Era seu ônibus.
Se corresse, poderia alcançá-lo a tempo.
Era somente um quarteirão. Conseguiria.
Rápido, rápido...
Quase lá.
O motorista o vira. Pelo jeito iria esperá-lo.
Mais alguns metros, quase na porta e...
Caíra.
Ele mesmo não entendera. Sentira que algo o atingia e agora só sentia uma espécie de frio... O que fazia mergulhado naquela poça de sangue? O que faziam aquelas pessoas todos à sua volta, olhando para ele?
- Era esse mesmo? - ouviu uma voz perguntar e viu, em uma imagem enevoada, quase se esvaindo, um homem de farda com uma arma na mão.
- Eu não sei... Era escurinho assim mas... não tenho certeza... - respondeu, hesitante, uma voz de mulher, trêmula, envelhecida.
- Vê se o celular tá com ele. - voltou a falar a voz do homem.
Sentiu que o remexiam, pareciam revirar sua mochila mas, praticamente, não sentia mais o corpo.
- É esse?
- Não, esse não é o meu celular, não.
Meio constrangido, mas sem mostrar arrependimento, o homem da farda concluiu:
- Bom, de qualquer modo deve ser roubado. E, se tava correndo daquele jeito, devia ter feito alguma coisa.
Ouviu-se a sirene de uma ambulância.
A pequena multidão abriu espaço para a passagem do socorro, mas já era tarde demais. Sua visão escureceu, escureceu... E fim.
Cly Reis
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