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domingo, 27 de março de 2022

cotidianas #747 - E O Oscar vai para...

 



Sob entusiásticos aplausos, Wayne Aldritch subiu ao palco. O semblante grave, taciturno, não combinava em nada com a honra com a qual era agraciado naquele momento. Aproximou-se do púlpito, recebeu a estatueta das mãos da atriz que apresentara o prêmio e, acalmada a ovação, inclinou-se levemente em direção ao microfone. Seu discurso foi breve. Tinha poucas palavras a dizer:
- Eu quero dedicar esse prêmio à minha mulher que a essa hora deve estar trepando com o seu amante, na minha casa, na minha cama, enquanto eu estou aqui. Esse prêmio é seu. Quando chegar em casa te entrego.
O público explodiu em gargalhadas, supondo se tratar de mais uma das tradicionais piadinhas que mestres de cerimônia, convidados e premiados costumam fazer durante esse tipo de cerimônia. No entanto, a saída do aclamado diretor a passos apressados do palco, fez com que as risadas fossem cessando até se transformarem num silêncio pesado.

*********

Ia, já, quase entrando com o carro, pelo portão de casa, quando ainda viu um carro sumia na esquina adiante. Devia ser o tal.
Entrou em casa. Serviu uma dose de uísque e sentou-se no sofá ainda segurando a estatueta. Não demorou muito para que a esposa aparecesse na sala, descendo as escadas vestindo apenas um baby-doll.
- Não vi a premiação porque estava ocupada, mas soube do seu showzinho. – disse ela, em tom zombeteiro – Parabéns pelo prêmio, senhor diretor – completou.
- Como eu disse, o prêmio é seu. Vim para casa para te entregar.
E avançou, de forma ameaçadora contra ela, com a estatueta dourada erguida acima da cabeça.
- Para, para!!! Eu vou chamar a polícia!
- Não se preocupe com isso: eu já chamei.

********

Aldritch, naturalmente, não resistiu à prisão. Quando a polícia chegou, o encontrou sentado no sofá com as mãos pendentes entre as pernas. No chão, a seus pés, jazia a esposa Meg. Mal se conseguia distinguir que aquilo, acima de seus ombros um dia tivesse sido uma cabeça. Em meio aos pedaços quebrados de crânio e restos de cérebro espalhados, repousava no tapete vermelho da sala, pintada do vermelho do sangue, a estatueta dourada.



Cly Reis

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