- Mãe, mãe, vem ver o bicho estranho que a gente achou lá na grama. - veio uma das crianças anunciando num misto de pavor e entusiasmo.
- Nem é bicho, - corrigiu a loirinha de rabo de cavalo que o seguia correndo. - É uma flor, idiota!
- Não fala assim com o amiguinho, Valentina.
- Não é nada! É tipo, uma coisa, um 'enseto'. Vem ver, mãe, vem. - insistiu o garoto tentando levantar a mãe pela mão.
- Ai, Rique, não me incomoda! Deixa a mamãe, deixa. A gente tá aqui conversando. Vai lá com a Valentina ver o bichinho. Deve ser só um insetinho, filho. Vai lá, vai.
- Mas mãe, é uma coisa estranha. É diferente, é grande, tem umas antenas parece uns galhos, meio que brilha... - insistiu agora agarrando a mãe pela manga do casaco.
- Rique, para! Que coisa chata! - dessa vez dando um breve safanão no braço do menino.
O garoto, conformado e chateado, desistiu e saiu emburrado fazendo beiço e convocando a amiga a segui-lo.
- Ai, essas crianças. Às vezes a gente acaba meio que perdendo a paciência... - suspirou, justificando a reação mais brusca.
- Ah, às vezes nos enlouquecem. - concordou a outra.
As duas continuaram ali no banco do parquinho com sua habitual conversa trivial sobre comidas, roupas, novelas, seguro do carro e outras coisas corriqueiras.
Naquela noite, seus filhos e todas as outras crianças da vizinhança que estiveram na pracinha do bairro, estáticas, em pé, ao lado de suas camas, fitavam seus pais com olhar vazio e sem vida. Pareciam apenas aguardar alguma espécie de ordem.
Cly Reis


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