carinhosamente às pessoas nas redes sociais), às 19h30, no canal oficial do Youtube da editora.
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