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domingo, 11 de julho de 2021

"Pacto Sinistro", de Alfred Hitchcock (1951)







Dois estranhos num trem, um contato de pés ao cruzarem as pernas, uma personalidade do esporte em viajem e o começo de um grande problema. O inoportuno Bruno  Anthony reconhece, no assento à sua frente, o famoso tenista Guy Haynes, especula com ele sobre as fofocas que a imprensa vem divulgando sobre uma suposta amante, sobre um desejo do esportista de deixar a esposa, sobre um eventual dificuldade que ela viria impondo para uma separação... Haynes, deixa no ar, mas, meio que a contragosto, de certa forma confirma os boatos. O vizinho de cabine, então, revela que também tem alguém indesejável em sua vida, seu pai, e propõe um acordo que seria bom para os dois: um eliminar o estorvo do outro. Um crime perfeito, segundo Bruno, pois, sem nenhum motivo aparente, jamais ligariam um ao crime do outro. O tenista não leva a sério, ignora o desvario, mas não imagina que o sujeito seja muito mais desequilibrado do que imaginava. O maluco põe o plano em prática: mata, sem dificuldade, a volúvel esposa do tenista, e aparece para cobrar a outra metade do plano, que Haynes mate seu pai. Evidentemente, surpreso, assustado, acuado, o tenista rechaça a possibilidade, passando a ser perseguido e atormentado pelo psicopata que, reconhecendo a indisposição do outro em participar do pacto sinistro, resolve então culpá-lo pelo assassinato da esposa, plantando, no local onde ele mesmo cometera o crime, o isqueiro personalizado e inconfundível do tenista, que ficara em seu poder ainda no primeiro encontro, no trem.
Um contato de pés.
Apenas o começo de muitos problemas
"Pacto Sinistro" é uma trama envolvente, tensa e de tirar o fôlego conduzida de forma brilhante pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock. Ele dá o ritmo, ele desacelera a trama, ele nos alivia em relação ao protagonista para logo em seguida nos fazer ficar com o coração na mão, ele quase nos faz simpatizar com o vilão para depois nos fazer odiá-lo com toda a força do coração... E as cenas!!! Meu Deus! A cena do assassinato no parque de diversões com o estrangulamento refletido na lente dos óculos da vítima; a que Haynes entra na casa do pai de Bruno sob o pretexto de matá-lo, mas com a intenção de avisá-lo do desequilíbrio do próprio filho, e acaba encontrando, exatamente, o próprio maluco à sua espera, prevendo a traição. A cena em que, numa festa, notando a semelhança de uma convidada com a mulher que matara, num exercício de simulação de estrangulamento, quase mata verdadeiramente uma outra convidada; a cena do velho funcionário do parque de diversões que para o carrossel descontrolado; e, é claro, uma das mais marcantes da filmografia do diretor e uma das melhores cenas de esporte no cinema, a da partida de tênis em que Haynes tem que jogar para evitar suspeitas e, assim que terminar, correr para o parque de diversões para evitar que o assassino deixe lá a prova falsa que o incriminaria. O problema é que o jogo que parecia fácil no início, começa  a complicar e o tempo vai se esgotando enquanto Bruno se dirige para o local onde cometera o crime. O espectador torce no jogo, torce pelo ponto, joga junto, quer que Guy Haynes feche logo cada game, cada set para poder sair correndo dali e se livrar da indesejável e injusta incriminação.
"Pacto Sinistro", além de um grande filme, está aí para lembrar de, seja no metrô, no ônibus, no avião, no trem, não ficar dando trela para estranhos. Mas, se for conversar, se for bater aquele papo, de preferência não dê detalhes da sua vida pessoal, não faça nenhum acordo e, sobremaneira, não subestime quem estiver no assento perto do seu. A gente nunca sabe o maluco que pode encontrar.

"Pacto Sinistro" -
 cena do jogo de tênis e do isqueiro
Parte da cena do jogo de tênis, 
enquanto o verdadeiro assassino, Anthony, tenta recuperar o isqueiro
 para plantá-lo no parque de diversões.




por Cly Reis 


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