A invasão árabe na península ibérica e principalmente na maragateria, seria uma outra versão para a vinda da vestimenta a nossa América do Sul. Pois muitos dos costumes e indumentárias dos gaúchos foram trazidos pelos imigrantes destas regiões espanholas que habitaram Uruguai, Argentina e fronteira do Rio Grande do Sul, inclusive o termo bombacha provém do espanhol, “bombacho” ou “vanvacho” que significa "calça larga". Quando os mouros ou árabes foram expulsos pelos espanhóis, a nobreza resolveu banir tudo que podia ser conotado como imposição cultural de seus invasores, a vestimenta sumiu da península, assim como muitos de seus habitantes que imigraram para outros países.
Em 1803 Napoleão resolveu invadir o Egito, e logo sofreu duras derrotas em sua cavalaria que era considerada uma arma letal, o exército inimigo todo composto por mouros era mais ágil em combate, suas cargas rápidas e com longas “cimitarras” faziam tremer os soldados de Bonaparte, mas como grande estrategista que era, ele observou os cavalarianos mouros e descobriu que o erro estava em seus soldados que usavam uniformes muito apertados ao corpo o que os deixava sem agilidade frente aos árabes e suas largas Bombachas, estas davam uma destreza sem tamanho ao cavaleiro que levava sempre vantagem nas batalhas. Após retornar a Europa, Napoleão exigiu que toda sua cavalaria e guarda de honra passasse a usar a “Bombacha Moura”, que era também utilizada usada por turcos, afegãos, cossacos, indianos e russos.
A Guerra da Criméia foi uma disputa total por mercados e uma contenção a expansão do Império Russo pelos ingleses, franceses, turcos e aliados na região dos Balcãs, esta região tinha uma saída comercial para o Mar Negro e Mediterrâneo. Os ingleses donos de uma grande indústria têxtil ficaram com a responsabilidade do confeccionar os uniformes para os turcos seus aliados na guerra, uma grande quantia foi encomendada, os russos também usavam o mesmo tipo de uniforme militar e o que facilitou com que muitos espiões fossem introduzidos atrás das linhas inimigas com os bloomers que eram usados em ambos os lados, nome dado pelos ingleses a esta roupa em homenagem a uma feminista americana que usava calças largas, os árabes a chamavam de “Sarawil”. Em 30 de março de 1856 a guerra terminava com um tratado de paz que nunca foi bem aceito por ambos os lados. As tropas das colônias francesas e os zuavos que eram os soldados que mais utilizavam o uniforme, tiveram importante papel nos combates mas os ingleses que previam uma larga duração iriam arcar com prejuízos enormes em sua indústria de roupas, pois com o fim das hostilidades muitos mercados fecharam e a saída para o excedente era uma só, a America do Sul.
A guerra da Criméia tinha desgastado economicamente a Inglaterra e trancado algumas de suas saídas comerciais e na América do Sul um pequeno país de língua Guarany e espanhola começava a surgir como uma grande potência independente, ameaçando aquilo que podia ser um novo mercado. Além das sobras de uniformes da guerra que seriam vendidas aos países do rio da prata, a Inglaterra tinha planos futuros bem mais belicosos, logo sua conspiração comercial ia colocar uma Tríplice Aliança em Guerra contra uns país que era um modelo econômico mundial e mais uma vez a bombacha estaria lá peleando, desta vez em um genocídio a serviço do reino inglês e outros interesses locais.
Por volta de 1860 navios ingleses chegavam carregados de roupas e outros materiais vendidos a América pelo rio da prata, o gaúcho ainda utilizava o chiripá como vestimenta e nas lidas de campo, os habitantes mais ricos tinham por costume usar roupas copiadas da corte europeia, logo a bombacha seria comum entre ambos e substituiria o chiripá, muito por facilitar a montaria no cavalo, mas ainda levaria algum tempo. Em relação à data da chegada do vestuário alguns historiadores divergem, há relatos de seu uso no prata desde 1842, porém sua origem árabe não é contestada. A primeira fábrica de Bombachas foi na Argentina em 1870, de um vasco chamado Juan Etchegaray que também fazia alpargatas e logo também ia confeccionar estes artigos para a Guerra do Paraguay.
Algum tempo após a chegada da indumentária, exatamente em 1864 o Paraguay invadiu o Mato Grosso, os exércitos da Argentina, Uruguay e Brasil apoiados secretamente pela Inglaterra se uniriam no combate contra a nação Guarany. Diversas unidades militares foram criadas para ir à guerra, homens de todas as idades e nacionalidades serviam como voluntários, muitos vindos do campo e da cidade, eles se incorporariam a luta por seus patrões, coronéis e caudilhos militares, dentre todos estes, um grupo de negros livres e alforriados baianos seriam os primeiros a usar de forma militar a Bombacha na América do Sul. O regimento era composto por quatro unidades de soldados negros e ficaria conhecido como Zuavo Bahiano, era uma homenagem aos combatentes da Criméia. A peça de roupa depois também seria utilizada nas Montoneras Argentinas, passando pelas lutas entre Blancos e Colorados no Uruguay, até a Revolução Federalista em 1893 e a de 1923 no Rio Grande do Sul.
Um dos maiores relatos sobre o uso desta vestimenta na Guerra do Paraguay foi deixado pelo General Dionisio Cerqueira em seu diário de campo; "Fui visitar os acampamentos dos recém chegados e encontrei amigos, colegas de colégio, que vinham partilhar nossa vida honrosa. Havia entre os voluntários, um corpo de uniforme estranho; - "largas bombachas vermelhas prêsas por polainas que chegavam à curva da perna, jaqueta azul, aberta, com bordados de trança amarela, guarda-peito do mesmo pano, o pescoço limpo sem colarinho nem gravata e um fêz na cabeça. Eram todos negros e chamavam - Zuavos baianos. Os oficiais também eram negros".
Após o fim da Guerra e com a vitória da tríplice aliança e a destruição genocida do povo Paraguayo, as nações envolvidas que tiveram contatos entre si trouxeram suas influências, uma delas foi a bombacha que acabou sendo aderida dos Zuavos Bahianos pelas tropas de cavalarias da tríplice, tanto na guerra como depois dela. Ao voltarem as suas pátrias o homem do campo passou a utilizar definitivamente a “peça” em substituição ao Chiripá, naquela época os ricos estancieiros não aceitavam esta “moda”, pois ainda era considerada roupa de galpão ou de gaúcho, falando no modo pejorativo.
O certo que é bombacha cruzou o tempo, passou por guerras, foi mercadoria, viu continentes e seus homens sangrarem e ao mesmo tempo compartilharem uma cuida de mate ou um jogo de osso, uma carreira, foi vestimenta de baile e de galpão, teve a difícil missão de vestir por uma época este personagem de patriadas, payadas, historias e estórias chamado gaúcho platino. Em Paris há um monumento aos zuavos na Praça Alma, nome de uma batalha vencida pelos berberes e ingleses na Criméia, por ironia do destino a Inglesa mais famosa do mundo morreu ali perto, a Princesa Diana. A estátua mede cerca de 6 metros de altura e fica embaixo da ponte, muitas vezes imperceptível ao olho de quem passa, nem para foto turística ela serve, de cima desta ponte temos uma visão garbosa da Torre Eiffel, mas o monumento nem aparece, fica ali escondido, meio sorrateiro. Atualmente os franceses a utilizam somente para medir o volume de água do Rio Sena, esta foi a forma mais original encontrada por este povo para homenagear e agradecer a seus colonizados e aos serviços prestados por eles. Que não façamos o mesmo com nosso gaúcho.
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