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quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Milton Nascimento - "Minas" (1975)

 





"O disco é dedicado
a todas as pessoas que ajudaram
e pro Rubio, um menino
que juntou duas sílabas do meu nome
e descobriu o título."
Milton Nascimento



"Minas", parte Estado da Federação, parte estado de espírito... Por outro lado, duas partes de um nome: MIlton NAScimento. "Minas", cuja arte, belíssima, traz apenas a face, muito aproximada do cantor, na capa e contracapa, é um pouco de cada face de Milton. Doce, lírico, combativo, atrevido, arrojado, e acima de tudo, talentosíssimo.
"Minas", disco de 1975, é um trabalho ousado, quase experimental, de um músico completamente maduro e ciente de todas as suas possibilidades. 
Atravessado de ponta a ponta pelo coro infantil de "Paula e Bebeto", o álbum tem um formato, até por isso mesmo, pouco convencional. A canção composta em parceria com Caetano Veloso, uma espécie de pré-"Eduardo e Mônica", aparece desde a abertura, na belíssima "Minas", voa nas asas dos "...Aviões da Panair", reaparece na intensa "Idolatrada", até, finalmente ressurgir lá, quase no final do disco. 
No meio de tudo isso temos o rock-jazz sofisticado da desafiadora "Fé Cega, Faca Amolada", com a participação de Beto Guedes; a balada elegante "Beijo Partido"; o manifesto sobre a fome e desigualdade escondido sob uma lona colorida na ótima "Gran Circo"; toda a riqueza sonora de "Ponta de Areia", quase um ponto de capoeira transmutado nas mãos de Milton e Fernando Brant em uma melodia de ninar; a "estranha" crônica urbana, sombria e misteriosa, de "Trastevere", com participações do MPB4, Joyce e Nana Caymmi; e "Leila...", uma variação da base de "Milagre dos Peixes", de 1973, com belíssimas vocalizações de Milton sobre o arranjo de Wagner Tiso.
"Paula e Bebeto", que amarrara o disco até então, aparece mesmo, inteira, completa, com letra, dando seu recado de que "qualquer maneira de amor vale a pena", como penúltimo ato do disco, que finaliza com a faixa "Simples" que, apesar do nome, apresenta uma composição complexa, intrincada e uma poesia enigmática, sugestiva, com imagens de memória que beiram o surrealismo.
"Minas" é um disco múltiplo em sua concepção, em suas alternativas, em sua diversidade. Tem tantos compositores, tantas participações, tantos parceiros que parece um coletivo, quase um novo "Clube da Esquina", um novo Som Imaginário. Na verdade, é um pouco de tudo isso: apanhando características, experiências de discos anteriores, superando limitações, como a proibição das letras em "Milagre dos Peixes", tirando proveito do aprendizado dessa censura com o aperfeiçoamento das performances vocais sem letra que se tornaram sua marca, utilizando-se da parceria certa para cada intenção musical, sabendo mesclar possibilidades sonoras dentro da mesma obra, Milton chegava a um disco singular. E se alguém imaginava que não dava para repetir, ir mais longe ou superar, depois ainda viria o complemento de "Minas", "Geraes", de 1976. Mas isso já é outra história...


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FAIXAS:

1. Minas (Novelli)
2. Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
3. Beijo Partido (Toninho Horta)
4. Saudade dos Aviões da Panair (Milton Nascimento, Fernando Brant)
5. Gran Circo (Milton Nascimento, Márcio Borges)
6. Ponta de Areia (Milton Nascimento, Fernando Brant)
7. Trastevere (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
8. Idolatrada (Milton Nascimento, Fernando Brant)
9. Leila (Milton Nascimento)
10. Paula e Bebeto (Milton Nascimento, Caetano Veloso)
11. Simples (Nelson Angelo)


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Ouça:

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