- Estão agitados, hein. - comentei com o professor Paulo que coordenava a reentrada na escola.
- Ô!!! E como! - respondeu simulando uma fadiga e sorrindo.
- E como foi lá? - perguntei.
- Lá, tudo bem. O problema foi na estrada, já aqui perto, na entradinha da cidade. Um caminhão perdeu a direção, acho que os freios, não sei, e quase bateu no nosso ônibus.
- Nossa!!!
- Pois é. Se não fosse o Nestor ter feito lá uma manobra, um jeito que ele deu, estaríamos todos espalhados lá na estrada.
- E as crianças? - indaguei ainda impressionado.
- Nem perceberam! Estavam numa algazarra e quando o Nestor fez a manobra, disfarcei que tínhamos desviado de um animal ou algo do tipo.
- Que sorte, hein! Graças a Deus está todo mundo bem. - falei.
- Sorte, mesmo. - confirmou o professor afagando a cabeça da última criança que passava descendo do ônibus, conduzindo-a ao portão da escola - Bom, agora deixa eu entrar com eles que daqui a pouco os pais vem buscar.
- Ah, claro. Pode ir, professor. Eu já vou indo. Já limpei o corredor como a diretora mandou, recolhi os brinquedos que estavam espalhados no pátio e guardei aquelas caixas no depósito.
- Tá bom, Zé. Vai lá. Nos vemos amanhã.
- Até, professor.
Botei minha bolsa sobre um dos ombros e peguei meu caminho. Era uns três quilômetros até em casa mas sempre fizera aquele caminho a pé. Gostava de ver as coisas, a prefeitura, a praça, a pontezxinha de madeira, as casas, cumprimentar o pessoal da cidade... Da escola pra minha casa dava uma meia hora. Passava a igreja, saía do centro velho, passava o riachinho, atravessava a estrada na entrada da cidade e já tava lá. Era perto de onde o professor contou que... Nem é bom pensar... Ai, Deus nos livre! Tanta criança.
Já estava perto. Passei a ponte do riacho, segui a trilhazinha, saí na estrada.
Vem um ônibus escolar. Bem parecido com o que tinha deixado as crianças lá há pouco tempo... No mesmo instante, lá de cima, emergindo de trás das árvores na curva, vem uma carreta, dessas de carga, longa. Ele vem muito rápido, muito rápido. Não vai conseguir parar. Parece que não consegue, não tem freios ou algo assim. Ela é preta como a morte.
Meu Deus!
O ônibus, o caminhão, as crianças... Não pode ser. Não pode ser.
Cly Reis

Nenhum comentário:
Postar um comentário