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O mexicano Alejandro Iñárritu com parte de sua equipe,
recebendo o Oscar de Melhor Filme
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Sinceramente, me surpreendeu um pouco.
Embora torcesse por ele, por todas as
qualidades que me revelou de maneira fascinante, imaginava que a
Academia fosse mais conservadora e entregasse o prêmio de melhor
filme ao meticuloso “Boyhood” ou a “Sniper Americano” como
uma afirmação de americanismo. Mas não, o pouco convencional
“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, de planos-sequência contínuos, discussões pesadas e
atmosfera onírica levou não somente a estatueta principal da noite
como fotografia, roteiro original e direção. Até achava que
pudesse acontecer de, assim como no ano passado, as categorias
máximas ficassem divididas, indo o Oscar de filme para um dos que
apontei anteriormente, e o de direção para “Birdman”, pois
pensava que por mais que se reconhecesse os méritos, a persistência,
a projeto de Richard Linklater para “Boyhood”, era impossível
ignorar o fantástico trabalho de direção de “Birdman”, que,
contínuo, ininterrupto, integrando ambientes, atravessando o tempo,
distorcendo a realidade, fez com que o brilhante roteiro, por sinal
também premiado, funcionasse de maneira impecável e perfeita. A
minha 'barbada' de direção poderia ter sido comprometida pelo fato
do diretor ser estrangeiro e para piorar, já no ano passado um
conterrâneo do diretor, o também mexicano Alfonso Cuarón, ter
vencido na categoria. O fato poderia pesar para que Hollywood., como
um todo, não quisesse repetir a dose e premiar novamente um
estrangeiro, mas apesar da brincadeira de mau-gosto de Sean Penn na
hora da divulgação, que só ajudou a fundamentar a origem da minha
desconfiança, a justiça foi feita plenamente e outro 'chicano' saiu
com o prêmio dourado nas mãos. Destaque também para o prêmio de
fotografia de “Birdman”, que também me surpreendeu, não pela
qualidade que julgo inegável, mas pelo anticonvencionalismo, tendo
sido o filme rodado praticamente em corredores, camarins, bastidors,
o que poderia dar a falsa impressão de pobreza de recursos técnicos.
Mas se o Homem-Pássaro de Iñárritu
levou quatro estatuetas, o Hotel não ficou atrás. É verdade que
“Birdman” ganhou os prêmios ditos principais, os definidores do
que se entende por um bom filme, mas os prêmios estético-técnicos,
por assim definir (figurino, direção de arte, maquiagem), e o,
justíssimo, de trilha original, garantem a “O Grande Hotel
Budapeste”, do bom Wes Anderson, o devido reconhecimento de suas verdadeiras qualidades,
que para mim, não vão muito além disso.
Colado com eles,
"Whiplash", o drama
do baterista instruído por um professor severo, levou três
estatuetas, sendo uma delas exatamente para o professor
descontrolado, interpretado por J.K. Simmons. Os outros bem
conceituados, que disputavam inclusive melhor filme, dividiram
igualmente algumas das demais honrarias:
"Sniper Americano" de Clint Eastwood, teve que se contentar apenas com o prêmio de Edição de Som; “O Jogo da Imitação” ficou com Roteiro
Adaptado; “Selma” ficou com o prêmio de canção original, cuja interpretação, no palco, emocionou a platéia;
Patricia Arquette justificou
"Boyhood" com seu prêmio de atriz
coadjuvante; Julianne Moore finalmente, com muita justiça levou seu
primeiro Oscar por “Para Sempre Alice”; e na tradicional simpatia
de Hollywood por
covers e
deficiências físicas, Eddie Redmayne, uniu as duas e levou pra casa o de melhor ator por sua
interpretação de Stephen Hawkins, no filme “A Teoria de Tudo”.
De
resto, gostei muito da parte técnica e estética do palco, dos
telões, dos efeitos e recursos da cerimônia, mas achei mestre de
cerimônias, Neil Patrick Harris, um tanto perdido e sem graça. Se
no ano passado a reconhecidamente inteligente e talentosa
Ellen
DeGeneres me decepcionou
pela ausência de tiradas interessantes, pela
falta de criatividade, tendo
que se socorrer num sefie coletivo para salvar a noite, que, é bom
que se faça justiça,
virou histórico, nosso glorioso apresentador da edição 2015 não
conseguiu se salvar nem de
cuecas no palco, parodiando a cena de “Birdman”.
Lamentável foi o fato de
Scarlett Johansson, que apareceu deslumbrante num vestido verde, não ter levado nenhum prêmio. Sei que vão dizer que ela, afinal de contas, não estava concorrendo a nenhum, em nenhuma categoria e tal e blablablá. Sei, sei disso. Mas algum prêmio ela deveria ganhar. Qualquer coisa. Ela sempre merece.
Confira
abaixo, então, todos os vencedores em todas as categorias.
***
Melhor filme
"Birdman"
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Riggan (Michael Keaton)
de cuecas na Broadway |
Melhor diretor
Alejandro González Iñárritu, "Birdman"
Melhor ator
Eddie Redmayne, "A Teoria de Tudo"
Melhor atriz
Julianne Moore, "Para Sempre Alice"
Melhor ator coadjuvante
J.K. Simmons, "Whiplash - Em Busca da Perfeição"
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J.K. Simmons teve sua
grande atuação premiada
por "Whiplash" |
Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette, "Boyhood - Da Infância à Juventude"
Melhor roteiro original
"Birdman"
Melhor roteiro adaptado
"O Jogo da Imitação"
Melhor animação
"Operação Big Hero"
Melhor filme estrangeiro
"Ida", da Polônia
Melhor documentário
"Citizenfour"
Melhor edição
"Whiplash - Em Busca da Perfeição"
Melhor fotografia
"Birdman"
Melhor direção de arte
"O Grande Hotel Budapeste"
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O filme de Wes Anderson
levou com justiça o prêmio de
direção de arte
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Melhores efeitos visuais
"Interestelar"
Melhor edição de som
"Sniper Americano"
Melhor mixagem de som
"Whiplash - Em Busca da Perfeição"
Melhor figurino
"O Grande Hotel Budapeste"
Melhor cabelo e maquiagem
"O Grande Hotel Budapeste"
Melhor trilha sonora original
"O Grande Hotel Budapeste"
Melhor canção original
"Glory", do filme "Selma"
Melhor curta-metragem
"The Phone Call"
Melhor curta-metragem de animação
"O Banquete"
Melhor curta-metragem de documentário
"Crisis Hotline: Veterans Press 1"
Cly Reis