está bastante claro que o pôster
não é só uma brincadeira idiota”
Jello Biafra
É complicado a gente apontar um álbum melhor do que o grande clássico de uma banda porque o disco legendário vai estar, sempre ali fazendo sombra, sussurrando "Eu sou o maior!" e, no fundo, lá no fundo, não há muito como negar. Mas tem aqueles que, se não são tão emblemáticos, representam o sinal definitivo de crescimento e maturidade. É o caso de "Frankenchrist" (1985) em relação a "Fresh Fruit for Rotting Vegetables" . O álbum de estreia dos Dead Kennedy's, de 1980, é clássico inconteste, amado e idolatrado de uma ponta à outra do planeta, e não sem razão. É um trabalho visceral no qual a sonoridade reflete perfeitamente o que o grupo pretendia e conseguia transmitir naquele momento. Mas "Frankenchrist", de 1985, é muito melhor tecnicamente. As músicas tem mais estrutura, são mais elaboradas, deixam mais evidente a influência da surf-music californiana que muitas vezes ficava escondida sob a fúria e a velocidade que definiram as músicas dos Kennedy's por quase toda sua existência. Existência que, aliás, foi abreviada exatamente em "Frankenchrist" por uma razão, de certa forma, um tanto banal. O encarte do álbum, idealizado pelo artista suíço H.R. Giger, o criador do design do personagem Alien, foi considerado obsceno, a banda processada, e o grupo não abrindo mão da arte, entendendo que a mesma complementava o conjunto artístico proposto no álbum, teve seus discos recolhidos e impedidos de serem comercializados, gerando prejuízos, transtornos e, no fim das contas, um desgaste que custou a vida da banda, depois de uma enorme demora para a definição do processo.
"Landscape #XX", mais conhecida como Penis Landscape,
a arte da polêmica.
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Um disco do tempo em que os Dead Kennedy's encaravam o sistema e brigavam por uma arte mesmo que isso viesse a custar caro, ao contrário do que aconteceu recentemente na divulgação da turnê brasileira, quando remanescentes da banda que seguiram com o nome e lançaram outros trabalhos mesmo depois da saída do líder Jello Biafra, cederam a pressões e, como se não bastasse, num primeiro momento, terem renegado o genial poster idealizado por uma artista brasileiro que havia mobilizado ainda mais os fãs para o evento e causado a ira dos apoiadores do atual governo brasileiro, ainda cancelaram as apresentações em terras brasileiras. Se tem um disco que simboliza de forma bem ilustrativa o oposto do ocorrido neste imbróglio da frustrada turnê brasileira, que simboliza o que é ser verdadeiramente punk e não se dobrar ao sistema, brigar contra censura, sistema jurídico, pressões sociais, falsa moral, conservadorismo e hipocrisia, esse disco é "Frankenschrist".
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FAIXAS:
- "Soup Is Good Food" – 4:18 (Jello Biafra)
- "Hellnation" – 2:22 (D.H. Peligro)
- "This Could Be Anywhere (This Could Be Everywhere)" – 5:24 (Jello Biafra)
- "A Growing Boy Needs His Lunch" – 5:50 (Jello Biafra)
- "Chicken Farm" – 5:06 (Jello Biafra)
- "Jock-O-Rama (Invasion of the Beef Patrol)" – 4:06 (Jello Biafra)
- "Goons of Hazzard" – 4:25 (East Bay Ray, Jello Biafra)
- "M.T.V. - Get off the Air" – 3:37 (Jello Biafra)
- "At My Job" – 3:41 (East Bay Ray)
- "Stars and Stripes of Corruption" – 6:23 (Jello Biafra)
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Ouça:
Dead Kennedy's - Frankenchrist
Cly Reis