É uma ótima e
estranha experiência a de entrar numa mente perturbada. “Você Nunca Esteve
Realmente Aqui" vai bagunçar sua cabeça. Vai fazer você se questionar e
imergir neste competente e pesado drama
psicológico.
Um homem, um
veterano de guerra ganha a vida resgatando mulheres presas em cativeiros
trabalhando como escravas sexuais. Após uma missão mal-sucedida em um bordel de
Manhattan, a opinião pública se volta
contra ele e uma onda de violência se abate na região.
Sua linguagem nem
um pouco casual pode causar um estranhamento de inicio, talvez até um certo
desconforto, mas o melhor que você tem a fazer é deixar-se levar pelo filme. Um
dos pontos que, mesmo sem ter culpa nenhuma, mas que, na minha visão, prejudica
um pouco a caminhada do longa, foram as diversas comparações que o filme
recebeu com o espetacular "Taxi Driver". Claro, faz sentido, ambos abordam um
tema parecido com personagens parecidos, porém uma coisa é uma coisa e outra
coisa é outra coisa. Um conselho: assista ao filme querendo ver “Você Nunca
Esteve Realmente Aqui” e não “Taxi Driver”.
Que homem! Que atuação! |
A construção do
personagem Joe ao longo do filme é ótima. Pouco é revelado a seu respeito em
palavras, contudo há muitos flashbacks revelando detalhes de seu passado e
mesmo de seu presente. E tem ainda a
questão dos problemas mentais que está na magnífica atuação de Joaquin Phoenix,
no seu olhar perdido, na maneira difícil de falar, como ele tem dificuldade de
se expressar.
A direção de Lynne
Ramsay é espetacular. Seu controle de câmera, os closes, os planos... Sempre
devemos ressaltar a visão que ela dá à violência. Os momentos de maior ação não
são mostrados para não gerar uma sensação de violência gratuita (tipo, “tem que
matar todo mundo mesmo”), mas aquelas que são desagradáveis, que chegam a fazer
dar um negócio ruim no estomago, ela faz questão de mostrar para que fique
claro a violência não é bonita.
“Você Nunca Esteve
Realmente Aqui” é uma obra que acontece na tela ao mesmo tempo que acontece na
sua cabeça tentado entender Joe, o que é fascinante. Ótimos enquadramentos, planos, a maneira que a câmera mostra Joe
sendo observando e observando algo, o tempo todo é magnífico. Cinema sendo usado
de uma maneira que extrapola os conceitos de simplesmente
absorver idéias. Corra e vá olhar esse ótimo estudo da mente humana, ótimo
estudo de personagem e ótimo filme.
Cena lindíssima do ótimo filme de Lynne Ramsay |
por Vagner Rodrigues