Fazia tempo que não escrevia sobre filmes aqui porque, com criança pequena em casa, quase não saio mais para ir ao cinema, e mesmo as sessões caseiras de DVD ficam mais limitadas. A gente prefere muitas vezes a garantia de algumas horas de sono antes que a bebê acorde, do que esticar um filmaço até duas da madruga. Mas felizmente agora estou retomando meu bom hábito de assistir a filmes e por sorte tenho visto coisas boas. Uma delas, da qual tinha ouvido falar muito bem e que confirmou as recomendações foi o argentino "Medianeras", um interessantíssimo retrato das relações humanas em épocas de tecnologia.
Sem ser chato, repetitivo, cliché ou piegas, aborda o convívio social na era digital, exatamente quando tudo oferece possibilidades, alternativas, recursos para que tenhamos tudo mais fácil, contudo, esta mesma tecnologia, a própria automatização acabam por desumanizar as pessoas. Mas não apenas a internet ou os aparelhos são colocados como os culpados por estes distanciamentos humanos: as cidades também são retratadas como responsáveis por isso. Sua arquitetura, sua frieza, sua opressão, sua conformação física, etc. Tudo. Coisas que fazem com que por vezes estejamos cercados de tantas pessoas e sem ninguém.
É como vivem, cada um em seu mundo dentro da mesma cidade (e mais perto do que imaginam) Martín, um montador de sites, hipocondríaco, quase recluso; e Mariana, uma jovem arquiteta que trabalha como vitrinista e que tenta reorganizar seu mundo sozinha depois de um rompimento amoroso. Ambos, à sua maneira buscam sua outra metade, mas esses elementos, tecnológicos e urbanos, dificultam para que seus caminhos se cruzem.
"Medianeras" é no fundo um filme sobre a solidão. Mas não um filme convencional. Trata do assunto com inteligência e bom-humor valendo-se uma narrativa envolvente e muito bem estruturada.
Pra quem não aguenta mais comediazinhas românticas bestas e repetitivas americanas, eis aí, com "Medianeras", uma alternativa diferente e de muita qualidade.
C.R.