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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

cotidianas #737 - Bom Deus



Passos...
Devia ser ela.
Surpreendeu-se quando viu entrar um homem de terno branco, caminhar indolente e olhar zombeteiro.
Limitou-se a deixar escapar, quase em tom de interrogação, o nome:
- Emily...?
O homem sorriu.
- Achou mesmo que alguma coisa de bom pudesse acontecer para você? - parou encarando a expressão de espanto e dúvida do rapazinho que segurava um buquê de flores nas mãos.
Prosseguiu:
- Esperava mesmo que uma mulher daquelas fosse mesmo vir te encontrar num lugar desses?
Olhou em volta para aquele galpão decrépito e abandonado, e não pode deixar de dar razão ao estranho do terno branco, pelo menos, em relação ao lugar. Contudo, permanecia completamente ignorante e confuso em relação ao que se passava ali. Ao menos para tentar começar a se inteirar da situação, por mais idiota que pudesse parecer, viu-se obrigado a perguntar:
- Mas quem é você?
O outro riu.
- Eu diria que sou... um cara que... às vezes também precisa de diversão. Sabe, eu me ocupo demais tendo que cuidar de tudo, das pessoas, tentando ser justo, muitas vezes até me compareço de algumas delas. Daí que às vezes preciso, como vocês dizem, "pegar um pra cristo" só pra me divertir. Aqueles para quem nada dá certo, sabe? Pois é: eu estou no comando.
Entendendo, ou pelo menos achando que entendia, de quem se tratava, gaguejou:
- M...mas... você, o Senhor, não devia ser bom?
- Haha! Bom? Não me venha com essa! Vocês me dão muito trabalho, dor de cabeça, eu mereço um pouco de distração. Como dizem, "Eu também sou filho de Deus" - concluiu sorrindo ironicamente.
Ia virando as costas, já pronto para sair, quando voltou-se mais uma vez.
- Ah, e se estiver pensando em "deixar tudo isso", em dar um fim nas coisas, agora que sabe que é só um joguete nas minhas mãos, saiba que se for meter uma bala na cabeça, a arma vai engasgar, se for cortar os pulsos, alguém irá te encontrar dentro daquela banheira antes que seu corpo se esvazie, se tentar se jogar de um prédio, vai bater em um toldo, numa rede de construção, vai cair sobre um monte de sacos de lixo, porque.. você só vai morrer quando eu quiser, quando não for mais útil para mim. E, a propósito: a tal da Emily foi se encontrar com o Beto, o seu melhor amigo. Amanhã, no escritório, ele te conta os detalhes. 
Foi a última coisa que disse antes de sumir pela porta no fundo do galpão.



Cly Reis

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