"Mais
do que uma fantasia, essas figuras, de rostos cobertos, misteriosos,
usando roupas de tecido colorido, aos poucos foram sendo absorvidas
pelo carnaval de rua popular, fundindo e emulando diferentes tipos de
máscaras e rituais de encenação do caos e da desobediência – e
sendo perseguidas como baderneiras, assim como os capoeiras e os
sambistas de então."
Felipe Bragança
Felipe Bragança
"...seus mascarados escondem o rosto para não serem mais invisíveis!"
Felipe Bragança
Como acho interessante a figura do Bate-Bolas,
ou Clóvis como também é conhecido o mascarado que carrega uma bexiga que é por ele golpeada insistentemente contra o chão, figura tradicional do carnaval
carioca mas que só vim a conhecer há pouco tempo, assim que cheguei
ao Rio de Janeiro, pois sua tradição não é comum no Sul de onde venho, comprei a HQ “Claun – A Saga do Bate-Bolas”, a publicação que faz parte de um projeto multimídia que inclui uma websérie e futuramente um game, encabeçada pelo cineasta Felipe Bragança,
admirador de turmas de "bate-bolas" no subúrbio carioca,
com arte dos ilustradores Gustavo Bragança, Daniel Sake e Diego
Sanchez, igualmente cultuadores destes grupos carnavalescos.
Trazendo à tona a perseguição que
estes grupos de palhaços, assim como o samba, a capoeira e as
religiões africanas, eram vítimas no início do século passado, e
o consequente afastamento do carnaval “oficial”, e a discriminação que ainda sofrem hoje, o autor molda
contos urbanos entrelaçados onde o personagem Bate-Bolas surge como
uma espécie de justiceiro, conferindo aos clawns propriedades místicas, sobrenaturais e fantásticas.
A publicação vale muito pelo resgate dessa mitologia urbana, por essa inserção do elemento social e pelo estudo antropológico a que se propõe, mas
deixa um pouco a desejar no trabalho gráfico dos artistas que, de um
modo geral achei fraco, ainda que deva-se fazer justiça para a
qualidade da publicação, extremamente caprichada e bem acabada.
Por conta de toda aquela aura um tanto
sinistra que cerca a figura do palhaço de um modo geral e pelo
aspecto um tanto assustador do próprio Clóvis, particularmente,
quando comprei, no entusiasmo e sem informação, achei que fosse
algo mais voltado para o terror e neste sentido frustrou um pouco
minhas expectativas, mas, salvo alguma deficiência nos desenhos como
já mencionei, é extremamente competente no que se propõe com um
resultado bastante interessante como um todo. Para quem não for, como
eu, com a expectativa de uma publicação sanguinária, assustadora, sobrenatural, a conferida vale, principlamente porque a proposta é muito boa e os contos de Felipe Bragança tem muita
qualidade e rara sensibilidade.
Cly Reis