Curta no Facebook

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

cotidianas #814 - Dulce

 



- Desculpa, gente, não vou poder ir porque, pelo jeito, vai chover.

Essa era, costumeiramente, a justificativa da Dulce para suas ausências nos programas da turma das "meninas", o grupo de amigas, senhoras já na dita melhor idade, e que não raro, procuravam atividades ou programações para ocupar o tempo ou se entreter,

Em muitos programas, ela até gostaria de ir mas, realmente, qualquer pinguinho, qualquer gotinha, tinha a capacidade de causar um estrago tremendo, devastador, que as amigas não tinham a capacidade de compreender.

- Ah, deixa de ser boba, Dulce! Que mal uma aguinha pode fazer? - argumentava uma.

- É, parece que é feita de açúcar. - completava uma outra jocosamente, e todas caíam na gargalhada.

Certo dia, Dulce aceitou um convite para sair. O dia estava claro, bonito, parecia sem riscos e ela então concordou em encontrar-se com as amigas.

Riram, beberam, dançaram mas, lá pelas tantas nuvens começaram a aparecer no céu. Dulce se inquietou. Agitou-se, começou a recolher as coisas apressadamente sob os protestos das colegas.

- Ai, Dulce, larga isso aí. Nem vai chover, só ficou meio nublado, não é nada.

- Não, não. Não posso arriscar.

Mas era tarde demais. As primeiras gotas começaram a cair.

São só uns pinguinhos. O que que pode acontecer?

Assim que as gotas tocaram o corpo de Dulce, ela pareceu paralisar.

Primeiro as amigas riram mas, aos poucos, suas expressões de galhofa foram se desfazendo.

Dulce derretia. A água erosionava as partes onde tocava em seu corpo e aos poucos pedaços inteiros desabavam, tombando para o lado e caindo pesadamente, se espalhando como se desenhassem explosões estrelares no chão.

As amigas olhavam para o chão, um tanto incrédulas, num misto de estarrecimento e piedade.

Uma delas não pode deixar de exclamar:

- Coitada, era um doce de pessoa.


Cly Reis


Nenhum comentário:

Postar um comentário