Essa era, costumeiramente, a justificativa da Dulce para suas ausências nos programas da turma das "meninas", o grupo de amigas, senhoras já na dita melhor idade, e que não raro, procuravam atividades ou programações para ocupar o tempo ou se entreter,
Em muitos programas, ela até gostaria de ir mas, realmente, qualquer pinguinho, qualquer gotinha, tinha a capacidade de causar um estrago tremendo, devastador, que as amigas não tinham a capacidade de compreender.
- Ah, deixa de ser boba, Dulce! Que mal uma aguinha pode fazer? - argumentava uma.
- É, parece que é feita de açúcar. - completava uma outra jocosamente, e todas caíam na gargalhada.
Certo dia, Dulce aceitou um convite para sair. O dia estava claro, bonito, parecia sem riscos e ela então concordou em encontrar-se com as amigas.
Riram, beberam, dançaram mas, lá pelas tantas nuvens começaram a aparecer no céu. Dulce se inquietou. Agitou-se, começou a recolher as coisas apressadamente sob os protestos das colegas.
- Ai, Dulce, larga isso aí. Nem vai chover, só ficou meio nublado, não é nada.
- Não, não. Não posso arriscar.
Mas era tarde demais. As primeiras gotas começaram a cair.
São só uns pinguinhos. O que que pode acontecer?
Assim que as gotas tocaram o corpo de Dulce, ela pareceu paralisar.
Primeiro as amigas riram mas, aos poucos, suas expressões de galhofa foram se desfazendo.
Dulce derretia. A água erosionava as partes onde tocava em seu corpo e aos poucos pedaços inteiros desabavam, tombando para o lado e caindo pesadamente, se espalhando como se desenhassem explosões estrelares no chão.
As amigas olhavam para o chão, um tanto incrédulas, num misto de estarrecimento e piedade.
Uma delas não pode deixar de exclamar:
- Coitada, era um doce de pessoa.
Cly Reis
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