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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

cotidianas #703 - Café



Ele olhou para a xícara de café à sua frente, na mesa. Viu sua imagem refletida no líquido negro. Tudo era escuro à sua volta. Levantou os olhos da xícara e, para sua surpresa, não havia nada. Tudo estava escuro. 
Intrigado, olhou para baixo e o que era, primeiramente, mera estranheza acabou por tornar-se um início de pânico. Percebeu que só havia escuridão sob seus pés. Flutuava numa treva infinita e não tinha onde se segurar nem como sair dali. 
Olhou para cima e o que viu foi o teto da lanchonete em que estava, por um um pequeno vão circular, que interrompia aquele negrume quase total. Pela abertura redonda pode ver a garçonete chegando à mesa, ela falava algima coisa, anotava um pedido. Em meio ao desespero ainda conseguiu, sabe-se lá como ou porquê, notar no crachá da atendente: chamava-se Betty. Chamou por ela, ela não ouvia, ou de outra sorte, sua voz não saía. 
Tentou nadar na escuridão, desesperadamente, mas seu esforço era completamente vão e inóquo. Via a abertura se afastar cada vez mais. Estava afundando. Ouviu uma voz...
- Café?
Despertou num sobressalto na mesa da lanchonete.
- Café? - repetiu a garçonete - É bom pra passar o sono... - acrescentou apontando para ele com a parte de trás da caneta.
Um tanto embaraçado pela situação em que fora apanhado, concordou. Olhou para o crachá da moça. Chamava-se Betty.
- Sim, vou querer um.
- Apenas isso? - confirmou anotando o pedido.
- Sim. Por enquanto, sim.
- Já trago.
Enquanto ela se afastava, tentou remontar o que acontecera, mas tudo era muito confuso. Devia ter cochilando. Não vinha dormindo bem à noite ultimamente e agora, quando precisava ficar acordado, durante o dia, tinha aquelas molezas.
- Aqui seu café. - disse a garçonete o surpreendendo e tirando-o de seus pensamentos.
- Obrigado.
- Qualquer coisa é só chamar. - e saiu para o balcão.
Ele olhou para a xícara de café à sua frente, na mesa. Viu sua imagem refletida no líquido negro. Tudo era escuro à sua volta.



Cly Reis

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