Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por data para a consulta yul brynner. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta yul brynner. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

domingo, 17 de abril de 2022

"Os Dez Mandamentos", de Cecil B. DeMille (1923) vs. "Os Dez Mandamentos", de Cecil B. DeMille (1956)




É o caso daquele técnico que tem moral no clube, já montou bons times e, anos depois, tendo vindo de bons trabalhos por aí, ganha uma infraestrutura ainda melhor do que já tinha e ainda mais investimento. Cecil B. DeMille havia feito para a Paramount, em 1923, uma adaptação da história bíblica de Moisés, projeto audacioso para a época pela grandiosidade e pelas inovações, mas naquele momento, ainda sem som e sem cor, recursos técnicos então indisponíveis. O resultado até foi bom, bastante elogiado e manteve a reputação de DeMille de ser um excelente adaptador cinematográfico para temas bíblicos. Mas aí, anos depois, com o colorido e o som à sua disposição, no cinema, o cineasta resolveu aperfeiçoar o projeto da maneira como realmente gostaria de fazer. 

E fez toda a diferença!!! As cores e o som são dois pontos de enorme acréscimo ao anterior! A cor porque, uma vez tendo a seu dispor o recurso, DeMille as explorou de maneira muito competente, com paletas vívidas, vibrantes, que impressionam o espectador e salientam as características dos ambientes, intensificando, por exemplo, a sensação de riqueza do palácio do faraó com suas roupas e adereços extravagantes, ou ressaltam a aridez do deserto, no amarelado angustiante da areia. Do som ele fez um trunfo, uma vez que seus personagens FALAM e por sinal, falam muito bem. Os diálogos são muito bons, bem elaborados, são oportunos, têm força, têm impacto e, mesmo as falas discursivas de Moisés ou a própria voz de Deus, por mais exageradas e pomposas que possam parecer, são intensas e importantes dentro do contexto do filme e de sua época. O texto ganha muito, também, por ser interpretado por um time de primeira. O diretor ganhava para essa sua segunda versão uma elenco estelar com nomes como Yul Brynner, Anne Bexter, Vincent Price e, principalmente, Charlton Heston, como Moisés, ator talhado para esse tipo de papel, já tendo aparecido com características semelhantes em filmes como "Ben-Hur", "El Cid" e "Agonia e Êxtase". Não que o antigo não tivesse grandes estrelas, Theodore Roberts, o primeiro Moisés, Julie Faye, Rod La Roque gozavam de renome e prestígio na época do cinema mudo, e Richard Dix, inclusive, seguiu com sucesso já nos filmes sonoros. Mas não tem comparação! Até porque os astros da segunda versão marcam exatamente um era de adoração e mitologia das grandes estrelas de cinema, além de entregarem atuações à altura de seus nomes.

O primeiro filme é bem mais curto em relação a seu sucessor, uma vez que, limita suas ações ao desafio de Moisés ao faraó Ramsés II para que liberasse o povo escravizado, à partida dos hebreus para o deserto perseguidos pelos soldados egípcios e, por fim, à revelação das tábuas das leis. Já o remake parte desde o resgate do bebê Moisés, numa cesta, no Rio Nilo, sua ascensão a príncipe do Egito e sua posterior renúncia à realeza ao descobrir suas origens hebraicas, sua condenação a vagar pelo deserto até a morte, a incumbência dada a ele por Deus e, aí sim, encontrando o início do primeiro filme, quando retorna ao Cairo e exige de Ramsés a libertação de seu povo sob pena de, não o atendendo, liberar terríveis pragas sobre os egípcios. 

No entanto, a primeira versão poderia ter abrangido uma parte maior da história, não fosse o fato de, na sua segunda parte, mudar bruscamente o rumo do filme. Logo após a revelação das Leis Sagradas a Moisés e seu anúncio para o povo, descobrimos que tudo aquilo que se passara, até então, no filme, fora narrado por uma mãe para seus dois filhos, nos tempos atuais (de 1923) lendo a Bíblia. Então começa outra história na segunda metade do filme: uma novelinha dramática cheia de ensinamentos morais baseados diretamente pelos Mandamentos. Legalzinho, bem feito, boa direção, a parte do desabamento da igreja, em especial, é bem impressionante, mas... o filme perde muito. 

"Os Dez Mandamentos", de 1923, até é um bom filme. Competente no que se propõe, o que não era uma tarefa fácil. Tem bons cenários, bons figurinos, um bom trabalho de câmera de DeMille e efeitos visuais muito engenhosos dadas as condições técnicas da época, mas essa mudança a partir da metade compromete bastante do produto final. É uma quebra de expectativa que frustra um pouco o espectador que fica esperando por um novo encaixe na trama bíblica, o que não acontece. Sem falar que, no geral, fica parecendo uma tentativa de reproduzir um "Intolerância" (D.W. Griffith - 1916), sem a mesma genialidade, grandiosidade de cenários e qualidade de roteiro.

Mas DeMille parece ter aprendido a lição e, se o antigão se perde na segunda parte, sua nova versão vem com o que tem de melhor depois do intervalo. Tem ciúme, vingança, intriga, tragédia, perseguição, orgia, tem cajado virando cobra, tem chuva virando fogo, água virando sangue e, é claro, tem a clássica cena de Moisés abrindo o Mar Vermelho. Um segundo-tempo de luxo do time de Charlton Heston!


"Os Dez Mandamentos" (1923) -
abertura do Mar Vermelho

"Os Dez Mandamentos" (1956) -
abertura do Mar Vermelho



Enfim, no mano a mano, o time de 1956 ganha sem maior dificuldade. 

A direção do primeiro é muito boa para sua época, mas o próprio DeMille se supera na refilmagem; a cenografia do original é excelente, mas a refeita é deslumbrante; o elenco original tinha alguns bambambans da era do cinema mudo, mas o timaço do remake é covardia; os efeitos especiais do primeiro eram impressionantes para o início do século passado, mas os do filme de 1956 levaram um Oscar. O que dizer?

A fotografia e a opção por uma paleta vibrante são um gol para o mais novo; o ganho sonoro e a composição dos diálogos valem outro; os cenários suntuosos e roupas luxuosas garantem mais um. O ataque desequilibra com a dupla de ataque Brynner e Heston. O craque dos filmes épicos passa pela defesa egípcia como se atravessasse o Mar Vermelho e faz um golaço; e, a propósito, a cena em questão, da abertura do mar, uma das mais clássicas da história do cinema, joga um banho de água fria e afunda o time de 1923. Como se não bastasse, nos acréscimos, as inscrições de Deus nas Tábuas Sagradas, apesar do foguinho meio tosco até para a época, é um verdadeiro gol de placa. 

Ao time de 1923, fica o gol de honra pela ousadia, boa intenção, competente direção, cenas difíceis bem executadas e efeitos, até, bem complexos, quando sequer eles eram bem desenvolvidos. A opção pela mudança de esquema, no segundo-tempo, no entanto, colocou qualquer pretensão do original, por água abaixo.

Moisés dá o sangue em campo, faz chover, une o grupo e garante o título de Libertadores da Judeia.

Aqui alguns pontos de comparação visual:
(à esquerda, sempre, o original)
Os cenários, já suntuosos no primeiro e ainda mais impressionantes, no segundo;
Moisés liberando as pragas diante de Ramsés II, no palácio;
a rebeldia do povo e a adoração ao bezerro de ouro;
e, por fim, Moisés, com as Leis Sagradas, nas duas versões.


O time de 1956 segue à risca os mandamentos do técnico DeMille,
que reviu seus conceitos, mudou o esquema e levou seu time à Terra Prometida.
Não levou o Mundial, que seria o Oscar de melhor filme, 
mas, como a Seleção Brasileira de 1982,
ficou eternizado pelo seu jogo bonito.




por Cly Reis

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Duelo - com Paulo Telles (2ª parte)



Seguindo com a segunda parte do duelo com o radialista, locutor, cinéfilo e blogueiro Paulo Telles num bate-papo tão apaixonado pela sétima arte quanto instrutivo. Se na primeira Telles aborda o faroeste norte-americano, destacando diretores, títulos referenciais e até sobre o papel da mulher no western, agora, ele fala um pouco mais sobre o spaghetti, a versão italiana para o gênero que não só ganhou fãs no mundo todo como, de certa forma, trouxe-lhe uma nova linguagem. Ainda, aquilo que todo cinéfilo gosta: listas. O entrevistado já sai elencando seus filmes preferidos nas duas categorias e defende com muito critério e poder analítico uma a uma de suas escolhas. Vamos, então, à segunda e última parte da entrevista:



FRANCISCO BINO:- Sei que não é fácil fazer estas coisas, mas nos faça uma lista com os dez melhores western Spaghettis de todos os tempos segundo você? E os dez melhores do cinema americano?
PAULO TELLES: E não é mesmo, prezado Bino (risos). Elaborar uma lista com apenas dez de cada estilo não é uma tarefa fácil. Entretanto, há outros títulos que também estão em minha apreciação que não se encontram aqui listadas, portanto, apresento os meus Top Ten de cada estilo do gênero:

  • AMERICANOS
1 - "RASTROS DE ÓDIO"/The Saerchers (1956) – Direção: John Ford
Foi através desta obra prima (assisti pela primeira vez em 1985, com catorze anos) que comecei a me interessar sobre cinema e tentar entendê-lo como arte. Foi a partir deste momento, que me deixei penetrar pelo mundo de John Ford e no mundo dos westerns. Não tem como você não se deixar encantar pela beleza majestosa e áspera do Monument Valley, cenário natural este preferido de Ford, e pela figura estoica de Ethan Edwards, interpretado por John Wayne. Em minha opinião, foi a melhor atuação de sua carreira, digna mesmo de um prêmio, trabalho este que rendeu até elogios do cineasta e filósofo Jean-Luc Godard, inimigo declarado de Wayne por razões políticas. “Rastros de ódio” conserva os elementos dramáticos do faroeste tradicional, por seu estilo peculiar, épico e lírico, onde o cineasta descreve a odisseia de Ethan e de seus discípulo Martin Pawley (vivido por Jeffrey Hunter) na perseguição aos comanches que raptaram a jovem Debbie (vivida por Natalie Wood), e isto tudo num relato de tensão ininterrupta e de grandeza plástica e cromática, segundo as nobres palavras do finado crítico Paulo Perdigão, ex-colunista do jornal O Globo. Recentemente, o filme foi exibido em reprise nas grandes salas do Cinemark, em sua sessão de clássicos, e assisti junto ao José Eugenio Guimarães, editor do blog Eugenio em Filmes. Mesmo sem o impacto do formato VistaVision, ainda assim valeu o ingresso.


"Rastros de Ódio", cena de abertura

2 - MATAR OU MORRER/High Noon (1952) – Direção: Fred Zinnemann
Um dos grandes westerns que estabeleceu o chamado Western Psicológico, uma alusão ao Macarthismo e a sociedade americana de então, uma das obras primas de um grande cineasta, Fred Zinnemann. Poucos sabem, mas os americanos consideram tão importante este filme que uma cópia desta obra prima foi depositada numa cápsula do tempo, que só será reaberta no ano 2213. Uma trama elevada à dimensão de tragédia grega tendo como herói o xerife Will Kane (em minha opinião o mais humanizado de todos os protagonistas no gênero, digno do título de herói) vivido por um dos atores que mais bem personificaram o mito do cowboy do oeste, Gary Cooper, em uma cruzada solitária para defender sua vida. Ele durante muitos anos cuidou de uma cidade e de seus habitantes, mas agora mesmo não estando sob a insígnia da lei, estes mesmos habitantes se recusam a ajudá-lo, pois todos temem o pistoleiro e seus comparsas que descerão no trem do meio dia para matar Kane. Um estudo acurado da consciência do herói que mesmo podendo fugir ou deixar a responsabilidade para o próximo xerife, ainda sim mantém sua dignidade para ter paz consigo mesmo. Não tem como não falar deste Western sem mencionar Grace Kelly como sua esposa quaker, e a famosa canção “Do Not Forsake Me Oh My Darling”, interpretada por Tex Ritter. Solidão, consciência, medo, e ingratidão são as temáticas principais desta obra de Zinnemann.
3 - O MATADOR/The Gunfight (1952) – Direção: Henry King
Outro grande western de base psicológica dirigida por um dos grandes artesões de Hollywood, e trazendo Gregory Peck numa das melhores atuações do gênero, Jimmy Ringo, um temível pistoleiro que quer largar as armas para viver pacificamente para a esposa e seu filho, que ainda não o conhece. Contudo, sua fama de rápido no gatilho não só atemoriza as pessoas mais pacatas, mas atrai aventureiros desocupados que o querem por à prova, o que faz com que Ringo não consiga a paz que almeja. Um estudo acurado do mito do pistoleiro, que tão logo seja afamado (ou mal afamado), outros estão dispostos a temê-lo ou a desafiá-lo.
4 - DA TERRA NASCEM OS HOMENS/The Big Country (1958) – Direção: William Wyler
Um dos melhores Westerns americanos que já assisti e por muitos, e também pudera, não tinha nada para dar errado tendo na direção um dos maiores cineastas de todos os tempos, William Wyler, que assinou grandes obras primas da Sétima Arte, como “Jezebel”, “A Princesa e o Plebeu”, “Chagas de Fogo”, e “Ben-Hur”, como também não podia dar errado tendo um elenco de primeira categoria como Gregory Peck, Jean Simmons, e Charlton Heston. Outro destaque é sua produção, com uma fotografia impecável e formato de tela panorâmica que nenhum televisor poderia enquadrar, isto é, um dos primeiros faroestes americanos em superprodução para afastar o público dos televisores, que então esvaziavam as salas de exibição. Vale lembrar também de sua mensagem pacifista, coisa rara nos filmes do gênero, já que o personagem de Peck, um almofadinha do leste, se envolve na briga de duas famílias por causa da divisão de água, mas ele acredita que poderá agradar a gregos e troianos. Muito interessante! Destaque para a briga entre Peck e Heston, que viram a noite lutando, e também para eletrizante trilha sonora de Jerome Moross.
5 - OS BRUTOS TAMBÉM AMAM/Shane (1953)- Direção: George Stevens
Era o filme preferido do crítico brasileiro Paulo Perdigão, já falecido, entretanto a meu ver ele é um conto moral sobre a redenção e a ótica de uma criança ao idealizar o perfil do herói do Oeste. O baixinho Alan Ladd é perfeito como o pistoleiro Shane, que busca a paz e quer largar as armas, mas ele não consegue quando se vê obrigado a empunha-las para defender um casal e o filho deles, que o idolatra como um verdadeiro mito. Shane chega a uma cidade como um típico “anjo purificador” ao tentar distribuir dignidade e autoconfiança para os fazendeiros amedrontados. A fábula sobre o bem e o mal e disputa entre dois é bem caracterizada no duelo final entre Ladd (Shane) e o pistoleiro Wilson, vivido pelo brilhante Jack Palance. Outro clássico do gênero recomendado para todos os amantes do Western, ou simplesmente, quem ama cinema.
6 - DUELO AO SOL/Duel in The Sun (1946) – Direção: King Vidor
Verdadeiramente um Super-Western de tirar o fôlego!!! Uma nova forma bem adulta de atrair o público igualmente adulto as salas de cinema, e produzido por David O’ Selznick, o megaprodutor responsável por outra obra prima (E O Vento Levou) e estrelando a sensual Jennifer Jones e o galante Gregory Peck, que não esta nada galante nesse filme (risos). Foi o maior êxito comercial de Selznick e que foi o apogeu do Western romanesco, no entanto, acabou criando problemas com ligas puritanas americanas pelo teor de sexualidade bem apimentada e exagerada, ao introduzir o chamado “beijo francês” no cinema americano. Além disso, a trama é basicamente uma tragédia grega, onde a mestiça vivida por Jennifer Jones tem o pai condenado à morte por ter matado sua mãe e o amante dela, e daí passará a viver com uma tia, vivida por uma dama do cinema, Lilian Gish, que é esposa de um senador, vivido pelo lendário Lionel Barrymore. Mas os dois filhos do casal se interessam pela mestiça, mas ela acaba optando pelo mais sedutor e amoral, que é Gregory Peck, que não quer nenhum compromisso, em vez do decente Joseph Cotten. De resto, é uma tragédia grega a se seguir em grandes proporções, mas no grande estilo do Western Clássico Americano.
7 - A LEI DO BRAVO/White Feather (1955) – Direção: Robert D. Webb
É um dos meus prediletos por tratar-se de um tema antirracista, e um dos faroestes mais respeitados sobre a temática indígena, cujo argumento foi redigido pelo cineasta Delmer Daves, mas dirigido por Robert D. Webb (um cineasta de menor renome, mas nem por isso menos admirado). No roteiro, Daves repetiu os mesmos ingredientes de Flechas de fogo, realizado cinco anos antes, versando a trajetória de jovem guerreiro cheyenne Cão Pequeno (vivido espetacularmente por Jeffrey Hunter) e um engenheiro bem intencionado Josh Tenner (vivido por Robert Wagner). Este tenta persuadir os índios a mudar-se para uma reserva, mas o projeto acaba prejudicado pela ganância de garimpeiros. A obra caminha para uma sequência final que eu mais admiro - o confronto do solitário de Cão Pequeno, que se recusa a mudar de sua reserva, contra as tropas da União. Destaque para a bela Debra Paget, praticamente a repetir seu papel em Flechas de Fogo, como a irmã de Cão Pequeno e interesse romântico do herói vivido por Wagner. Recomendo.
Poster de "A Face Oculta, de Brando
8 - A FACE OCULTA/One-Eyed Jacks (1961) – Direção: Marlon Brando 
Outro Western em superprodução que está em minha apreciação onde se tem o registro da única experiência de Marlon Brando como diretor. Muitos apreciam "O Poderoso Chefão" como o melhor filme de Brando, mas contesto um pouco isso, tendo em vista este excêntrico trabalho do gênero onde o ator investiu cinco milhões de dólares, em dois anos de trabalho. Foi uma produção tumultuada (era para Stanley Kubrick dirigir), e das 35 horas de filme impresso, Brando selecionou material para cinco horas de filme, que acabou sendo reduzido para 2h e 21 minutos de filme. Era para ter sido o Western de maior duração da história se Brando não fosse obrigado a reeditar sua duração. Além disso, tramas ligadas sobre a vingança me fascinam, assim como a dualidade do caráter do ser humano quando se aplica no personagem vivido por Karl Malden. Malden é bandido assaltante de bancos como Brando, e acaba traindo este, seu melhor amigo, que passa cinco anos na prisão e jura vingança por todos os anos que ficou no presídio, e quando finalmente o reencontra, ele é um homem mudado, xerife de uma cidade, e respeitado pelo povo. A questão fica se ele mudou moralmente ou isso não passa de uma fachada. Brando sempre alegou que seu Western era um “assalto frontal ao tempo dos clichês”.
9 - OS PROFISSIONAIS/The Professionals (1966) – Direção: Richard Brooks
Revisitado por mim faz pouco tempo, não há a menor dúvida que esta obra de Brooks foi uma resposta americana (uma das primeiras) para o Western italiano que já invadia as salas de exibição, e também não foi pra menos, pois importaram até a beleza italiana dos deuses Claudia Cardinale para se juntar as feras do cinema americano, como Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, e o ator negro Woody Strode, este excelente, mas infelizmente pouco valorizado. Um ótimo exemplar de tenacidade e tensão, cuja trama vai adquirindo colorações políticas e éticas inesperadas, mas com extraordinário espírito de aventura como jamais vista no gênero americano. Destaque para a fotografia e para sua trilha sonora, de Maurice Jarre.
10 - MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA/The Wild Bunch (1969) – Direção: Sam Peckinpah
O “clímax dos clímax” do gênero, como eu defino. Para os amantes de cinema, e, sobretudo, do gênero que estamos debatendo, é a obra clímax da estilização da violência, coreografada de forma ritualística em câmera lenta, evocando um Oeste sujo e selvagem, sem qualquer idealismo romântico e lenda áurea dos mitos, com personagens decadentes, anacrônicos, e desglamourizados. Causou polêmica de fato, o que retardou o reconhecimento de Sam Peckinpah como um dos grandes cineastas do gênero, pois acabou sendo cortados 56 minutos de sua metragem original, o que provocou protestos do diretor e até mesmo por parte da crítica, que não estava ainda acostumada com este excesso da violência nos filmes. Outrora os ídolos do cinema americano, William Holden, Ernest Borgnine, e Robert Ryan, três fantásticos atores (principalmente o terceiro, que atuou em Hollywood sempre com muita competência e profissionalismo, sendo um dos meus atores preferidos) estão soberbos e maravilhosos em seus papéis, arquétipos do declínio e de toda decadência, que de uma maneira ou outra, desgraçadamente se empenham em aventurar num último golpe de suas malditas vidas. Vale também destacar a bela fotografia de Lucien Ballard.



  • ITALIANOS/EUROPEUS
1 - TRÊS HOMENS EM CONFLITO/Il buono, il brutto, il cattivo (1966) – Direção: Sergio Leone
Foi o primeiro faroeste italiano a me chamar a atenção justamente devido a falta de romancismo, idealismo, lirismo, e todo tipo de folclore tão comumente acostumado nos faroestes americanos. Propositalmente, o grande Sergio Leone soube o que fez ao retratar o Velho Oeste do jeito que fosse condizer com os fatos, e descartando mitos. A ganância e o individualismo exacerbado, pessoas querendo se dar bem à custa de outras, são características bem acentuadas nas obras deste grande cineasta, como vemos neste exemplar, revelando ao mundo um novo tipo de cowboy, o mais distante possível de John Wayne, Gary Cooper, ou Randolph Scott, e seu nome é um mito vivo – o americano Clint Eastwood. Junto a Lee Van Cleef e Eli Wallach (maravilhoso como Tuco, o feio), formam um triunvirato de trapaças e aventuras desmedidas, onde ao fim, o duelo a três é inevitável.
2 -  DJANGO/Django (1966) – Direção: Sergio Corbucci
Outra obra prima que ajudou a consolidar o faroeste italiano na minha preferência. O mundo se rendeu a um novo ídolo do Western europeu, e desta vez um genuíno italiano chamado Franco Nero, um dos meus atores favoritos do gênero. Não há como não se impressionar com uma figura calada e de toda de negro chegando a uma pequena cidade carregando um caixão. Uma cidade dominada pelo terror da famigerada Ku Klux Klan que para dominar o poder enfrenta bandidos mexicanos, e o estranho Django está no meio de tudo isso para salvar a vida de uma estranha mulher, por quem se apaixona ao seu modo. Corbucci dá a esta obra uma carga explosiva acentuada, realçada pela antológica trilha sonora de Luis Bacalov.
3 - O DIA DA DESFORRA/La Resa dei Conti (1967) – Direção: Sergio Sollima
Outro exemplar à italiana do gênero que é um exercício psicológico de tensão, mas mantendo as características do legítimo padrão do western italiano, trazendo o americano Lee Van Cleef como um caçador de bandidos da elite que persegue um mexicano (vivido pelo italiano Thomas Millan) acusado de violentar e matar uma menina. Contudo após vários reveses, em que o caçador tem o seu orgulho ferido devido à esperteza do mexicano, ele descobre que na verdade ele é inocente, vitima de inescrupulosos da alta roda em que o caçador vivido por Cleef faz parte, e por isso ele resolve ajudar o mexicano. Um dos melhores e mais expressivos filmes do Western europeu, dirigido por um Sergio, mas que não é o Leone.

O "O Dólar Furado",
dos favoritos
do faroeste spaghetti
4 - O DÓLAR FURADO/Uno Dollaro Bucato (1965) – Direção: Giorgio Ferroni
Giuliano Gemma é outro dos meus heróis do gênero à italiana, e este filme, ainda que embora tenha alguns clichês do Western americano, ainda assim vale o espetáculo, que como “Django”, de Corbucci, ajudou a impulsionar a moda do bang bang a italiana. Impressionante como uma moeda de um dólar no bolso acaba salvando a sua vida após ser abatido pelos inimigos, e como se fosse Ullysses da “Odisseia” de Homero, volta para se vingar dos homens que tentaram matá-lo, tiraram a vida de seu irmão, e raptaram sua mulher. “O Dólar Furado” é outra obra prima do gênero que ajudou no impulso do faroeste italiano.
5 - OS QUATRO MALDITOS/Los Cuetro Implacables (1965) – Direção: Primo Zeglio
Não chega a ser um clássico do gênero italiano, mas meus motivos para listá-lo são mais puramente afetivos, pois foi um dos primeiros assistidos por mim ainda na infância, e em ter como herói aqui Adam West, que no ano seguinte emplacaria como o mais famoso Batman da TV. O cowboy aqui vivido por West é quase limpinho, briga adoidado, mas a trama sobre um agente da lei (vivido por West) que tentar impedir que quatro bandoleiros (daí o título de “Quatro Malditos”, ou no original, “Os Quatro Implacáveis”) recebam a recompensa por terem capturado e matado um fugitivo da justiça que era inocente não deixa de ser de toda interessante e é uma história bem ritmada. Como não deixarão barato, os “quatro malditos” emboscam o agente da lei, e este, terá que lutar por sua vida.
6 - POR UNS DÓLARES A MAIS/Per un pugno di dollar (1964) – Direção: Sergio Leone
Leone parte com tudo nesta obra desmistificadora dos mitos laureados do Velho Oeste. A ganância, o individualismo, o dinheiro, surgindo a figura do 'caçador de recompensas', tão enormemente explorado em outros filmes, contudo sem tanta convicção e realidade como expõe Leone. Embora sem muitas afinidades, os personagens de Clint Eastwood e Lee Van Cleef, por motivos diferentes, acabam esquecendo suas diferenças e se unindo para enfrentar a quadrilha de Gian Maria Volonté, com a intenção de dividir a recompensa por eles oferecida pela Lei. Outra obra merecedora de destaque entre os grandes clássicos do gênero spaghetti de se fazer Western.
7 - ERA UMA VEZ NO OESTE/C'era una volta il West (1968) – Direção: Sergio Leone
Outro exemplar, talvez o mais popular, onde se seguiu toda a Trilogia de Leone (“Por um punhado de Dólares”, “Por uns Dólares a Mais” e “Três Homens em Conflito”). Vale destacar que o roteiro foi escrito por Leone com colaboração de Bernardo Bertolucci, com leves reminiscências do clássico americano “Johnny Guitar”, de Nicholas Ray (1954). Foi uma febre ao ser lançado nos nossos cinemas em 1971, mas infelizmente com cópias de 144 minutos devido à censura (a metragem original aos propósitos do cineasta foi de 229, sendo reduzidas umas para 137, e outras com 165 minutos, a versão apresentada no mercado de vídeo hoje). Uma trama com muito sangue e sem qualquer moral, uma verdadeira crítica à mitologia do Oeste em vez do antigo glamour dos faroestes americanos, retratando a passagem de pioneiros para os tempos da civilização com a chegada dos trilhos das ferrovias. Parece um paradoxo ao vermos Henry Fonda, outrora um representante da mitologia clássica do Western Americano, o típico mocinho das telas, na pele de um malfeitor sujo e cínico como Frank. Não foi a toa que Leone escolheu Fonda, pois era um assíduo admirador deste ator. Charles Bronson na pele de um pistoleiro, Harmônica (porque sempre toca esta gaita quando esta prestes a matar), que busca vingança contra Frank, que matou seu irmão, se destaca pelo caráter lacônico, de quase poucas falas, e de muito suspense de seu personagem, assumindo uma atitude quase parecida com a de Sterling Hayden em “Johnny Guitar”, quando protege a viúva Jill Mcbain, vivida por Claudia Cardinale. Mais do que uma superprodução, é um Super-Western, acabando por se consagrar como um dos exercícios mais ousados do cineasta Sérgio Leone.


"Era Uma Vez no Oeste", sequencia inicial

9 - CAÇADA AO PISTOLEIRO/Un minuto per pregare, un instante per morire (1968) – Direção: Franco Giraldi
Um Western italiano cheio de tensão, com argumento freudiano à dimensão de tragédia grega, mas não deixando de ser extremamente violento e desmistificador. Trata-se da história do pistoleiro Clay McCord (vivido por Alex Cord), temido e odiado por muitos, que tem sua cabeça a prêmio oferecido por um delegado corrupto de uma cidade (vivido pelo ótimo Arthur Kennedy). Contudo, o delegado age fora da lei e vem a intervir Lem Carter (o sempre brilhante Robert Ryan), governador do Novo México, que oferece uma anistia ao pistoleiro, contudo alguns aventureiros não querem saber e tentam emboscar McCord, que ainda enfrenta outro problema – ele tem momentos de ataque epilético, e carrega o trauma pelo pai também ter tido esse mesmo problema. Embora os atores principais sejam americanos, o filme ainda conta com as presenças italianas de Nicoletta Machiavelli, e do ator Mario Brega. Está entre meus colecionáveis.
10 - ADIOS SABATA/Indio Black, sai che ti dico: Sei un gran figlio di... (1970) – Direção: Gianfranco Parolini
Como não podia deixar de serem ao estilo italiano, trapaças, aventureiros sujos, e todo mundo querendo se dar bem. É assim que funciona esta obra de Parolini, tendo como anti-herói o aventureiro Sabata (na verdade, Indio Black no original), vivido pelo excelente Yul Brynner, aqui ainda um tanto limpinho e barbeado como foi em Sete Homens e Um Destino, em 1960. Sabata é um caçador de bandidos que se junta a um vigarista, Ballantine (vivido por Dean Reed) e ao engraçado e cínico revolucionário, o gordo Escudo (vivido por Ignazio Spalla) para combater as forças do Imperador do México Maximiliano, e se apoderar de um carregamento de ouro. Contudo, esta união de forças tem objetivos diversos. O destaque fica em algumas situações engraçadas, quando o ladrão Ballantine tenta enganar seus associados. Vale também a pena assistir “Sabata, O Homem que Veio Para Matar” (que não tem a ver com o filme estrelado por Brynner, apesar do mesmo nome do protagonista), estrelado por Lee Van Cleef, onde se apresentam as mesmas situações humorísticas quando se trata de bandido enganar o outro, afinal, quem disse que existe honra entre ladrões?

B: Quais você acha que são os western mais subestimados de todos os tempos?
PT: Acentuo uma obra fordiana intitulada “Audazes e Malditos”, de 1960, que trata da questão do racismo. Pela primeira vez, o Mestre John Ford desenvolveu uma mensagem antirracista em um tom bem eloquente que chega a ser comovedor, tendo como pano de fundo o ano de 1866, quando negros recém-libertados passam a integrar regimentos de cavalarias comandados por oficiais brancos. Um deles, um notável sargento vivido pelo brilhante Woody Strode, é acusado de um crime que ele não cometeu, sendo levado à corte marcial por preconceito racial. Mas ele é defendido por seu superior, vivido por Jeffrey Hunter. O relato do filme (sempre reconstituindo os fatos em flashbacks) é tenso, épico, e de uma solene dramática indescritível, que só um brilhante cineasta como Ford poderia conceber, mas eu pessoalmente considero um de seus melhores trabalhos junto às outras obras de requinte maior do diretor. Também “A Árvore dos Enforcados”, dirigido por outro grande artesão dos westerns, Delmer Daves em 1959, acredito um tanto subestimada por alguns críticos, entretanto não poderia ter um protagonista mais humano em todos os aspectos do que o médico Joe Frail, vivido por Gary Cooper em uma de suas últimas atuações. Amargo, malquisto, cínico, mas ao mesmo tempo, não isento inteiramente de altruísmo, procura esquecer um trauma do passado e tenta continuar a vida. Mas ele percebe que nem tudo esta perdido, pois se renderá ao amor de uma imigrante suíça que acaba salvando sua vida, vivida pela Maria Schell. Vale destacar a bela canção interpretada por Marty Robbins. Outro western, desta vez europeu, que acho muito subestimado é “Os bravos não se rendem”, dirigido por Robert Siodmak e Irving Lerner, que conta a trajetória do General Custer de maneira realista e desmistificadora (nada a ver com o herói pintado por Raoul Walsh no clássico “O Intrépido General Custer”, com Errol Flynn, em 1945). Robert Shaw esta perfeito como o famigerado militar em sua sede de glória, e a famosa batalha de Little Big Horn. Contudo é um dos trabalhos menos badalados (mesmo com uma bela trilha sonora), visto a índole verdadeira e descaracterizante do personagem, o que pode não agradar a todos.

B: Sam Peckinpah e Robert Altman foram meio que marginalizados por Hollywood. Mesmo com poucos filmes sobre o tema western eles impactaram a estética do gênero para sempre. Wild Bunch e Quando os Homens são Homens, são exemplos claros disso. Que grande contribuição foi essa? E que outros diretores após essa geração conseguiram essa façanha?
O genial Altman, um dos diretores que mudaram o western
PT: Conheço pouco o trabalho de Altman no gênero, com exceção do “Oeste Selvagem”, estrelado por Paul Newman, em 1976. Entretanto, posso adiantar que ambos os cineastas são oriundos da televisão e dirigiram trabalhos gratificantes no gênero para a telinha. Peckinpah chegou a dirigir episódios de “O Homem do Rifle” (com Chuck Connors) e “Paladino do Oeste” (com Richard Boone), e Altman episódios da série “Bonanza” e “Lawman. Acredito que a questão da marginalização destes cineastas é que ambos foram sinceros demais em suas obras, sem rodeios. Peckinpah recorreu à violência em “Meu ódio Será Sua Herança”, de 1969, e a partir daí, não foi só no gênero western que se viu esta apelação do diretor que é consagrado como o “Poeta da Violência”. Basta acessarmos seus outros ótimos trabalhos como "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia" (1974) e "Sob o Domínio do Medo" (1972), que poderemos ver também esta exaltação. Quanto a Altman, como vi “Oeste Selvagem”, senti a desmistificação de uma lenda, no caso Buffalo Bill, e grande parte dos produtores embora saibam que as lendas e mitos não correspondem à verdade, ainda assim preferem que as lendas sejam impressas. Hollywood durante anos promoveu isso em seus westerns, e mesmo com o desenrolar das mudanças graças aos faroestes italianos, a indústria de cinema não parecia apoiar esta descaracterização dos mitos tão amados pelo folclore americano. Contudo, a grande contribuição destes dois mestres foi tentarem fazer um novo estilo de western, sem exaltação de mitos ou heróis, sem áura romântica, propondo para as plateias mundiais que o Velho Oeste também pode ser interessante se analisarmos seus personagens e o meio social em que viveram. Acredito que Lawrence Kasdam (que realizou em 1985 o ótimo “Silverado”), que também realizou pouquíssimos trabalhos no gênero (o último, “Wyatt Earp”, de 1994, com Kevin Costner, que foi um fracasso), e atualmente Tarantino, vem conseguindo esta proeza de impactar a estética, e por que não dizer, imortalizar o gênero.

B: Sabemos que ainda existem produções western tanto nos EUA quanto na Europa. Mesmo com Tarantino e outros diretores fazendo western a sua maneira e em forma de homenagem, podemos afirmar que esse gênero morreu ou ainda vai ressuscitar em uma grande e genial produção?
PT: Acredito que, na verdade, o western nunca morreu. Naturalmente as produções de hoje são em menor escala, e não como era a mais de 50 ou 60 anos atrás, época rica em criatividade e em franca produção, onde tínhamos cineastas brilhantes como John Ford, Raoul Walsh, Howard Hawks, Anthony Mann, Delmer Daves e claro, incluindo Peckinpah, Leone e outros mais. Mas de uma forma ou de outra, o faroeste está vivo, só esta adormecido enquanto um cineasta fera como Tarantino ou como Clint Eastwood, a lenda viva, não rodarem novos trabalhos no gênero (será que Clint pensaria em rodar um novo faroeste? Seria genial!). E enquanto isso, também, novas produções são realizadas pela TV americana ou mesmo para o cinema sem sabermos. Mas uma coisa é certa: este gênero estritamente americano também batizado pelos italianos não morreu e nem morrerá tão cedo se depender de cada fã e espectador como nós para divulgar, apreciar e assistir. Podem acreditar!

B: Quais filmes western merecem destaque a partir dos anos 80 até hoje, nos faça uma lista de alguns que são pouco conhecidos?
Willie Nelson em
"Justiça para um bravo"
PT: Não estou muito a par das novidades em matéria de western nos últimos tempos, mesmo porque sigo um esquema eclético focalizando em geral o cinema antigo e todos os seus gêneros, mas naturalmente, o western tem um espaço com todo carinho dedicado. Entretanto, posso acentuar alguns trabalhos do faroeste já tanto esquecidos na metade dos anos de 1980, como “De Volta ao Oeste” (Once Upon a Texas Train”), de 1986, para a TV, dirigido por um dos grandes especialistas do gênero, Burt Kennedy, e trazendo Richard Widmark (um notório Man Of The West de primeira), Angie Dickinson, e o cantor Willie Nelson, além de contar com presenças conhecidas como Chuck Connors, Stuart Whitman, Jack Elam, Ken Curtis, Dub Taylor. No ano seguinte, o mesmo Willie Nelson foi o protagonista de “Justiça para um Bravo” (“Red Headed Stranger”), também realizado para a TV, onde contou com as presenças da bela Katharine Ross (de “Butch Cassidy”) e do excelente Royal Dano (cujo seu melhor papel de destaque foi no western “Irmão contra Irmão”, dirigido por Robert Parrish, em 1958). Vale destacar também por esse período “O Álamo, 13 dias de Glória”, de 1987, que retrata a batalha do Álamo com mais fidelidade do que a versão patriótica apresentada por John Wayne, em 1960, onde James Arness (da série de TV Gunsmoke), interpreta Jim Bowie, Brian Keith como Davy Crockett, Lorne Greene como Sam Huston (em seu último desempenho), e o inesquecível Raul Julia como o general Santana. Em 1995, Jeff Bridges interpretou o temível Wild Bil Hickcok na produção “Uma Lenda do Oeste”, dirigida por Walter Hill, onde conta a trajetória fidedigna de uma lenda, o mais distante possível de Gary Cooper na produção “Jornadas Heroicas”, de 1936, dirigida por DeMille. Dos mais recentes que acredito que são ainda menos conhecidos, vale destacar “Inferno no Faroeste”, de 2013, sob a direção de Roel Reiné, onde estrelam Mickey Rourke e Danny Trejo. Parece-me que este western não chegou as nossas salas de exibição.

B: Há um tempo eu soube que Clint Eastwood escreveu uma carta a John Wayne pedindo a ele para fazerem um filme juntos. Isso não aconteceu é claro. Caso acontecesse essa produção seria ímpar e juntaria definitivamente os dois maiores ícones do western. Um de cada estilo. E se no final do filme houvesse um duelo entre a dupla, quem venceria?
Wayne e Clint,
o tão esperado duelo que nunca aconteceu
PT: Vixe, nem ouso te responder com segurança a esta pergunta sem levar uma bala perdida (risos). Uma parada dura já que ambos são dois gigantes do mesmo gênero, mas com estilos diferentes e épocas diferentes. O mais engraçado é que, em 1989, dez anos após a morte de Wayne, uma pesquisa realizada por uma revista de cinema apontou Clint Eastwood como o novo sucessor de John Wayne. No entanto, Clint, apesar de admirar o bom e velho Duke, jamais quis se comparar a ele ou sequer substituir John Wayne. Clint tinha como modelo para o gênero o ator Gregory Peck, do qual considera sua melhor atuação em “O Matador (“The Gunfighter”). As performances vindas de Clint para compor seus durões nos westerns, segundo ele, se inspiravam em Gregory nesta obra dirigida por Henry King em 1951. É fato (e não fita) que Clint enviou uma carta para o veterano Duke, propondo que fizessem um filme juntos. Já pensou, Bino? Dois gigantes do gênero que talvez pudesse precisar de duas telas do formato VistaVision para compor tamanho encontro! (risos). Entretanto, Wayne, que vira “O Estranho Sem Nome”, a obra de Clint dirigida em 1973, não gostou nem um pouco do estilo revisionista e violento deste western. Para Wayne, já foi difícil filmar "Bravura Indômita", em 1969, tendo que se reinventar um pouco e quase recusou o papel que deu a ele seu único Oscar como ator. Mas o gênero estava se desenvolvendo bem rápido, e os faroestes estrelados por Wayne em épocas anteriores já ficavam obsoletos para os novos padrões. Entretanto, Duke não só recusou o convite como também aproveitou para criticar o trabalho de Clint Eastwood, que não lhe deu ouvidos. A parceria não aconteceu e o maior prejudicado foi o público, ou, quem sabe, o próprio Wayne. Portanto, por mais que eu adore John Wayne, acho que Clint sacaria primeiro, ou quem sabe, por alguma "providência", um empate técnico? (risos)

B: Para finalizar, uma pergunta que será símbolo de todos os "Duelos" com entrevistados: descreva você num grande filme?
PT:Meu Ódio Será Sua Herança”. Não que eu seja o “arquétipo da decadência” como os protagonistas da obra de Peckinpah, que queriam realizar o último trabalho de suas vidas antes de se “aposentarem”, mas eu sempre procuro investir nos negócios ou em qualquer situação da minha vida como se fosse dar também o meu “último golpe”, ou concretizar meu “último trabalho”. Isso não quer dizer, literalmente, que seja o último, mas quando desejamos alcançar certos objetivos na vida com sucesso fica a lição que devemos fazer o melhor do nosso melhor em todos os nossos empreendimentos como se fosse o último. Os homens de Pike Bishop (William Holden) não desistiram, e mesmo com o resultado que obtiveram no final, eles foram determinados, e nós também não devemos desistir, mesmo que nos sintamos decaídos em algum momento de nossas vidas. Assim, me descrevo em “The Wild Bunch”!


"Meu Ódio Será Sua Herança"



sábado, 30 de maio de 2015

Steve McQueen: O maior "filho da mãe" do cinema




McQueen pilotando de verdade o Mustang em "Bullit"
Ele foi o maior “filho da mãe” que já existiu no cinema. Steve McQueen era várias pessoas numa só. Honesto, desonesto, amável, odioso, modesto, presunçoso, inteligente, maduro, infantil. Era capaz de jurar amor eterno à esposa e ter um caso logo a seguir. Era desatento com os amigos, mas extremamente generoso com estranhos. Falava sobre os perigos das drogas, mas não conseguia evitá-las. Os paradoxos eram fascinantes em Steve McQueen, que era o derradeiro paradoxo. Sua complexidade era tão grande assim como a lista de mulheres que ele levou para cama. O ator sempre foi tido como uma pessoa difícil e competitiva, mas ao mesmo tempo de uma intensidade e generosidade humana enorme. Buscou autenticidade em todos os seus papéis no cinema, desde pilotar ele mesmo os carros e motos nas perseguições de “Bullit”, “Le Mans” e “Fugindo do Inferno”, a cortar o cano de uma arma para ser mais autêntico ou mesmo desafiar Yul Brynner com as técnicas de Lee Strasberg no set de “Sete Homens e um Destino”.
Colecionou carros, aviões e motos, teve mais de 100, assim como mulheres, das quais teve bem mais. Era um grande “come quieto”: roubou Ali Mcgraw de Robert Evans nas filmagens de “The Getaway“, de Sam Peckinpah, em 1972. Evans o odiou para sempre. Não poupou as esposas e namoradas de outros atores, produtores e diretores. Mas nunca cedeu às investidas de Natalie Wood por ser grande amigo de Robert Wagner. Semeava a discórdia e inveja por onde passava. Parte dos atores hollywoodianos o detestavam e quase nunca o indicavam para prêmio algum. Não foi nomeado ao Oscar por “Papillon” (recebeu apenas uma nomeação na vida), o maior papel de sua carreira e, quando foi indicado ao Globo de Ouro, pediu que enviassem o prêmio pelo correio.
Com Ali McGraw em "The Getaway",
um de seus inúmeros casos amorosos
Seu maior rival no cinema foi Paul Newman. Chegaram a brigar para ver quem teria o nome em maior destaque no cartaz de “Inferno na Torre”. Assim também foi com Brynner, Faye Dunaway e Dustin Hoffman, a quem ele dava conselhos não muito bem aceitos pelo colega de “Papillon”. Mas foi Bruce Lee, seu grande amigo e professor, quem mais o invejou na vida. Chegaram a discutir por cartas para ver quem era o mais famoso. McQueen dizia que ele queria ser o McQueen da Ásia. Já com James Coburn e Robert Wagner existia uma admiração mútua e grande amizade.
A rebeldia do “King of Cool” era fruto de um lar violento e do pai que ele não conheceu segundo alguns amigos. Isso fez com que ele fosse para um reformatório na juventude e depois saísse na busca de um sucesso que, por fim, ele considerou efêmero. No início da carreira, o ator fez muitos filmes por dinheiro e depois acabou repudiando e criticando o sistema de Hollywood. Recusou ofertas milionárias de filmes como “Apocalypse Now”, “Dirty Harry” e “Operação França” e optou por fazer as suas escolhas. Muitas delas em produções duvidosas e de fracassos comerciais anunciados, Mesmo assim, seu legado para filmes que envolvem ação e perseguições é considerado enorme até hoje. Como esquecer a cena de “Bullit” em que McQueen fez sua própria pilotagem, neste que foi o primeiro filme com som ao vivo da história (sim, sem usar nada de sonoridade adicional!), ou ele de novo se aventurando a pilotar uma moto Triumph em “Fugindo do Inferno”, tudo porque os pilotos alemães eram lentos demais. O cara era de Indianápolis, tudo explicado.
A rara última foto do ator
antes de morrer, em 1980
Em 1980, o ator foi diagnosticado com um câncer raro de pulmão. Neste ano ele filmaria “The Hunter”, seu último filme. McQueen saiu em busca da cura e foi ao México. Tentou todas as formas alternativas para conter a doença: dietas, ervas, curas holísticas, etc. Mas nada foi eficiente e o câncer se alastrou. Ele dizia que estava nas mãos de Deus e que o divino já tinha sido generoso antes, pois há anos atrás o ator tinha sido convidado para o jantar na casa de Roman Polanski na noite em que os Manson fizeram a chacina que matou a atriz Sharon Tate e mais quatro pessoas. Ele teria ligado a ela e desistido na última hora. Mesmo assim, nada foi suficiente. Em novembro de 1980, ele sucumbiria aos 50 anos de uma vida breve mas cheia de intensidade e brilhantismo a uma doença causada pelo contato com amianto. Martin Landau disse certa vez: “Sei que poucos vão chorar por este ‘filho da mãe’, mas entre 2 mil atores da audição histórica de Lee Strasberg, só eu e eles passamos, entende, só eu e ele, ele era um ‘filho da mãe’ e tanto".
Depois de sua morte, soube-se que McQueen em seus anos de reclusão visitava em segredo entidades sociais e doava milhões a lares de crianças e idosos. Em um destes lares sentado ao chão ao lado de um menino, ele disse com lágrimas nos olhos: "Aqui é muito difícil, lá fora também é, a vida não é como nos filmes, mas jamais percam seus sonhos e suas esperanças, tio Steve sempre estará aqui”. E assim foi.