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quinta-feira, 30 de abril de 2015

"Claun - A Saga do Bate-Bolas", graphic novel com argumento de Felipe Bragança e arte de Gustavo M. Bragança, Daniel Sake e Diego Sanchez - Ed. Boitempo/ Selo Barricada (2014)




"Mais do que uma fantasia, essas figuras, de rostos cobertos, misteriosos, usando roupas de tecido colorido, aos poucos foram sendo absorvidas pelo carnaval de rua popular, fundindo e emulando diferentes tipos de máscaras e rituais de encenação do caos e da desobediência – e sendo perseguidas como baderneiras, assim como os capoeiras e os sambistas de então."
Felipe Bragança

"...seus mascarados escondem o rosto para não serem mais invisíveis!"
Felipe Bragança


Como acho interessante a figura do Bate-Bolas, ou Clóvis como também é conhecido o mascarado que carrega uma bexiga que é por ele golpeada insistentemente contra o chão, figura tradicional do carnaval carioca mas que só vim a conhecer há pouco tempo, assim que cheguei ao Rio de Janeiro, pois sua tradição não é comum no Sul de onde venho, comprei a HQ “Claun – A Saga do Bate-Bolas”, a publicação que faz parte de um projeto multimídia que inclui uma websérie e futuramente um game, encabeçada pelo cineasta Felipe Bragança, admirador de turmas de "bate-bolas" no subúrbio carioca, com arte dos ilustradores Gustavo Bragança, Daniel Sake e Diego Sanchez, igualmente cultuadores destes grupos carnavalescos.
Trazendo à tona a perseguição que estes grupos de palhaços, assim como o samba, a capoeira e as religiões africanas, eram vítimas no início do século passado, e o consequente afastamento do carnaval “oficial”, e a discriminação que ainda sofrem hoje, o autor molda contos urbanos entrelaçados onde o personagem Bate-Bolas surge como uma espécie de justiceiro, conferindo aos clawns propriedades místicas, sobrenaturais e fantásticas.
A publicação vale muito pelo resgate dessa mitologia urbana, por essa inserção do elemento social e pelo estudo antropológico a que se propõe, mas deixa um pouco a desejar no trabalho gráfico dos artistas que, de um modo geral achei fraco, ainda que deva-se fazer justiça para a qualidade da publicação, extremamente caprichada e bem acabada.
Por conta de toda aquela aura um tanto sinistra que cerca a figura do palhaço de um modo geral e pelo aspecto um tanto assustador do próprio Clóvis, particularmente, quando comprei, no entusiasmo e sem informação, achei que fosse algo mais voltado para o terror e neste sentido frustrou um pouco minhas expectativas, mas, salvo alguma deficiência nos desenhos como já mencionei, é extremamente competente no que se propõe com um resultado bastante interessante como um todo. Para quem não for, como eu, com a expectativa de uma publicação sanguinária, assustadora, sobrenatural, a conferida vale, principlamente porque a proposta é muito boa e os contos de Felipe Bragança tem muita qualidade e rara sensibilidade.


Cly Reis