De tempos em tempos, a Pixar acerta a mão. Acontece de intercalarem boas produções e outras irregulares, mas talvez nunca tenham ficado tanto tempo sem emplacar algo realmente significativo. Desde "Soul", de 2020 (ou seja, há 4 anos), que o estúdio mais vanguarda da Disney não conciliava uma história interessante e bem desenvolvida como "Viva! - A Vida é uma Festa" ou "Ratatouille" com, claro, entretenimento - afinal, é disso que o cinema de massa vive. Mas "Divertida-Mente 2" devolve a Pixar o protagonismo da animação em cinema conquistado há pouco menos de 30 anos. Um dos motivos disso é que a excelente continuação do filme original de 2015, acerta, assim como ocorreu na pioneira franquia "Toy Story", em trazer à luz os conflitos existenciais humanos comuns e, por isso, universais.
O filme de Kelsey Mann prossegue a história da garota Riley, que está mais velha em relação ao primeiro filme, quando ainda era uma criança. Junto com o amadurecimento da temida adolescência, a tresloucada sala de controle da mente dela também está passando por uma adaptação para dar lugar a algo totalmente inesperado: a presença de novas emoções. Somam-se à Alegria, a Tristeza, a Raiva, o Medo e a Nojinho, então gestores do QG cerebral de Riley até então, a Inveja, o Tédio e a Vergonha. No linguajar chulo: fudeu!
O grande acerto do filme reside, antes de mais nada, no roteiro. "Divertida-Mente 2", noutra feliz comparação com "Toy Story", trata do "rito de passagem". Por contar o desenvolvimento emocional da personagem, que deixa a infância para entrar na fase adulta, o bem amarrado roteiro utiliza uma história pequena (basicamente, a ida dela para a colônia de férias e a sua tentativa de entrar na seleção de rugby da escola) para desdobrar os diversos elementos psíquicos e emocionais que emergem de dentro dela.
De maneira hilária, as emoções de Riley, como no primeiro filme, ganham personalidade estereotipadas, o que funciona muito bem para a recepção da informação ao espectador e, claro, para render muitas risadas. As novas emoções do inconsciente de Riley são, como as já manifestas no primeiro filme, bem caracterizadas: a Inveja, uma garotinha verde ativa mas insegura; a Vergonha, um tímido menino gorducho com baixa autoestima; o Tédio, um típico jovem da Geração Z, e a esquisitona Ansiedade, que muda totalmente o andamento das ações (e da história, e da cabeça de Riley) quando entra em conflito com as emoções "antigas". Afinal, qual adolescente não é ansioso com todos os conflitos psicológicos e as mudanças fisiológicas que essa etapa da vida traz?
"Divertida-Mente 2" tem a grande qualidade de saber ser engraçado, mas não histriônico. Os momentos de diálogos são muito bem equilibrados com os lances de piada, assim como (e principalmente) as cenas de aventura, que não se excedem como em outros filmes da Pixar ou de animações em geral. Até mesmo os ótimos "Up - Altas Aventuras" e "Os Incríveis", às vezes, se perdem um pouco no percentual de movimentos, luzes e explosões, o que, ao contrário do que o cinema norte-americano acha, não raro cansam ao invés de animar.
A adolescente Riley: personagem principal, mas não protagonista
Essa coerência se revela também na relação entre as personagens/emoções, fruto de um visível aprofundamento dos roteiristas, assessorados pela competente dupla de psicólogos consultores Dacher Keltner e Lisa Damour. A reação moderada da invariavelmente explosiva Raiva quando percebe o desânimo da sempre positiva Alegria - até então, a principal responsável pelo emocional da menina até a chegada da Ansiedade - é um desses momentos muito bem (com o perdão da redundância) pensados. Igualmente, a união da melancólica Tristeza com a Vergonha, identificados na situação em que tentam salvar o ameaçado “sistema de valores” da pequena "patroa". E no momento em que a Ansiedade perde o controle, a que emoção o inconsciente de Riley recorre? A Alegria, claro. Na aparente descontração de uma animação pop, cabe, sim, muita pesquisa técnica, uma qualidade processual às vezes esquecida em Hollywood, como se não precisasse haver esse tipo de cuidado para um produto de grande público.
Porém, mais do que apenas desenvolver bem a trama, a própria estrutura é sui generis. Embora a personagem Riley seja a principal, ela não é necessariamente a protagonista, o que é mais cabível de se imputar à Alegria. Novamente referindo "Toy Story", essa é exatamente a mesma forma, principalmente a do terceiro da série, de 2010, em que a história dos bonecos, de função narrativa semelhante a que as emoções desempenham em "Divertida-Mente 2", se entremeia a do "personagem humano": Riley, neste filme, e o garoto Andy, de "Toy Story". Em ambos, é como se houvesse um espelho, que refletisse ora o interno, ora o externo.
Num plano filosófico, "Divertida-Mente 2" também aprofunda. A mensagem que o filme deixa, embora aparentemente inofensiva (pois positiva como o cinema norte-americano geralmente intenta), diz muito sobre a visão do sistema em que se vive: é a da aceitação. Um entendimento de que o ser humano é, sim, complexo e contraditório. Um avanço em se tratando de cinema norte-americano, contumaz disseminador da visão cartesiana do povo dos Estados Unidos, a qual é convertida numa cultura altamente individualista. "Divertida-Mente 2", num concepção mais holística, mesmo que seja estrategicamente proferida, quebra este pensamento dualista e pragmático.
Coerência em roteiro, animação do melhor nível, técnica perfeita. Resultado? Um sucesso de critica e publico. Para o Oscar de 2025, certamente o filme já se coloca como um forte candidato. O fato de ser maior sucesso de bilheteria da história da Disney/Pixar até então só denota o quanto o público aguardava por uma produção com a qualidade que o estúdio tem poderio para oferecer, mas que fazia anos que isso não acontecia. Que não se demore muito mais novamente.
Duas capas de "Pedro e o Lobo": acima, a primeira gravação, com a Boston Symphony Orchestra, de 1939, e abaixo, versão em português narrada por Rita Lee, de 1989
”Na Rússia, há um grande esforço para a educação musical das crianças. Uma das minhas peças orquestrais, ‘Pedro e o Lobo’, foi uma experimentação. As crianças recebem impressões de diversos instrumentos da orquestra apenas ouvindo a peça sendo apresentada”.
Sergei Prokofiev
“[O estilo de Prokofiev é uma] combinação do simples com o intrincado, da complexidade do conjunto com a simplificação do particular”.
V. Karatygin, crítico musical
“Todo o instável, transitório, acidental ou caprichoso foi excluído de sua obra (...) Nada efêmero, nada acidental. Tudo é distinto, exato, perfeito. Por isso, Prokofiev é um dos maiores compositores do nosso tempo”.
Sergei Eisenstein
O compositor russo Sergei Prokofiev pode ser considerado um artista moderno em vários aspectos. Não apenas por ter contribuído para a construção da música contemporânea uma vez que pertencente à geração modernista, mas por ter sentido na pele o maior dos dilemas de um artista dos tempos atuais: ser pop ou não ser pop. Eis a questão. Para quem vivia de arte na Rússia de Stálin, o estrelato até era possível, mas não sem preço. O instituído conceito de Realismo Socialista exigia dos artistas maior comunicação com o publico. Trocando em miúdos: que suas criações servissem, como em qualquer ditadura, de propaganda política. Entre os grandes músicos de sua geração, todos, sem exceção, tiveram problemas para exercer justamente aquilo que os fazia importantes inclusive para o governo bolchevique, que se aproveitava de seus talentos para potencializar o discurso comunista. Stravisnky, Rachmaninoff e Shostakovitch, por exemplo, sofreram ora com a apropriação do Estado, ora com a ferrenha vigília do mesmo. Se não obedeciam, eram postos numa geladeira mais fria do que a Sibéria: aquela destinada aos traidores da nação. Fosse numa prisão domiciliar ou mesmo no autoexílio, não raro o resultado era uma depressão pela falta de liberdade ou, pior, pelo nacionalismo ferido. Não havia o que lhes salvasse.
Com Prokofiev ocorreu tudo isso também: talento descoberto cedo, alçamento à estrela, tentativa de doutrinação, contrariedade a esta condição, longo período sabático no exterior, amadurecimento artístico e... retorno para a Rússia. Nessa ordem. O bom filho, ainda mais um nacionalista como todos da sua geração, à casa tornaria hora ou outra, mesmo que o cenário não fosse dos mais favoráveis como aquele de 1933, 16 anos após a Revolução Socialista. Produzir? Podia, só que dentro dos ditames que o estado determinava. Passar a compor marchas diatônicas, corais para amadores e cantatas meramente comemorativas era o que lhe restava se quisesse trabalhar. Neste processo de simplificação linguística e aproximação com o lirismo tradicional russo escreveu trilhas para cinema em contribuições memoráveis nos filmes “Alexandre Nevsky” e “Ivan, o Terrível”, ambos de Sergei Eisenstein. Mas longe daquilo que gostava: dissonâncias, polifonia, riqueza harmônica e exageros aqui e ali.
Só que, diferentemente dos seus pares, Prokofiev tinha dentro de si um anjo para lhe salvar. Compositor desde os 5 anos de idade, quando surgiu como pianista prodígio, Prokofiev resgata da memória as tenras melodias folclóricas que ouvia dos camponeses quando criança em Sontsovka, na Ucrânia, onde nascera, e do incentivo dos pais para a vida musical para se inspirar e pincelar com cores vivas a sua inevitavelmente intrometida obra. É neste contexto que nasce aquela que, além de ser sua obra mais conhecida, é também uma das mais revolucionárias da música erudita de todos os tempos: o conto sinfônico infantil “Pedro e o Lobo”, de 1936, para narrador e orquestra, Opus 67.
Capa do livro original em russo, de 1936
Na história, Pedro é um jovem pastor de ovelhas que vive com o seu avô no campo. Um dia, farto de algo mais divertido, decide gozar com as pessoas da aldeia, mentindo que estava sendo atacado por um lobo. Desmascarado, ele não é acudido pelos camponeses irritados com sua atitude mentirosa quando, de fato, o perigoso animal espreita. O lobo engole o pato, que havia fugido por descuido do menino, e só não o faz o mesmo com o gato porque este, ágil, sobe à árvore.
O sucesso universal que “Pedro...” obteria século XX adiante faz com que seja difícil imaginar o quanto foi penoso para Prokofiev compô-la. Autor acostumado às construções intrincadas de melodia e harmonia, subvertidas com perícia e austeridade, o que geralmente lhe dificultava o entendimento, Prokofiev via-se agora diante da encomenda de Natalya Sats, diretora de um teatro infantil de Moscou, em um projeto no qual era necessário ser compreendido por todos os públicos, principalmente o infantil. Desta forma, o compositor usa toda sua inteligência musical para, num processo cartesiano, limpar as complexidades desnecessárias e edificar uma peça que, devido à sua beleza lúdica e clareza conceitual, passou a servir de referência a obras voltadas para crianças. Na Rússia e no mundo! Sendo forçosamente pop, Prokofiev inferiu de maneira inapagável na cultura pop.
Ledo engano, no entanto, supor que o compositor russo apenas despiu de experimentalismo sua música para criar um mero número fácil e vulgar. O grande mérito dele está em, sabendo valer-se de toda sua sensibilidade musical e extenso cabedal técnico – adquirido desde a infância com mestres como Glière, Rimsky-Korsakov e Stravisnky, e mais tarde, no convívio com figuras como Picasso, Cézanne, Diaguilev e Maiakowsky –, não desfazer a inteligência do público a quem se dirigia: as crianças. Situando-se entre a música absoluta, a realização de uma paisagem sonora ideal desvinculada do ambiente externo, e a música programática, gênero instrumental criado no período romântico que transforma o espaço natural em sala de concerto, “Pedro...” tem o objetivo pedagógico de ensinar música às crianças.
Prokofiev: um revolucionário entre o erudito e o popular
Prokofiev deu a cada personagem da história a representação por um instrumento: Pedro, o quarteto de cordas; passarinho, a flauta transversal; pata, oboé; gato, clarinete; vovô, fagote; lobo, três trompas; e os sons dos caçadores, tímpanos e bombo. Através da linguagem musical plástica e literária, faz-se entender e entreter. No espaço simbólico entre a elite e o povo, Prolofiev optava pelos dois. Como Richard Wagner, o russo vale-se da aliteração poética para fazer com que a música participe do enredo, evocando sugestões e harmonias. Uma das ferramentas usados é outra técnica largamente usada pela ópera: o leitmotiv. Elemento recorrente na composição de “Pedro...”, ajuda Prokofiev a desenvolver temas que constituem, cada um, um “motivo”, isto é, uma reiteração ao longo da composição, que apela com frequência ao resgate de trechos e sons anteriores.
Ao suavizar sua estética geralmente arrojada por uma simplificação estilística, Prokofiev marca uma viragem que, talvez sem perceber, provocaria uma revolução na música mundial. Quantos artistas posteriores a ele oriundos do meio alternativo, da vanguarda ou do erudito também se depararam com a dicotomia entre popular e alta cultura? Manterem-se fiéis aos preceitos e restringir sua comunicação a poucos ou mudar de paradigma e expandir o alcance de suas obras? E quantos, sem saber lidar, se perderam nisso? Beatles, Salvador Dalí e Federico Fellini, cada um em sua área, sabem bem do que se trata.
O fato é que é certo dizer, por exemplo, que “Fantasia”, realizado três anos após o lançamento de “Pedro...”, jamais sairia do raff de Walt Disneynão fosse o conceito linguístico cunhado por Prokofiev, que foi aos Estados Unidos em 1938 apresentar-lhe a peça ao piano especialmente. Tanto que o próprio Disney produziu, em 1946, sua versão para a obra, introjetando seus ensinamentos. “Pedro...” influenciou as cabeças de Hollywood, que perceberam naquela “fórmula” de casamento música-imagem um poderoso elemento narrativo de comunicação com o público espectador, e não só o infantil. Filmes, animações, publicidade, televisão e tudo que se imagine da relação som/personagem bebem até hoje nesta inaugural sinfonia para crianças – e adultos, claro. Não precisa ir muito mais longe para notar essa influência. Os acordes de cordas que designam Pedro são exaustivamente copiados em praticamente todas as trilhas sonoras cinematográficas de filmes minimamente voltados ao público infanto-juvenil, visto que o principal reinventor do conceito musical do cinema moderno, John Williams, é claramente um adepto de Prokofiev.
"Pedro e O Lobo",de Walt Disney(1946)
Além disso, é possível ouvir versões de “Pedro...” nas mais diversas línguas e culturas, que se identificam com a história independentemente do local e tempo dada sua universalidade. David Bowie, Sean Connery, Bono Vox, Boris Karloff (inglês), Gérard Philipe, Pierre Bertin (francês), Antonio Banderas (espanhol), Sophia Loren (italiano), Paul de Leeuw (holandês), Rita Lee e até Roberto Carlos (português) já narraram a peça em seus respectivos idiomas em mais de uma centena de gravações.
O feito de Prokofiev, mesmo que a duras penas, foi o de contribuir sobremaneira para a cultura pedagógica da música na sociedade e para a popularização da música erudita, taxada de difícil e chata (muitas vezes, não sem razão) pelo grande público. Em “Pedro...”, sem abrir mão da tradição clássica e da veia vanguardista, Prokofiev, salvo pela própria alma infantil, ajudou a democratizar a música de alta qualidade, tornando-a popular no melhor sentido da palavra. Fez o que talvez camarada Stálin nem suspeitasse ser possível sem rigidez: uma obra literalmente “comuna”.
*Versão com a New Philharmonia Orchestra, narrada por Richard Baker com dondução de Raymond Leppard, de 1971, considerada pela revista de música clássica Gramophone como a melhor gravação de "Pedro e o Lobo"
Depois de uma semana com alguns dias bem frios, típicos do inverno gaúcho, o final de semana se anunciava quente, com as temperaturas em ascensão de sexta para sábado. Não deu outra: após algumas atividades já agendadas, Leocádia Costa e eu aproveitamos o calor agradável fora de época para passar no 8º Festival do Japão RS. Não poderia ter sido melhor, visto que foi realmente um barato conferir a atividade, que levou uma multidão à Academia de Polícia de Porto Alegre. O Festival, realizado anualmente no mês de agosto em um final de semana próximo à data de 18/08, considerado o Dia do Imigrante Japonês no Estado, tem como objetivo divulgar a cultura japonesa no Rio Grande do Sul. O evento celebra o dia como uma forma de preservar a cultura e as tradições do país de origem entre os descendentes dos imigrantes japoneses. Ao mesmo tempo, integra os laços culturais entre os povos, mostrando ao público admirador os hábitos, costumes, culinária, expressões artísticas e outras práticas relacionadas ao cotidiano do povo japonês.
O convite – e a pilha para prestigiar – veio da nossa amiga e minha colega de trabalho Carol Ayako, RP competente, diretamente ligada à organização do evento e entusiasta da cultura nipônica da qual a própria descende. A pilha de Carol, aliás, já vinha de algumas semanas, quando ela nos informou – à Leocádia, especialmente – da presença no festival da Hello Kitty, a graciosa gatinha muito querida pelo público – e pela Leocádia –, que está completando 45 anos de criação. A mim, Carol (uma ótima cantora também, aliás) pegou-me pela parte musical, avisando-me que teria uma cantora japonesa que cantava música brasileira.
Ao que chegamos, percebendo a extensa fila para entrar, cogitamos recuar. Mas com quem nos deparamos em meio àquele monte de gente? Com a Carol. Mesmo atribulada com as várias coisas do evento, ela nos ajudou a entrar no espaço, onde pudemos ver diversas atividades e produções ligadas ao Japão, de artesanato à gastronomia. Bastante frequentado por uma galera jovem ligada aos animes e a cultura pop japonesa, o lugar estava tomado de cosplays. Divertido, engraçado em alguns casos, mas, particularmente, confesso que não é algo que me desperte interesse ou admiração. Coisa de adolescente com a qual não me identifico? Não somente, pois nem quando adolescente culturas de massa como esta me atraíam. Mas é inegável que os tipos vestidos de personagens como Picachu, Homem-Aranha, Jaspion, Viúva Negra, Justiceiro e mais uma enormidade de rainhas, princesas, samurais, guerreiros e outros, que parecem ter saído direto de um mangá, se conformam muito bem no festival, dando cores divertidas e um ar jovem ao evento.
Trecho da apresentação doGrupo Aika
Dentre as coisas que pudemos presenciar na pouco mais de uma hora em que estivemos foi a linda dança da companhia de dança Grupo Aika (de Ijuí/RS), que muito me lembrou momentos do cinema de Akira Korosawa e Kenji Mizogushi, cineastas que admiro desde a juventude; os artesanatos, com aquelas louças com as pinturas típicas japonesas; o estande da Hello Kitty, lotado de gente e de produtos licenciados da personagem; e a tal cantora, a qual soube lá se chamar Mariko Nakahira, que veio do outro lado do mundo para se apresentar. Simpática e manifestamente feliz por estar ali, ela cantou, com o seu gracioso sotaque japonês e como boa musicista oriental admiradora de MPB, “Carinhoso” (Pixinguinha e Benedito Lacerda) e “Mas que Nada”, de Jorge Ben.
Um passeio que não estava certo em nossa agenda, mas que valeu muito a pena, viu Carol? Confiram algumas fotos do que os nossos olhos captaram:
O portal de entrada: bem-vindos ao Festival do Japão!
Os corredores de expositores
Muita gente visitando o festival no final de tarde
Nós ao lado do tsuro gigante
Parecem ter vindo direto da Dinastia Ming. Nem ousei fotografar de perto
Leocádia encontra Hello Kitty
Decoração típica da cultura japonesa
Mais pessoas visitando como nós
Leocádia e outros conferindo os belos materiais dos expositores
Enquanto uns estão interessados, outros já cansaram
Cosplays, que estavam por roda parte
A afinada e animada Mariko, que veio do Japão para cantar MPB
Não sei se foi a melhor história do Homem-Aranha nos cinemas mas, sem sombra de dúvidas, foi a que mais me empolgou e me fez gritar VAI TEIA, VAI TEIA!!!!.
Miles Morales é um jovem negro do Brooklyn que se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker, já falecido. Entretanto, ao visitar o túmulo de seu ídolo em uma noite chuvosa, ele é surpreendido com a presença do próprio Peter, vestindo o traje do herói aracnídeo sob um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre que ele veio de uma dimensão paralela, assim como outras versões do Homem-Aranha.
É um roteiro simples, não vai fugir da jornada do herói. Nesse ponto, e apenas nesse ponto, o longa e bem comum. Mesmo sendo a primeira aparição de.., tudo acontece de maneira tão natural e divertida, que parece que a conhecemos a vários anos. Mas você, fã velho de guerra, saiba que Peter Parker, está lá e muito bem.
Visualmente, o longa é um espetáculo! Suas cores, seu design de personagem, a animação perfeita fazem dele literalmente um quadrinho na tela do cinema. Por mais que o roteiro seja uma simples jornada do herói, ele acerta muito nos seus tons. É uma animação para um público infantil, sim, mas seus momentos de drama, são bastante pesados e funcionam bem para formar nosso elo com os personagens. Falando em personagem, Miles Morales... Que personagem bem construído, bem explorado! Conseguimos ver nele todas suas camadas, seus dilemas, tanto de adolescente como de Homem-Aranha. É um dos heróis mais humanos do cinema atualmente. Os dramas de sua vida pessoal, especialmente o relacionamento com o pai e o tio, conseguem ser tão impactantes quanto as ameaças dos vilões.(essa e pra você que torceu o nariz quando ele surgiu nas HQs..TOMAAAAAAAAAAA). Mas que fique claro que todos os “Aranhas” são bem apresentados e trabalhados. O trio Miles, Peter e Gwen Stacy,fica mais tempo em tela, se destaca mais e todos tens seus momentos e estilos próprios. Temos um excelente Peter, mais velho, experiente, mas não menos hilário. Duas de suas cenas se destacam bastante: sua primeira aparição e o momento em que vai explicar seu plano para invadir o laboratório.
Quando o assunto é o Cabeça de Teia, não podemos deixar de fala de humor e esse é mais um ponto no qual o filme vai espetacularmente bem. O filme zoa ele mesmo, as HQs, os filmes, chegando ao ponto de utilizar até memes do Aranha. Ssensacional!
Como obra cinematográfica é incrível, como adaptação de quadrinhos, sensacional, e como história do Homem-Aranha é ESPETACULAR. Um longa que faz você rir, chorar, se emocionar, pensar nos seus relacionamentos amorosos e familiares, e entender que, realmente, com grandes poderes, vem grandes responsabilidades.
Belo, bem escrito, bem dirigido, uma animação espetacular! O filme é fantástico, Wes Anderson é incrível, “ Ilha dos Cachorros” pode não ser perfeito mas é sublime em todos os aspectos.
Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos de idade que mora na cidade de Megasaki sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de viverem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo, porém o pequeno Atari não aceita se separar de seu cachorro, Spots. Ele então convoca os amigos, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel amigo. E essa aventura vai transformar completamente a vida da cidade.
É uma obra que você tem que assistir completamente dedicado a ela pois necessita muito da sua atenção, uma vez que é fundamentada nos diálogos e detalhes. Apesar de ser uma animação e ter bichinhos, "Ilha dos Cachorros" não é um filme infantil. Tem seus momentos cômicos mas de um modo geral seu enredo é bastante político, além de um ritmo lento que, certamente não chama atenção das crianças em geral, não é mesmo? (Podemos dizer que nem de alguns adultos). Portanto, não vá com espírito de ver algo Disney/Pixar, ou Dreamworks.
A nada bela ilha para onde os cães são enviados.
Visualmente falando, o filme é perfeito e logo na primeira cena você já fica impressionado com a perfeição e naturalidade dos movimentos dos bonecos, já que estamos falando de uma obra de stop-motion. A forma como a câmera passeia pelo cenário também chama muito atenção. Temos planos abertos que são obras de artee lembram muito os filmes japoneses de samurais. Temos homenagens a Miyazaki e o estúdio Ghibli, aos animes de Tezuka, e muitas outras referências a cultura japonesa.
É curioso como ficamos distanciados e não conseguimos ter muita empatia com os personagens humanos, o que é provável que seja proposital pelo fato do elenco de cachorros ser o principal, o que fez com que nenhum humano me cativasse muito. Já os cães, são magníficos! O trabalho de arte de movimentação, as atuações, o trabalho vocal do grande elenco do filme (Angelica Huston, Bill Murray, Bryan Craston e mais uma galera... até Yoko Ono), e as partes cômicas também ficam por conta do cães que, por sinal, se saem muito bem.
Mesmo envolto numa polêmica de uma suposta apropriação cultural, que no meu ponto de vista é muito mais como uma linda homenagem ao cinema e à cultura japonesa, o longa vem com força e se continuar assim pode ser candidato ao próximo Oscar de animação. Não é uma obra de fácil absorção até pela grande quantidade de referências à arte nipônica, o que exige um certo conhecimento para captá-las, porém a beleza visual, a sutileza do enredo podem te colocar dentro do filme e prender sua atenção. Mais uma bela obra de Wes, que vem conquistando meu coração a cada novo filme.
O divertido grupo de cães que ajudam o jovem Atari.
Uma das marcas mais confiáveis da indústria cinematográfica da atualidade não é necessariamente um cineasta ou uma escola, mas, sim a Disney/Pixar. Invariavelmente, suas produções, seja em curta ou longa metragens, agradam (quando não surpreendem) tanto quem busca por entretenimento quanto por arte. “Viva – A Vida é uma Festa”, de Lee Unkrich e Adrian Molina, é um bom exemplo. Para quem como eu e Leocádia, que nos sentimos desassistidos diante da grade dos cinemas comerciais, optar por ver uma animação da Pixar ao invés de qualquer blockbuster tão “real” quanto descartável é um acerto no alvo. Afora a qualidade técnica indiscutível, os filmes da produtora estabelecem alto poder de diálogo com o público adulto (às vezes, até priorizando-o, caso de “Wall-E”) e, ao mesmo tempo, divertem a criançada.
“Viva” tem, de fato, grandes méritos, tanto que é um dos concorrentes ao Oscar de Melhor Animação e Canção Original deste ano. Na história, Miguel Rivera é um menino de 12 anos que quer muito ser um músico famoso, mas ele precisa lidar com a desaprovação de sua família de tradicionais sapateiros traumatizada com um episódio do passado em que um músico os abandonou para nunca mais voltar. Determinado a seguir os passos do seu ídolo, o cantor Ernesto de La Cruz – espécie de Roberto Carlos mexicano, mas já falecido –, ele acaba desencadeando uma série de eventos e aventuras no feriado mexicano do Dia dos Mortos, celebrado com devoção no México. Estes, por sinal, envolvem tanto a sua família – sejam os entes vivos ou não – quanto o misticismo peculiar do povo mexicano, cuja linha entre vida e morte é estreita – pelo menos, quando os sentimentos estão aflorados para o feriado de finados.
O simpático Dante: mensageiro entre os dois mundos
As cores vibrantes, a luz tropical, a musicalidade, as formas e as crenças do México são muito bem representados no roteiro, que engendra uma trama capaz de unir tudo isso sem deixar de ser um verdadeiro entretenimento. Afinal, não apenas de coisas agradáveis se compõem os fatos da trama. Se tem o colorido das roupas e da música ou a beleza onírica da mitologia, há também os tabus, como a presença permanente da morte e a passagem do tempo. Assim, a história equilibra com felicidade em seu ritmo narrativo a tríade aventura/humor/drama, sine qua non para uma produção da Pixar, com estes traços característicos da cultura mexicana, inserindo-o na narrativa tradicional do cinema norte-americano mas sem deturpá-los.
Um dos aspectos folclóricos a que me refiro é exatamente a morte e como esta se dá no imaginário do povo mexicano. A sensibilidade de artista e de criança do pequeno Miguel é usada para mostrar como a antiga cultura mexicana mistifica a morte e, ao mesmo passo, a elabora melhor do que o convencionado no Ocidente. Seja no mundo dos vivos ou dos mortos, o que mantém as relações é o afeto e a energia que este emana. Sem a energia vital, capaz de manter acesa a memória afetiva, as pessoas são esquecidas e desaparecem. Este lado espiritualista do ser mexicano, advindo dos povos indígenas originários, é abordado com delicadeza e reverência. Um exemplo são os bichos, como o simpático cão Dante, naturalmente conectado com os diferentes planos de existência por sua condição de pureza animal.
O nível de profundidade que o filme atinge é realmente louvável. Além da questão da morte e dos laços familiares e suas implicações na forma de ser e ver o mundo, a história toca, num âmbito mais apurado, na questão da identidade. A busca do menino Miguel por aquilo que lhe faz sentido, a música (mesmo que, para isso, tenha preciso mover, literalmente, “céus e terras”), bem como a ligação que isso tinha com seu laço sanguíneo, vai ao cerne dessa premissa. Seja na fase infantil ou adulta, é sempre tocante a um espectador ver numa obra de cinema o encontro emocional com as origens – mesmo que o personagem seja um desenho animado inventado e não necessariamente uma pessoa interpretando um papel.
O pequeno Miguel em sua aventura no mundo dos mortos
Outro aspecto interessante de “Viva” é a evidente valorização da música. Esta ganha nuança de arte transformadora tanto no sentido biográfico de Miguel quanto biológico, uma vez que ele guarda geneticamente o talento de seu antepassado. Porém, também pode ser vista como uma força capaz de unir as almas deste plano ou do além. Ou melhor: de provar que não existem fronteiras para quem ama. Momento muito bonito do filme é quando Miguel tenta de todas as maneiras reavivar a memória de sua “mamá”, a bisavó velhinha e praticamente sem reação sobre uma cadeira. Ele só o consegue quando toca ao violão uma música do pai dela, seu tataravô. É o reconhecimento de si mesmo na forma da vibração energética motivada pela música, bem como da apreensão, mesmo que somente naqueles instantes mágicos em que os sons ressoam, do tempo: o novo que segue, agora a seu modo, aquilo que é da essência dos Rivera. Além disso, a cena é o próprio cinema em sua acepção: o registro da memória.
Toda criança – ou adulto – tem a sua animação da Pixar preferida. Há os que adoram “Toy Story”, “Os Incríveis”, “Up – Altas Aventuras”, “Monstros S.A.” ou outro título. A variedade e a qualidade é grande. “Viva”, com certeza, passa a figurar nessa lista. Ao se valer como tema o México com suas tradições, folclores e história, o filme presta uma bela homenagem à cultura do país vizinho de Estados Unidos numa época em que este vem sofrendo com a política protecionista do governo Trump, principalmente no que diz respeito aos imigrantes. Resta ver se, na premiação do dia 4 de março, essa valorização vai realmente se concretizar. Qualidade para isso, “Viva” tem sem nenhuma dúvida.